Argentina avança com nacionalização de filial da Repsol

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Kirchner invocou a utilidade pública para justificar a medida DANIEL GARCIA/afp

Anúncio de expropriação da YPF, que Espanha vê como o culminar de uma ameaça diplomática, deixa futuro incerto para a Repsol

A petrolífera argentina YPF, controlada pela companhia espanhola Repsol, deverá voltar para as mãos do Estado argentino 13 anos depois da privatização.

A proposta de nacionalizar a empresa, ontem apresentada ao Congresso argentino pelo Governo de Cristina Kirchner, abre uma janela de incerteza sobre o futuro da empresa espanhola (presente em Portugal na venda a retalho de combustível), mas os analistas dizem ser cedo para avaliar o impacto da medida.

A intenção argentina, antes de ser oficializada pela voz de Kirchner, já tinha gerado tensão diplomática entre Espanha e a Argentina desde que o Governo de Buenos Aires enfatizou o interesse público da produção petrolífera. O argumento repetiu-se ontem e Espanha já prometeu responder para defender os seus interesses.

Até agora controlada pela Repsol, a YPF fica sujeita a expropriação. De acordo com um projecto de lei do Governo que deverá ser votado dentro de semanas, o Estado argentino passa a deter 51% do capital - participação declarada pelo Governo de "utilidade pública" -, enquanto os restantes 49% são distribuídos entre as províncias produtoras de petróleo. Uma medida para defender o interesse público, a produção nacional e garantir a sustentabilidade da produção de petróleo, justificou Kirchner num discurso na sede do Governo, no qual simbolizou a medida erguendo um pequeno pedaço "do primeiro petróleo argentino" enlaçado com as cores da bandeira nacional do país. "Durante muitos anos, em sectores diferentes da economia geridos pelo Estado, aplicou-se um critério partidário, com o argumento de que o Estado era inútil e que só os privados poderiam gerir recursos do Estado", criticou.

Para a Repsol, a nacionalização da YPF, onde entrou em 1999, representa um duro golpe na estratégia de internacionalização. Metade da produção e um terço do resultado bruto são suportados pela filial, que viveu no ano passado um momento de forte expansão da actividade: as reservas petrolíferas aumentaram mais de 160% em 2011 (em 137 milhões de barris).

Os analistas ouvidos pelo jornal espanhol Expansión dizem, porém, que é preciso esperar para avaliar qual o impacto no futuro da empresa, não se sabendo ao certo em que termos será feita a expropriação. Em Wall Street, onde as acções chegaram a cair 12%, a cotação foi ontem suspensa.

Quando a intenção era apenas uma ameaça velada, Espanha e a Comissão Europeia desdobraram-se numa ofensiva diplomática, advertindo para a resposta que o executivo não abdicaria de dar em caso de "agressão". Numa primeira reacção ao discurso de Kirchner, a número dois do Partido Popular, Dolores de Cospedal, reforçou estas intenções. E a preocupação que causou em Madrid obrigou o presidente do Governo, Mariano Rajoy, a reunir-se de emergência com os seus ministros da Indústria e dos Negócios Estrangeiros.

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