Tango, política e uma paixão perigosa no novo romance de Pérez-Reverte

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O escritor espanhol está a desvendar os bastidores do processo de escrita de El Tango de La Guarda Vieja num site criado para o efeito ENRIC VIVES-RUBIO

Com 20 romances publicados, se incluirmos a série centrada no capitão Alatriste, e livros traduzidos em 40 línguas, vários deles já adaptados ao cinema, Arturo Pérez-Reverte é um caso de sucesso comercial quase sem paralelo na ficção espanhola de hoje. O seu próximo romance, El Tango de la Guardia Vieja (Guardia Vieja é a designação habitualmente dada à primeira geração do tango argentino), vai sair em Novembro e os jornais espanhóis já estão a levantar o véu sobre alguns detalhes do que promete ser um dos acontecimentos editoriais da rentrée. O próprio autor tem ajudado à promoção, alimentando uma página na Internet (http://novelaenconstruccion.com) na qual vai dando conta aos seus leitores do andamento do livro. Permite-lhes que espreitem a oficina do escritor, mas diz apenas o suficiente para ir espicaçando a curiosidade: vai adiantando que o enredo se inicia em 1928, quando dois compositores famosos fazem uma aposta: "Um deles chama-se Maurice Ravel e irá compor um bolero. O outro, Armando de Troeye (autor do famoso Pasodoble para Don Quijote), um tango". O autor da peça mais notável terá direito a um jantar pago pelo derrotado. De Troeye, conta ainda Pérez-Reverte, viaja para Buenos Aires em busca de um ambiente propício para compor o seu tango, e leva consigo a mulher, Mecha Inzunza. A bordo do navio que o leva a Argentina, o casal conhece um bailarino de tango, Max, que irá manter com Mecha, ao longo de quatro décadas, uma relação intermitente. Max, acrescenta o seu criador, tem "habilidades inquietantes" e é "mais perigoso do que parece".

Percebe-se, pelas indicações que o autor vem dando na Internet, que se trata de um romance em três andamentos, correspondentes a outros tantos encontros entre os dois protagonistas. Depois de Buenos Aires, Max e Mecha reencontram-se em 1937 na Riviera francesa, envolvendo-se num assunto de espionagem relativo à Guerra Civil Espanhola. E voltam a ver-se 30 anos depois, em 1966, no Sul de Itália. Tal como noutros romances, Pérez-Reverte, que foi um prestigiado repórter de guerra antes de se dedicar à ficção, cruza a história dos seus protagonistas com a história política, abarcando, neste caso, algumas das grandes convulsões do século XX, incluindo a guerra de Espanha, as duas guerras mundiais e o Vietname.

A técnica do escritor passa, geralmente, por investigar a fundo um assunto ou uma época - as guerras napoleónicas, o restauro de arte, a esgrima ou a ficção de Alexandre Dumas são exemplos de temas centrais nos seus primeiros livros. Desta vez parece ter-se interessado pelo tango. Na página da Internet dedicada a este livro, inclui, além de detalhes sobre o enredo ou reflexões sobre o ofício, algumas imagens que o ajudarão a visualizar as cenas que irá descrever, como uma fotografia do Hotel Negresco, em Nice, onde Mecha se hospeda, outra do Palace Hotel de Buenos Aires nos anos 20, ou ainda uma capa da revista Blanco y Negro que mostra um cavalheiro a ajudar uma senhora a tirar um casaco de peles branco, sob o olhar de uma criada fardada. "Podiam ser o compositor Armando de Troeye e sua esposa, Mecha Inzunza, em 1928, a poucos dias de embarcarem no transatlântico Cap Polonio", comenta Pérez-Reverte.

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