A misteriosa Doyen Sports reforça compra de jogadores em Portugal

Foto
O internacional marroquino Labyad é um dos jogadores em quem a Doyen apostou e que joga actualmente em Portugal miguel Manso

Empresa de Malta comprou 80% de Ola John, 75% de Rojo e 35% de Labyad. UEFA continua a estudar hipótese de proibir parcerias e fundos de jogadores, o que afectaria muito os clubes portugueses

Ninguém sabe quem é, a não ser que está sediado em Malta. Não se lhe conhece um rosto, nem a origem do dinheiro. Quem negociou com eles nada diz. Estamos a falar da Doyen Sports, uma empresa que entrou em força no mercado futebolístico europeu, especialmente em Espanha, e agora alargou ainda mais a sua actividade a Portugal. Depois de em Dezembro de 2011 ter comprado 33,33% dos passes dos portistas Mangala e Defour, a Doyen Sports comprou no final de Agosto 80% do benfiquista Ola John, 75% do sportinguista Marcos Rojo e 35% de Labyad (também jogador do Sporting).

Ola John chegou neste Verão à Luz vindo do Twente, numa transferência de cerca de nove milhões de euros. O Benfica não comunicou o negócio à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) porque só é obrigado a fazê-lo nos casos em que a transferência represente cerca de 5% do seu activo - desde a fusão entre a Benfica SAD e a Benfica Estádio, esse activo aumentou consideravelmente, pelo que o clube da Luz só comunica transferências superiores a 20 milhões.

Já Marcos Rojo foi comprado pelo Sporting ao Spartak Moscovo. "Se a transferência se fez por quatro milhões de euros e o Sporting tem 25%, quer dizer que o Sporting pagou um milhão de euros", confirmou ontem Godinho Lopes, presidente do Sporting, que também dividiu com a Doyen Sports o investimento em Labyad, contratado ao PSV por 900 mil euros. Já o "vice" Nobre Guedes revelou ontem que também Viola foi contratado em parceira com investidores.

O PÚBLICO tentou saber se a CMVM tem alguma informação sobre esta empresa do grupo britânico Doyen, mas não foi possível obter resposta. A única pista continua a ser uma declaração do presidente do Getafe ao jornal El País, em Outubro do ano passado. "É um fundo britânico gerido por empresários portugueses, que é uma cisão do grupo que trabalhava com Jorge Mendes", disse Ángel Torres, que fez um contrato de patrocínio com a Doyen Sports - que nesta época tem o seu logótipo nas camisolas do Sevilha e Getafe, depois de no ano passado ter feito o mesmo com Atlético de Madrid e Gijón.

O PÚBLICO contactou vários empresários portugueses, mas ninguém sabe quem são os representantes da Doyen Sports, nem quem são os donos desta empresa. O secretismo que rodeia investidores deste tipo é precisamente uma das questões que têm levantado dúvidas sobre este mecanismo, cada vez mais utilizado em países como Portugal e Espanha. Em Inglaterra e França, os passes dos jogadores têm de pertencer a 100% aos clubes e a UEFA está agora a estudar uma eventual proibição ou limitação dos fundos e parcerias.

"Ainda é muito cedo para dizer o que vai acontecer, mas é provável que a situação actual não se venha a manter, porque há um conjunto avassalador de preocupações sobre estas práticas", disse ao PÚBLICO Emanuel Medeiros, director executivo da Associação Europeia das Ligas Profissionais de Futebol (EPFL), um dos elementos que têm participado nas discussões sobre este tema.

Muito pressionada pelas Ligas inglesas e francesa, a UEFA ainda não tomou uma decisão final sobre a third-party ownership (como é conhecida internacionalmente), mas já alterou os regulamentos, de modo a que a venda de passes de jogadores a terceiros não seja contabilizada nas receitas que contam para o cumprimento do fair play financeiro (as novas regras de controlo das finanças dos clubes).

Sugerir correcção