SL J. Veiga "versus" FC J. Mendes

Quando a I Liga arrancar no próximo mês, os adeptos do futebol português irão assistir a algo mais do que uma disputa entre clubes: o campeonato 2001/2002 será também um braço-de-ferro entre José Veiga e Jorge Mendes, dois empresários acreditados pela FIFA que terão, respectivamente, o FC Porto e o Benfica como suportes das suas principais apostas da época. De tal forma que, e apesar de ainda não estarem encerradas as contratações de ambos os clubes, Jorge Mendes representa actualmente 17 jogadores do FC Porto, enquanto Veiga tem apenas menos três no Benfica (ver quadros). Até devido às relações tensas que os dois empresários mantêm, o próximo campeonato será também uma espécie de SL J. Veiga "versus" FC J. Mendes. O Sporting não entra nestas contas porque no seu plantel nenhum empresário tem uma posição tão dominante. O quase monopólio que José Veiga e Jorge Mendes asseguram hoje nas Antas e na Luz, respectivamente, tem esta época o seu ponto alto, mas é uma situação de açambarcamento que já se vinha desenhando nos últimos tempos. Curiosamente, José Veiga chegou a ter uma situação idêntica há alguns anos nos portistas, quando o ex-emigrante no Luxemburgo trabalhou, primeiro, para a Olivedesportos de Joaquim Oliveira e, depois, se emancipou e continuou a trabalhar em estreita colaboração com o FC Porto. Os seus primeiros negócios com os portistas foram Ralph e Celso, mas há duas épocas, e em resultado de não ter gostado de ver como se processou a renovação de Zahovic, zangou-se com Pinto da Costa e, desde aí, a animosidade entre ambos cresceu de forma exponencial."SL José Veiga? É muito redutor reduzir o seu trabalho ao Benfica quando se sabe que foi ele que ajudou o Sporting a ser campeão, a exemplo do que aconteceu na última época com o Boavista - que ganharam o título sem jogadores de Jorge Mendes e Paulo Barbosa. Ou seja, José Veiga para o ano vai jogar para o tri", disse uma fonte próxima do empresário, que destaca a equipa com que ele se rodeou, formada, entre outros, pelo ex-director desportivo do Sporting Carlos Janela e, a norte, pelo ex-funcionário do FC Porto Jorge Gomes, contando ainda com a colaboração estreita de Alexandre Pinto da Costa, filho do presidente do FC Porto, que está de relações cortadas com o pai. Diz quem acompanhou de perto na altura o processo de rotura entre Pinto da Costa e José Veiga que o presidente portista, apesar de alguns negócios interessantes (Zahovic e Doriva, por exemplo), terá concluído que Veiga terá participado em más contratações como as de Neves, Butorovic, Kralj, Carlos Manuel, Paulo Ferreira, Rui Correia e Rodolfo. A mesma fonte salienta que a Jorge Mendes apenas se poderá apontar o dedo no que respeita a Pizzi, lembrando a valorização que sofreram jogadores como Jorge Andrade (custou 400 mil contos e poderia ter saído por 18 milhões de dólares, mais de 4 milhões de contos), Capucho, Paredes e Deco, cujas aquisições tiveram o dedo do empresário, ou a transferência a "preço zero" de Costinha e Soderstrom. Mesmo tendo em atenção exemplos antigos como os de Lucídio Ribeiro (levou para as Antas Madjer), Minguella (Jardel, Aloísio, Kostadinov e Pena) e de Luciano d' Onófrio, há nas Antas quem considera que "nunca houve ninguém que tivesse tantos e jogadores com tanta qualidade no FC Porto como acontece hoje com Jorge Mendes", lembrando, por exemplo, que foi ele que esteve na origem dos desvios a preço de "saldo" de Deco e Cândido Costa para as Antas e, já este ano, de Mário Silva, pretendido pelo Benfica e até então representado pelo "inimigo" José Veiga. Dos jogadores portistas que representa, Jorge Mendes só não levou para as Antas Hilário e Chainho, situação que também acontecia com Esquerdinha, que o empresário acaba de vender ao Saragoça por meio milhão de contos. Quem trabalha de perto com ele, destaca-lhe o trabalho de observação tanto no mercado interno como no externo, principalmente na América Latina. "A ele ninguém dos clubes lhe diz 'vai buscar este ou aquele'; é ele que os descobre e os promove".Jorge Mendes, que também tem uma equipa formada, entre outros, pelo ex-jornalista de "A Bola" Sérgio Alves e pelo ex-treinador do Mónaco Lucian Muller, lidera as principais compras de sempre dos três grandes. Rodrigo Tello custou 1,6 milhões de contos ao Sporting, Roger 1,5 ao Benfica (Mantorras foi, no entanto, a transferência mais cara, uma vez que 50 por cento do seu passe custou um milhão de contos) e Ibarra 900 mil contos ao FC Porto. Os detractores do empresário lembram ainda que foi ele o protagonista de negócios de interesse duvidoso com o Benfica, como foram os casos de Porfírio, Luís Carlos e Nandinho, o mesmo acontecendo no Sporting com Damas, Renato e Leão, enquanto Tello só agora começa a confirmar ter valor.Lisboeta de 35 anos, Jorge Mendes começou no comércio de vídeos, teve duas discotecas no Minho e surgiu no mundo do futebol há poucos anos, mas rapidamente ganhou o seu espaço e já protagonizou algumas das principais transferências para o futebol português. Depois de ter levado o guarda-redes Nuno para o Corunha, começou a ter uma carteira de jogadores invejável (é também o representante, por exemplo, de Hugo Leal), mas nos últimos tempos os seus principais negócios estiveram muito relacionados com o FC Porto.Para além de Figo, José Veiga protagonizou as saídas para o estrangeiro de muitos dos melhores jogadores do campeonato português, como Fernando Couto, Simão Sabrosa, Sá Pinto, Zahovic, Abel Xavier, Hélder e Dimas, etc. Aquele transmontano de 37 anos representa cerca de 150 jogadores, é um forte accionista da SAD do FC Porto, mas também representa ou participou na compra de 11 dos actuais jogadores do Sporting (Beto, Pedro Barbosa, César Prates, Luís Filipe, Sá Pinto, João Pinto, Paulo Bento, Hugo, Hélder Rosário, Beto II, Quaresma), o mesmo acontecendo com cinco do Boavista (Erivan, William, Petit, Pedro Santos e Gouveia). Apesar de, segundo a referida fonte, já ter protagonizado cerca de 30 operações só este ano, o empresário que há um ano fez com que o Real Madrid pagasse 12 milhões de contos por Figo é no Benfica que parece actualmente mais apostar. Este ano, levou alguns ex-portistas (Argel, Drulovic e Zahovic) para a Luz e está prestes a garantir o mesmo com o ex-sportinguista Simão Sabrosa, que poderá transformar-se na compra mais cara do futebol português (entre 2,5 e 3 milhões de contos). Será, no entanto, um negócio de oportunidade, já que nasceu do interesse do Barcelona em Mantorras. Assim, para que a transferência se concretize, bastará ao Benfica descontar Simão no preço que vier a ser estabelecido em relação a Mantorras, que só irá para Espanha em 2002/2003. E é devido à introdução desse activo (Mantorras) no negócio que o Sporting dificilmente poderá retirar vantagem da cláusula que lhe dá direito de preferência na compra de Simão.Apesar de se lhe poderem atribuir maus negócios, como foram as compras, no tempo de Vale e Azevedo, de Sérgio Nunes, Okunowo, Sabry e Dudic, na Luz estão satisfeitos com as transferências a custo zero de Drulovic, Cabral, Andersson e Zahovic (embora neste caso tenha sido dado em troca Marchena, que custara 1,2 milhões de contos). Argel custou 270 mil contos, Sokota 240 mil e o empresário terá conseguido gerir junto dos jogadores a actual política do clube da Luz, que passa por salários relativamente contidos e prémios altos - Sokota e Andersson vão ganhar cerca de 60 mil contos/ano, Drulovic menos de 140 mil e só Zahovic passa um pouco as marcas (manteve os 200 mil que recebia em Valência). Uma tentativa de inverter situações dos tempos de Vale e Azevedo, que só na época de 2000/2001 gastou 5,5 milhões de contos, a que se devem acrescentar ainda os 1,7 milhões gastos por Vilarinho com Roger e André.

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