O candidato a vice-presidente chegou por SMS

Joe Biden, um senador veterano, dará estofo a Obama nas questões internacionais e ajudará o candidato a atrair os eleitorados mais difíceis

a O candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, Barack Obama, apresentou ontem o veterano senador do Delaware, Joseph Biden, de 65 anos, como o seu parceiro na corrida à Casa Branca. "Chegou o momento da verdade!", bradou Joe Biden, tornando claro qual será o seu papel nos próximos meses: atacar.Os dois homens que compõem o ticket [boletim de voto] democrata apareceram ontem juntos pela primeira vez, num comício em Springfield, a capital do Illinois, onde Barack Obama anunciou a sua candidatura à presidência há 19 meses. O senador recordou o início da sua jornada e explicou que nos últimos meses andou à procura de alguém com quem completasse a viagem. "Por isso hoje [ontem] voltei aqui para vos dizer que encontrei esse líder, um homem de registo distinto e decência fundamental: Joe Biden", declarou.
A candidatura de Barack Obama geriu inteligentemente o timing do anúncio, alimentando durante mais de uma semana as especulações. Num sinal da "inovação" da sua campanha, a escolha foi oficializada através de um SMS enviado aos primeiros minutos da madrugada: "O Barack escolheu o senador Joe Biden para ser o nosso nomeado à vice-presidência. Vê o primeiro comício Obama-Biden ao vivo às 3 da tarde em www.BarackObama.com. Espalha a palavra!".

Mais-valias...Muitos analistas notavam ontem que será difícil, entre os democratas, encontrar opositores ou críticos da escolha de Biden. Reagindo de imediato, Hillary Clinton considerou que a decisão de Obama "prolonga a melhor tradição da vice-presidência, com a selecção de um líder excepcionalmente forte, experiente e devotado ao serviço público".
Ao decidir-se por Biden - deixando para trás dois políticos da "nova geração", o senador do Indiana Evan Bayh e o governador da Virginia Tim Kaine -, Barack Obama muda a narrativa da sua campanha. Desmente aqueles que o descrevem como egocêntrico e arrogante, escolhendo um político destemido. Por outro lado, a experiência e o peso político de Biden são um certificado de garantia em termos de política externa.
Eleitoralmente, Biden também se pode revelar muito "útil" a Obama. Sem ser do Sul (como é tradição no partido) ou do "Midwest", pode atrair para a campanha democrata os eleitores mais idosos e os católicos.
Barack Obama parte assim para a Convenção Nacional Democrata, que amanhã inicia os seus trabalhos em Denver, relançando a candidatura. Não podia pedir um melhor arranque para os quatro dias de discursos e festa, que culminarão com a sua nomeação oficial. O espectáculo da consagração não está, porém, isento de desafios: Obama precisa de unir o partido, sem enfurecer as margens mas apelando aos independentes. Para começar, Obama tem de dar-se a conhecer como um americano igual aos outros, apesar da "originalidade" da sua história pessoal.
... e problemas
E o senador do Illinois tem absolutamente de ganhar os apoiantes de Hillary Clinton. Uma sondagem da NBC/Wall Street Journal nas vésperas da Convenção era esclarecedora quanto à desconfiança e desdém dos eleitores de Hillary pelo nomeado democrata: para já, só 52 por cento dos que votaram na senadora de Nova Iorque tencionam votar Obama. 27 por cento podem ser classificados como indecisos, embora digam que preferiam votar noutra pessoa qualquer. E 21 por cento vão escolher John McCain.
Falar para uma multidão de 75 mil pessoas também não deixará de ser um desafio para Barack Obama, que no último mês viu a sua capacidade para atrair multidões ser usada contra ele pela campanha republicana.
Imagens de um estádio de futebol repleto de "adeptos" em histeria certamente alimentarão esta linha de ataque, mas os estrategos democratas não parecem muito preocupados. "Ter milhões de pessoas a querer participar na campanha nunca é um problema. É tão simples quanto isso", diz Simon Rosenberg, presidente do think tank liberal NDN (uma evolução do antigo comité de acção política National Democratic Network).
Obama falará no mesmo dia em que se celebra o 45.º aniversário do famoso discurso I Have a Dream, de Martin Luther King. Não deixará de ser um desafio fazer melhor do que na Convenção de 2004, quando a sua prestação foi uma surpresa classificada pela imprensa como "brilhante" - alguns analistas estimaram mesmo que o desconhecido que acabara de falar seria o primeiro presidente negro dos Estados Unidos.

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