O nosso Guggenheim ou só um faits-divers?

a Desde Outubro de 2006 é do Hermitage que falamos quando falamos das prioridades do Ministério da Cultura (MC). De repente, um museu russo tornou-se na jóia da coroa da política cultural portuguesa - e isto, que tem tudo para ser um sucesso de público, também tem tudo para ser um insucesso no meio museológico. Com 1,5 milhões de euros, a verba que o MC angariou junto de uma plataforma de mecenas para financiar a primeira exposição do Hermitage em Portugal, os museus nacionais atirariam os foguetes e fariam a festa. Assim só apanham as canas.A questão não é o que o Estado português fez pelo Hermitage - é o que o Estado português não está a fazer pelos seus próprios museus. "Ouvimos falar da criação de um pólo do Hermitage em Portugal e não podemos acreditar. Há anos que estamos à espera da ampliação do Museu Nacional de Arqueologia e do Museu do Chiado. Convinha sabermos qual vai ser o modelo de gestão, mas a ministra fala às vezes de mais e outras vezes de menos neste assunto", aponta a historiadora de arte e ex-presidente do Instituto Português de Museus Raquel Henriques da Silva, que considera esta exposição a obra do regime de Pires de Lima. "Isto é o mesmo que um ministro da Saúde preferir ligar o seu nome à construção de um hospital do que abordar os problemas gerais do país. Um grande evento como este vai apequenar os museu portugueses - é um atestado de menoridade", diz.
O Museu Nacional de Arqueologia faz parte desse país real que vive em "autocensura orçamental". "Isto é um faits-divers da programação cultural, uma iniciativa política que não corresponde a uma prioridade - nem a uma necessidade - museológica. Os mecenas não chegam para tudo. Para as exposições temporárias que os museus nacionais tentam organizar, nunca há dinheiro", argumenta o director, Luís Raposo.
É uma operação com os seus méritos, contrapõe o historiador de arte José de Monterroso Teixeira: "O franchising é um modelo de gestão museológica que pode ajudar a consolidar a participação em redes internacionais. Portugal precisa dessas inter-relações, de modo a construir circuitos e parcerias cosmopolitas de nível paritário. Os blockbusters são um atractivo para uma oferta cultural mediática e o Hermitage é uma marca que poderá vender. Veja-se o sucesso galáctico do Guggenheim em Bilbau."

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