Lauak Portugal já começou a produzir peças para os novos jactos da Embraer

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Empresa vai ser um dos abastecedores da Embraer em Évora ENRIC VIVES-RUBIO

A empresa do grupo francês Lauak está em Portugal há mais de sete anos e emprega 115 trabalhadores em Setúbal, nas antigas instalações que a Renault tinha na região

As duas fábricas que em Portugal irão produzir componentes para os jactos executivos do grupo Embraer só vão arrancar no primeiro semestre de 2012, mas em Setúbal a Lauak Portugal já está a preparar-se activamente para esse dia.

Algumas peças que irão fornecer o futuro Legacy 450, avião ainda em fase de desenvolvimento, estão prontas a serem certificadas e mais tarde serão uma parte importante das asas montadas em Évora.

"Vamos trabalhar directamente com um dos maiores fabricantes aeronáuticos do mundo", congratula-se Armando Gomes, director-geral desta fábrica que emprega 115 trabalhadores numa parte das antigas instalações da Renault em Setúbal, que agora são um parque industrial ligado à cidade.

Em Setúbal, as compridas peças que irão dar resistência e formar a estrutura interna das asas do Legacy 450, conhecidas tecnicamente como " ribs", já estão alinhadas ao longo do espaço da fábrica. Neste enorme hangar, onde algumas máquinas desempenham as tarefas mais pesadas de corte e prensagem de componentes em chapa e em alumínio, a maioria do trabalho ainda depende da destreza manual. Limas e cinzéis ocupam muitas das grandes mesas de madeira que compõem as linhas de produção.

Armando Gomes reconhece que o fornecimento acordado com a Embraer irá representar uma pequeníssima parcela no volume de negócios da fábrica, que em 2010 foi de 4,3 milhões de euros. Mais importante, salienta o director-geral, é que este será um primeiro passo para aumentarem os trabalhos para o fabricante brasileiro. "Estamos a desenvolver uma linha de industrialização para a Embraer e o objectivo é crescermos como fornecedores do grupo", afirma.

A empresa, aliás, já produz outros componentes para aviões do construtor brasileiro, mas não directamente: as peças seguem para Espanha, onde são montadas em jactos da Embraer (como o Embraer 190) na fábrica da Aernnova em Sevilha, participada pelo grupo Espírito Santo (26 por cento do capital).

Uma das principais prioridades é voltar a ter mais encomendas de clientes directos dentro da fábrica, a única subsidiária que o grupo Lauak criou fora do País Basco francês, em 2003. No ano passado, as receitas voltaram ao mesmo nível de 2008 - antes do "ano difícil" que foi 2009, marcado pelos efeitos da crise económica -, mas o peso dos clientes directos ainda está longe de representar metade do volume de negócios da empresa, como acontecia nessa altura. Com efeito, actualmente uma boa parte das encomendas chegam a Setúbal através da casa-mãe, como é o caso do fabrico de componentes para a Airbus e para a Dassault Aviation, e têm um peso de 80 por cento no volume de negócios.

É o caso dos reservatórios dianteiros de combustível produzidos em Setúbal para os Falcon, jactos executivos fabricados pela Dassault, e que são o "cartão de visita" da empresa portuguesa. "A Dassault é uma empresa muito familiar, muito voltada para dentro, e esta foi a primeira vez que subcontrataram a produção de reservatórios de combustível", diz Armando Gomes.

Custos pesaram

A existência de mão-de-obra mais barata foi um dos principais motivos que levaram a direcção da Lauak a optar por Portugal. "Os custos associados são inferiores e podemos oferecer peças mais baratas", comenta o director-geral da Lauak.

Armando Gomes calcula que os custos de pessoal ficam cerca de 30 por cento abaixo daquilo que seriam em França. Em contrapartida, as semelhanças culturais e de regime político entre os dois países foram importantes para que a escolha recaísse dentro da Europa, e não na Tunísia ou em Marrocos, por exemplo.

A aposta em custos de pessoal mais baixos não significa, no entanto, que a formação dos trabalhadores passe ao lado, até porque essa é uma exigência dos fabricantes aeronáuticos para os quais a Lauak trabalha. Uma equipa de 15 pessoas esteve quase seis meses em aprendizagem na Dassault, exemplifica Armando Gomes.

Também na área de soldadura, criada para a empresa "ter uma actividade mais sustentável" e que conta com cinco trabalhadores, o investimento em formação é exigente.

É aqui que trabalham alguns reformados da Ogma - Indústria Aeronáutica de Portugal, que Armando Gomes foi buscar a Alverca devido à experiência que tinham neste tipo de trabalhos. Feitas as contas, cada um destes profissionais custa 3500 euros por ano em certificação.

A própria Embraer, apesar de as novas fábricas ainda não estarem construídas, exige que os mais de 500 trabalhadores que irão produzir estruturas metálicas e peças em material compósito para os jactos executivos do grupo recebam uma formação de 1800 horas, quase dois anos, adianta o mesmo responsável.

Uma das apostas da Lauak portuguesa será servir de espaço de aprendizagem para alguns desses operários, em acções que serão financiadas pelo Estado através do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).

Armando Gomes acredita que os novos cursos ministrados pelo IEFP, devido às necessidades da Embraer, podem significar uma mudança positiva para a indústria aeronáutica portuguesa, devido à vinda do grupo brasileiro: "Pela primeira vez, uma grande empresa do sector exigiu coisas a este nível para poder implantar-se em Portugal."

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