Ferreira Leite diz que substituição de Durão sem congresso é "golpe de Estado"

"Sem um Congresso ninguém tem legitimidade para nomear um novo Presidente do PSD e, por inerência, primeiro-ministro. Tal configuraria um golpe de estado no partido", declarou ontem ao PÚBLICO Manuela Ferreira Leite, ministra de Estado e das Finanças.Na opinião da ministra de Estado e das Finanças, não existe uma hierarquia formal na Comissão Política do PSD, lembrando que "quando os militantes votaram, no último Congresso, não estavam a escolher também o número dois ou o número três do partido, estavam a votar na lista do presidente do partido". Ou seja, o facto de Pedro Santana Lopes ter sido eleito primeiro vice-presidente não faz dele sucessor automático de Durão Barroso tanto mais que, em Congressos do PSD, sempre que se candidatou à liderança, o que sucedeu por três vezes, embora só tenha levado uma candidatura até ao fim, perdeu por larga margem. "Qualquer solução terá sempre de passar por um Congresso do partido", conclui Ferreira Leite, que é a número dois do Governo e, como tal, também foi apontada como possível sucessora de Durão.A posição da ministra das Finanças é, até agora, a mais dura crítica à estratégia que tem vindo a ser posta em marcha para a sucessão de Durão Barroso no Governo e no PSD. O eurodeputado Pacheco Pereira e o ministro dos Assuntos Parlamentares, Luís Marques Mendes, também têm chamado a atenção para a necessidade de haver um congresso antes de essa transição de poder se consumar. Ontem, o eurodeputado Vasco Graça Moura, chamou a atenção para aspectos "que são problemáticos: o da instabilidade institucional, o da continuidade da acção governativa, cumprimento e execução do programa do Governo que foi aprovado há dois anos".Estes apelos vão, no entanto, contra aquilo que são as intenções da maioria dos dirigentes do PSD, que querem resolver a situação o mais depressa possível. Consideram que apenas é necessário a legitimação de Santana como presidente do PSD em conselho nacional e que o congresso, a realizar-se, deverá ser depois do Verão. Um congresso extraordinário demorará, no mínimo, três semanas a organizar.Contra Santana estão, além de Mendes e Pacheco Pereira, os cavaquistas, grupo em que se insere Ferreira Leite. Cavaco Silva é, aliás, uma das personalidades que o Presidente da República, Jorge Sampaio, quer ouvir. Mas um dos seus maiores apoiantes, Paulo Teixeira Pinto, tece elogios ao presidente da Câmara de Lisboa (ver texto neste destaque). Fontes próximas de Cavaco dizem que o ex-primeiro-ministro está muito preocupado com a situação. Acha que Durão Barroso não devia ir para a presidência da Comissão Europeia, uma vez que a única alternativa que existe no partido é Pedro Santana Lopes.Ontem, foi o próprio Santana, enquanto vice-presidente do PSD, a falar em nome da comissão permanente, que se reuniu ao fim da tarde na sede do partido, em Lisboa. E falou para "dirigir uma palavra de tranquilidade a todos os portugueses". Santana começou por se referir à formalização do convite feito a Durão Barroso para presidir à Comissão Europeia, congratulando-se com o convite que "honra" o país e o PSD e que é "um reconhecimento das excepcionais qualidades de estadista do dr. José Manuel Durão Barroso". Em seguida, manifestou o apoio do PSD "à opção do presidente do partido, na certeza de que, como sempre, será determinada, antes do mais pela preocupação de melhor servir o interesse nacional".Santana, que apareceu sério, de ar grave e até colocou óculos, terminou a breve comunicação, garantindo que o PSD assumirá as suas responsabilidades, para "na integral observância das disposições e poderes constitucionais, assegurar a estabilidade política e o respeito pela vontade popular expressa nas últimas eleições legislativas".Também o CDS reuniu ontem a sua direcção e o comunicado foi no mesmo sentido. "É necessário respeitar o papel constitucional do Presidente da República, mas é também necessário respeitar a vontade dos portugueses expressa democraticamente em eleições e que atribuiu a esta maioria um mandato de quatro anos", afirmou o líder parlamentar do CDS/PP, Telmo Correia.Ambos os partidos, contudo, se recusaram comentar nomes ou avançar quais serão os próximos a dar. Como disse Santana Lopes, as decisões do PSD sobre a sequência de funcionamento só serão tomadas depois de Durão falar. "O PPD/PSD tem respeitado a contenção total", acentuou ainda o número dois do partido.

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