BES aumenta capital em 1010 milhões e compra os 50% que não detinha na seguradora do grupo

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"Ficamos com uma folga prudencial", disse Ricardo Salgado ENRIC VIVES-RUBIO

Operação não irá mexer no actual equilíbrio da estrutura accionista; venda das novas acções feita com desconto de 66%

O Banco Espírito Santo (BES) vai realizar um aumento de capital de até 1010 milhões de euros para colocar os rácios de solvabilidade nos níveis exigidos pela troika e pelo Banco de Portugal. A instituição liderada por Ricardo Salgado anunciou, também, ter chegado a acordo com o Crédit Agricole para a compra dos 50% que não detinha na seguradora BES Vida.

A notícia destas duas operações foi formalizada ontem ao final da tarde, após o fecho dos mercados de capitais. Seguiu-se uma conferência de imprensa onde Ricardo Salgado assegurou que os principais accionistas do banco irão manter o peso das suas participações actuais - Bespar 38%, Crédit Agricole 10,8% e Bradesco 4,8%.

A operação será feita com um preço por acção de 0,395 euros, o que representa um desconto de praticamente 66% face à cotação de fecho de ontem dos títulos do banco na Bolsa de Lisboa - 1,167 euros.

Com este aumento de capital, o rácio core tier 1 do BES passará para 10,75%. Este indicador, que mede a solvabilidade das instituições financeiras, está actualmente nos 9,21%, já acima do mínimo (9%) exigido pela Autoridade Bancária Europeia até ao final de Junho. Mas até Dezembro, os bancos deverão cumprir um requisito mínimo de 10%.

No comunicado em que anunciou as operações, o BES assinala que os accionistas que controlam o banco (detêm 50,63% do capital) irão exercer os seus direitos de subscrição. Isto significa que "o núcleo da estrutura accionista do grupo BES mantém-se nas mesmas proporções", disse Ricardo Salgado na conferência de imprensa que se seguiu ao anúncio dos negócios feito através do sítio da Comissão do mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

O encaixe do aumento de capital está garantido porque o banco subscreveu um contrato de underwriting com um sindicato bancário que assegura a aquisição do capital que não seja tomado até um máximo de 49,37%.

"Espero que o aumento de capital do BES seja um marco inicial para o tal acesso aos mercados que Portugal ambiciona para 2013", disse Ricardo Salgado na conferência de imprensa. "Ficamos com uma folga prudencial que permite acomodar a evolução da situação até ao final do ano. É conveniente ter uma folga, tendo em conta o provável aumento do crédito malparado", acrescentou o banqueiro.

O recurso ao aumento de capital para cumprir as exigências dos reguladores dispensa, para já, o Espírito Santo de se candidatar à linha pública de recapitalização da banca. E serve também para potenciar a outra operação divulgada ontem - a aquisição dos 50% da seguradora BES Vida ao francês Crédit Agricole.

O negócio envolve 225 milhões de euros e o pagamento será feito com recurso a uma parte do aumento de capital. O objectivo da operação é "potenciar a comercialização de seguros da companhia". comPedro Crisóstomo

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