La Scala despede tenor que, por causa dos assobios, saiu do palco

Roberto Alagna tinha dito antes que actuar naquela sala é a mesma coisa que entrar numa arena. Substituto salvou Aida vestido de jeans e T-shirt

O tenor francês Roberto Alagna não vai voltar ao teatro La Scala, de Milão, para representar o general egípcio Ramadès na ópera Aida, de Verdi, que teve a primeira récita pública no domingo. Nada disto seria notícia, se, por trás desta decisão, não estivesse uma atitude surpreendente do tenor: abandonou o palco em plena récita e após os assobios e apupos de alguns espectadores.A saída inesperada de Roberto Alagna, que, diz a Reuters, é considerado o "quarto tenor" e o novo Pavarotti para alguns especialistas, deu-se poucos minutos depois do início da performance e quando o tenor tinha acabado de cantar a ária de abertura, Celeste Aida. A reacção de uma parte da plateia terá surgido como resposta aos comentários de Alagna sobre o exigente público do La Scala - actuar naquela sala é, disse, a mesma coisa que entrar numa arena, comentou, reagindo às críticas à sua actuação na noite de estreia (quinta-feira), apenas para convidados. Alagna disse ainda que, após Aida, iria cancelar futuras presenças no La Scala e que a sua mulher, a soprano Angela Gheorghiu, poderia também cancelar a sua aparição na ópera La Traviata, em 2007.
No domingo, o tenor de 43 anos deixou sozinho em palco o cantor Ildiko Komlosi. Após alguns minutos de embaraço e pânico, a situação foi resolvida por Antonello Palombi, substituto de Alagna, que saltou para o palco vestido de jeans e T-shirt. "Foi um bom teste e passei-o", disse Palombi após o final de nove minutos de aplausos a esta produção de Franco Zeffirelli, que abriu a nova temporada do teatro. Esta ópera marca o regresso de Zeffirelli, de 83 anos, ao teatro lírico com uma "encenação grandiosa e colossal", como dizem unanimemente os jornais italianos, e acompanhado por 350 cantores, coristas, bailarinos e figurantes.
Ontem, o director-geral e artístico do La Scala, Stéphane Lissner, explicou em comunicado a decisão de afastar definitivamente Alagna das próximas representações de Aida: "O seu comportamento provocou uma ruptura definitiva entre o artista e o público." Lissner considerou ainda "deplorável" a atitude do tenor, acrescentando que "faltou ao respeito ao público e ao teatro". Em sua substituição, Walter Fraccaro estará hoje em palco.
Esta decisão terá surpreendido Alagna, que à AFP tinha dito estar pronto a voltar: "Espero novidades do La Scala, tenho um contrato de sete representações. Se eu sair, serei prejudicado." E explicou por que no domingo deixou o palco: pela frente tinha "um público hostil" que, diz, começou a assobiá-lo "antes" de começar a cantar. Disse ainda ter sido vítima de uma "cabala".
Saídas de palco como estas são pouco comuns. No entanto, a AFP destaca dois casos: Maria Callas, que fez isso várias vezes, em particular em 1957 na Ópera de Roma, e Montserrat Caballé, na Ópera de Paris no início dos anos 70.

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