Os gregos escolheram a via europeia, diz Samaras

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Samaras festeja após ter reclamado a vitória, ontem à noite, em Atenas JOHN KOLESIDIS/reuters

Nova Democracia conseguirá uma base de Governo apenas com os socialistas. PASOK pede executivo com Syriza, mas Tsipras diz que vai para a oposição

Não houve buzinas de contentamento por Atenas, como tinha havido na véspera por causa do futebol. A notícia da vitória do Nova Democracia, com base nos resultados parciais, terá sido saudada apenas com um silencioso suspiro de alívio de muitos gregos. Mesmo muitos que não queriam uma vitória do centro-direita esperavam ansiosamente um Governo. E este parece estar mais perto. "O pior já passou", garantiu o vencedor, Antonis Samaras.

À hora do fecho desta edição, estavam contados 74% dos votos, com o Nova Democracia a obter 30% (correspondente, com o bónus de 50 deputados dado ao partido vencedor, a 130 deputados), contra 26,5% do seu rival Syriza (Coligação de Esquerda Democrática), equivalente a 71 deputados. O PASOK (socialista) teria cerca de 12,5% e assim 33 deputados. Seguia-se o partido populista nacionalista Gregos Independentes, com 7,4% e 20 deputados, e o neonazi Aurora Dourada, 6,9% e 18 deputados. Com 6% e 16 deputados, o Esquerda Democrática (Dimar) é um partido com grandes possibilidades de entrar no Governo, seguindo-se o Partido Comunista, com 4,5% e 12 deputados. Mantêm-se assim os mesmos sete partidos que tinham já sido eleitos nas inconclusivas eleições de 6 de Maio, com grandes subidas para os primeiros dois classificados (que tinham obtido apenas 18,5% e 16,7%) e a descida mais significativa foi a do Partido Comunista, que ficou com quase metade da percentagem de votos.

Na dança de quem fala primeiro na noite eleitoral, a Grécia parece ter as suas regras próprias, tal como, aliás, na própria votação, onde nas assembleias de voto estão vários boletins, um para cada partido, e os eleitores levam-nos todos (ou só alguns) para a cabine. Cada boletim tem nomes de vários candidatos, e é aí que são postas as cruzes. Apenas um boletim, de um dos partidos, é depois colocado na urna.

O líder do Aurora Dourada foi primeiro a falar. Com uma bandeira grega e uma águia no enquadramento, Nikolaos Michaloliakos reivindicou para si o 4.º lugar (segundo os resultados parciais, terá ficado em 5.º) e disparou, com ar zangado, contra os opositores: "Vocês perderam." O partido manteve sensivelmente a mesma votação que tinha obtido a 6 de Maio apesar do episódio em que o porta-voz agrediu, num debate televisivo, uma deputada comunista.

De seguida, falou Evangelos Venizelos, o líder do partido-caído-em-desgraça, o PASOK, que obteve uma fracção do que tinha conseguido nas legislativas de 2009, 44%. Venizelos propôs um governo de salvação nacional com quatro partidos: Nova Democracia, Syriza, o próprio PASOK e o Dimar. Evocando a "responsabilidade nacional" - mais uma vez, esta foi mencionada quase diariamente nas conversações que se seguiram às eleições de 6 de Maio e que terminaram sem um entendimento para um Executivo - o líder socialista apelou a "que o Governo seja formado já manhã", ou seja hoje.

Só depois falou o vencedor, Antonis Samaras. "O povo grego votou a favor da via europeia e da permanência do Euro", afirmou. "Vamos cumprir as obrigações do país", disse ainda Samaras, que durante a campanha tinha pedido mais tempo para fazer os cortes pedidos à Grécia.

"Não haverá mais aventuras", declarou Samaras, convidando "todos os que tenham orientação europeia a participar no Executivo de salvação nacional". O número de deputados de Nova Democracia e PASOK, 163, seria apenas suficiente para uma base governativa - mais dez do que os precisos para a maioria absoluta, mas não suficientemente forte politicamente (além de que seriam, mais uma vez, os dois partidos tradicionais sozinhos a governar). Nova Democracia e PASOK querem assim trazer mais forças para este governo, e o mais provável é a entrada do Dimar neste conjunto. O seu líder, Fotis Kouvelis, afirmou que ainda que não concebesse um Governo de unidade sem o segundo partido mais votado, não faria da presença deste uma condição para participar numa coligação.

E o líder do Syriza, Alexis Tsipras, não pareceu aceitar a perspectiva de participar num Governo de unidade nacional. "Telefonei ao Sr. Samaras para o felicitar, ele pode formar um Governo", declarou Tsipras, um dos últimos líderes partidários a falar. "Nós estaremos presentes enquanto oposição; representamos a maioria do povo antimemorando."

Foi o culminar de semanas de indecisão e paralisia, com uma recta final de debate violento - ainda que os partidos não tenham nunca conseguido entender-se para um debate entre os dois principais candidatos. E este executivo será, se qualquer modo, um governo de coligação com bastante menos do que 50% do apoio dos eleitores.

Quando começam as conversações para a formação de Governo, ainda há imponderáveis. Segundo a Constituição grega, o Presidente dá três dias ao líder do partido mais votado para formar Governo, e se este falhar, passa para o segundo mais votado. "O essencial", comentava o jornalista da BBC Paul Manson, "é Samaras não perder a iniciativa de formação de Governo para Tsipras - foi isso que provou o frenesim dos mercados da última vez".

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