Norte industrial e exportador

A região Norte é a mais industrializada de Portugal e aquela que mais se relaciona com o estrangeiro, originando 43 por cento das exportações portuguesas. Já não são apenas os sectores ditos tradicionais a mostrar uma vocação exportadora. Madeira, produtos eléctricos e electrónicos começam a descobrir os mercados externos e as vantagens de apostar no estrangeiro.

Apesar de representarem uma percentagem não superior a 35 por cento do total nacional, as 63.500 empresas que desenvolvem a sua actividade na região Norte evidenciam uma maior vocação na área do comércio externo, sendo responsáveis por 43 por cento do movimento de produtos e serviços para o estrangeiro. Esta é uma das principais conclusões do estudo "Comércio Externo da Região Norte de Portugal" realizado para a Comissão de Coordenação da Região Norte (CCRN) e para o ICEP-Investimentos, Comércio e Turismo de Portugal, por uma equipa do Centro de Estudos de Gestão e Economia Aplicada (CEGEA), que contou com a colaboração da Quaternaire Portugal.Naquela que é uma das mais extensas e profundas análises sobre a realidade empresarial do Norte, verifica-se que a região é claramente a mais industrializada de Portugal e uma das mais industrializadas da Europa. As actividades ditas tradicionais (têxtil, vestuário e calçado) lideram claramente o emprego - quase um terço da mão-de-obra recenseada -, mas é curioso verificar que nos últimos anos há outros sectores que, não sendo históricos na zona, começam a assumir um protagonismo visível. É o caso das indústrias de mobiliário, de produtos metálicos e da borracha.O peso relativo dos diversos sectores permite que a estrutura empresarial da região continue fundada nas pequenas e muito pequenas empresas. O trabalho mostra que apenas 1,5 por cento das empresas nortenhas têm mais de 100 trabalhadores ao seu serviço, embora no seu conjunto assegurem mais de dois terços do emprego regional. A força das microempresas (com menos de cinco trabalhadores) é arrasadora, com uma percentagem de 79 por cento, a que se seguem as pequenas unidades, com 21 por cento do total.O Grande Porto é o núcleo económico do Norte de Portugal. Estão aí instaladas cerca de 40 por cento das empresas da região - mais de 25 mil unidades empresariais de praticamente todos os sectores de actividade. Já as outras sub-regiões são mais "especializadas", com o vale do Ave, claramente associado à têxtil e ao vestuário, e Entre-Douro e Vouga muito dependente do calçado, que ocupa quase um terço do emprego local.As empresas do nortenhas respondem por 25 por cento das importações nacionais e 43 por cento das exportações. A discrepância é explicada pelo facto de "muitas das infra-estruturas de intermediação de importações estarem sediadas em Lisboa". Como seria de esperar, as exportações têm uma vincada predominância sectorial. Têxtil, vestuário e calçado representam 55 por cento do total exportado, seguindo-se-lhe em importância a indústria de máquinas e material eléctrico, com uns 13 por cento que ilustram a forma dinâmica como o sector tem crescido nos últimos anos.O relacionamento com o estrangeiro está centrado na Europa, que constitui o destino de 83 por cento das exportações. Os cinco maiores mercados são a Alemanha, que absorve 26 por cento das exportações, a França (com 16 por cento), o Reino Unido (11 por cento), a Espanha (10 por cento) e os Países Baixos (cinco por cento).Embora seja o terceiro maior fornecedor, a Itália surge como o nono destino das exportações. A este cenário não é alheio o facto de as empresas italianas e portuguesas serem fortes concorrentes em sectores tradicionais, como o têxtil, o vestuário e o calçado, não sendo fácil competir com a moda italiana no seu próprio terreno. O peso das importações italianas explica-se pela sua clara liderança nalgumas destas áreas e pelo domínio do mercado das máquinas e equipamentos produtivos.O estudo aponta alguns momentos importantes para explicar como se chegou à situação actual. O primeiro foi a adesão de Portugal à EFTA, o que, associado à perda dos mercados coloniais, levou a que as empresas se voltassem para os mercados do Norte da Europa. A adesão à então CEE acentuaria esta tendência, com a conquista de importantes posições nos mercados alemão e francês.Os técnicos verificaram que, ao contrário do que sucede noutros países, para as empresas nortenhas a exportação não é um fenómeno ocasional. "Depois da sua primeira exportação, a generalidade das empresas passa, num período de tempo relativamente curto, a exportar regularmente", sustenta o estudo, que aponta uma outra conclusão interessante: "O início das exportações tende actualmente a ocorrer numa fase ainda precoce das empresas, não sendo invulgar que ocorra logo no seu primeiro ano de vida."A dependência face a um só cliente não é encontrada frequentemente. "Mas onde existem, correspondem, em geral, a uma dupla dependência particularmente preocupante: de mercado e na concepção do produto", adianta o estudo. Globalmente, as empresas afirmam que os seus principais concorrentes são outras unidades da região. Seguem-se, por ordem de importâcia, as italianas, as espanholas e as asiáticas. Curiosamente mercados pouco explorados (Itália e Extremo Oriente) ou onde ainda existe potencial a explorar, como é o caso de Espanha.O estudo engloba um capítulo dedicado às estratégias que devem ser concretizadas no futuro, em matéria de internacionalização. A definição das linhas orientadoras partiu da constatação de alguns obstáculos que impedem uma afirmação mais efectiva da capacidade das empresas da região no comércio externo. Uma das deficiências consiste na inexistência de um clima de potenciação recíproca das experiências mais bem sucedidas nesta área, o que resulta na ausência de uma imagem forte da região no seu todo. Para o futuro, os responsáveis do estudo alinham algumas pistas de actuação: valorizar a importância estratégica do eixo Corunha-Porto; minorar a debilidade do modelo de governo regional, através de uma estratégia de responsabilização entre diversas instituições; consagrar o papel do associativismo na internacionalização; disputar um maior protagonismo para o potencial regional no âmbito da promoção global da imagem de Portugal; e assegurar que a política de promoção turística veicule a importância do seu sector produtivo como um todo.Levar por diante este trabalho implica um claro compromisso de entidades e organismos como a CCRN, o ICEP, a Associação Industrial Portuense e as universidades, numa perspectiva de apoio directo às acções de internacionalização, de coerência regional das políticas a pôr em prática e de gestão de modelos de integração das empresas que integram o esforço de crescimento do comércio externo.

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