Zona euro pressiona Madrid para acelerar pedido de ajuda

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Em Espanha decorreram ontem várias acções de protesto contra a situação dos bancos PAUL HANNA/REUTERS

Ministros das Finanças do euro deverão debater hoje a situação da Espanha, a braços com a falta de meios próprios para acudir às necessidades de recapitalização da banca

O governo espanhol deu ontem sinais claros de que se prepara para pedir a ajuda da zona euro para os seus bancos em dificuldades, embora sem dar indicações sobre o momento em que dará um passo considerado urgente pelo resto do mundo.

As pressões sobre Madrid subiram aliás ontem fortemente de tom, passando a incluir vários responsáveis europeus, do Banco Central Europeu (BCE) e mesmo dos Estados Unidos.

Uma reunião dos ministros das finanças por teleconferência está aliás prevista para hoje para debater a situação, o que alimentou as expectativas de que Madrid possa formalizar nessa altura o seu pedido de ajuda.

A Espanha tem "necessidades reais" de financiamento" que "têm de ser resolvidas rapidamente", afirmou ontem Vítor Constâncio, vice-presidente do BCE, insistindo em que "a solução tem de ser rápida".

A situação é "urgente", disse igualmente o ministro holandês das finanças, Jan Kees de Jager.

"É preciso agir o mais depressa possível para injectar capitais nos bancos em dificuldade", pediu igualmente o presidente americano, Barack Obama. "As decisões são duras, mas a Europa tem a capacidade de as tomar. Quanto mais cedo [os europeus] agirem e mais decididas e concretas forem as suas acções, mais depressa as populações e os mercados vão recuperar alguma confiança" essencial à retoma da economia, afirmou. A China e o Canadá também pediram uma resolução urgente das dificuldades espanholas.

Os outros países europeus e a Comissão Europeia afirmam há vários dias que estão prontos para accionar a todo o momento os mecanismos de socorro do euro em favor da Espanha, que está assim em vias de se tornar no quarto país a recorrer a ajuda externa, depois da Grécia, Irlanda e Portugal. Nenhuma decisão poderá no entanto ser tomada sem a formalização de um pedido.

Se assim for, a reunião de hoje poderá ser precedida de uma outra teleconferência entre os braços direitos dos ministros para debater e clarificar as questões mais técnicas, ficando depois os ministros com a responsabilidade das decisões políticas. De acordo com um diplomata europeu, o anúncio das reuniões constitui mais uma forma de pressão sobre Madrid para acelerar o processo.

Segundo noticiou a agência Reuters, a Alemanha, sobretudo, quer assegurar que o resgate da Espanha está nos carris antes das eleições gregas de 17 de Junho, que ameaçam desestabilizar a totalidade da zona euro se resultarem na vitória de partidos hostis ao programa de ajuda.

Apesar disso, o Governo espanhol manteve ontem a linha assumida esta semana pelo primeiro ministro, Mariano Rajoy de que só tomará uma posição depois de conhecer as necessidades exactas de capital dos bancos.

Madrid tem afirmado que quer esperar pelos resultados de uma auditoria independente à situação do sector financeiro que deverão ser publicados dentro de dez dias. A urgência de acabar com a especulação sobre a fragilidade da banca poderá no entanto levar o Governo a basear-se na avaliação do sector realizada pelo FMI que deverá ser publicada na segunda-feira, mas cujos resultados já estão consolidados.

"Neste momento, o Governo está a trabalhar com o FMI e os auditores sobre os valores necessárias para o saneamento do sector financeiro", afirmou ontem Soraya Sáenz de Santamaria, vice-presidente do Governo. "O Governo tem de esperar, mas quando os valores forem conhecidos, tomará uma decisão", acrescentou.Se a ajuda europeia a Madrid já não levanta dúvidas - o Governo já reconheceu esta semana que não conseguirá assegurar sozinho as operações de recapitalização dos bancos - o seu formato permanece em aberto.

Os espanhóis querem a todo o custo evitar um resgate puro e duro como o que foi concedido a Portugal, Grécia e Irlanda: nestes caso, a ajuda europeia cobre a totalidade das necessidades financeiras dos três países durante 2 a 3 anos, a troco de estritos programas de ajustamento económico e financeiro destinados a assegurar a redução do endividamento e a realização de reformas destinadas a agilizar as economias.

Madrid quer limitar a ajuda às necessidades de financiamento dos bancos, que variam, consoante as fontes (bancos, agências de notação financeira ou fundos de investimento) entre 40 e 100 mil milhões de euros.

As regras dos mecanismos de socorro do euro permitem a concessão de ajudas destinadas unicamente à recapitalização dos bancos com condições impostas aos respectivos governos menos estritas do que as que acompanham os resgates plenos.

O programa de ajustamento espanhol poderá assim ser bem mais ligeiro do que o dos outros três países, e não ir além das medidas de austeridade já aplicadas por Rajoy.

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