Grexit: como seria a saída da Grécia do euro

É um dos temas mais estudados nos últimos meses por centros de reflexão, bancos, fundos de investimento e analistas de mercado: em que circunstâncias é que a Grécia poderá ter de sair do euro? Como é que o processo se desenrolará e o que acontecerá à zona euro?

A discussão sobre a eventualidade de uma saída da Grécia tornou-se tão corrente que dois analistas do Citigroup inventaram em Fevereiro um termo para a designar, hoje universalmente utilizado - Grexit - a partir da contracção de Greece com exit (saída).

Muitos prognósticos colocam as probabilidades de um Grexit nos 50%, um cenário que, com maior ou menor grau de pessimismo, todos os analistas associam a consequências cataclísmicas para a zona euro e para a economia mundial.

O detonador de um Grexit será a suspensão da ajuda da zona euro e do FMI (240 mil milhões de euros desde Maio de 2010) no caso de o novo Governo decidir ignorar os termos do programa de ajustamento associado.

Sem a sua única fonte e financiamento, o país deixará rapidamente de ter dinheiro para pagar facturas e dívidas e, pouco depois, salários e pensões. A partir daqui, a saída do euro até ao fim do ano é dada como inevitável. Se nestas circunstâncias o país poderá ou não permanecer na União Europeia, é uma questão por enquanto sem resposta.

A consequência mais temida do Grexit é o contágio a outros países, sobretudo os mais frágeis da periferia, por via de uma corrida aos bancos e fuga maciça de capitais, a par da penalização da dívida pública desses Estados pelos investidores.

Portugal é o primeiro candidato ao contágio, tanto mais que os bancos nacionais estão, proporcionalmente, entre os mais expostos de toda a zona euro à Grécia.

Os mais optimistas pensam que os riscos de contágio de um Grexit poderão ser contidos se os responsáveis europeus, incluindo o Banco Central Europeu (BCE), se dispuserem a estabilizar o sistema financeiro e financiar os Estados incapazes de o fazer no mercado. Os custos destas operações contam-se aos biliões (milhões de milhões).

Na Grécia, os prognósticos são ainda piores. Atenas terá de criar de raiz uma nova moeda, possivelmente à paridade a que o dracma aderiu ao euro em 1999 e proceder à conversão jurídica de todos os contratos para o novo dracma.

No momento em que esta moeda passar a flutuar no mercado, todos os prognósticos apontam, com base na experiência da Argentina, para uma desvalorização imediata de 50% do seu valor face ao euro. O que obrigará os gregos a reembolsar com o novo dracma fortemente desvalorizado as dívidas contraídas em euros, o que é o mesmo que dizer que o valor da dívida pública e privada passará para o dobro.

Sem financiamento, os bancos e as empresas vão falir aos magotes. O PIB grego sofrerá uma contracção de 10 a 15%, a inflação poderá chegar aos 25% - devido à duplicação dos preços dos produtos importados - e o desemprego aos 30%. Indicadores desta ordem são impensáveis sem uma forte turbulência política, económica e, sobretudo, social.

Inevitavelmente, a economia grega demorará muitos anos a recuperar. A prazo, o novo dracma desvalorizado permitirá o ganho de competitividade externa do país que é considerado o grande benefício da saída do euro. Este efeito demorará no entanto vários anos a fazer-se sentir, porque no imediato, as empresas falidas e sem crédito, não terão grande coisa para exportar.

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