João Maria Gusmão e Pedro Paiva também recusaram participar no BesPhoto

A dupla acusa o maior prémio de fotografia português de "promiscuidade institucional". Paulo Nozolino também não aceitou o convite

Os jovens artistas João Maria Gusmão e Pedro Paiva revelaram ontem terem recusado participar na edição deste ano do Prémio BesPhoto. É a segunda recusa a vir a público, depois da de Paulo Nozolino, e a iniciativa do Banco Espírito Santo (BES) e do Centro Cultural de Belém (CCB) recebe agora acusações de "promiscuidade institucional". "Quando falámos com o júri, o prémio apresentava-se com um conjunto de nomeados, que, para além de nós e outros dois artistas, incluía Paulo Nozolino. Tendo acompanhado a anterior edição e a premiação de Helena Almeida, decidimos recusar pelas mesmas razões pelas quais, viemos a saber mais tarde, Nozolino tinha recusado", disseram ao PÚBLICO os dois artistas, referindo-se à edição do prémio de Janeiro.
Nessa edição, os candidatos foram os consagrados Helena Almeida e Vítor Pomar e os mais jovens João Tabarra e Nuno Cera. Helena Almeida foi a vencedora depois de convidada a participar pela exposição antológica Pés no Chão, Cabeça no Céu, realizada no CCB com apoio mecenático do BES e com comissariado do director do Centro de Exposições do CCB, Delfim Sardo, que foi também membro do júri.
Tido como uma dos mais relevantes fotógrafos portugueses, Nozolino, 50 anos, foi este ano convidado pela retrospectiva Far Cry (Grito Distante), que apresentou no Museu de Serralves, no Porto, também com apoio mecenático do BES. Anteontem explicou ao PÚBLICO não ter querido arriscar uma repetição do cenário de Janeiro: "Da maneira como me foi apresentado, parecia que o prémio já era meu. Achei que, ao retirar-me, ia obrigá-los a substituir-me", disse Nozolino (ver PÚBLICO de ontem).
Vencedores do Prémio EDP Novos Artistas de 2004, João Maria Gusmão, de 25 anos, e Pedro Paiva, de 27, que trabalham em dupla, foram convidados pela sua primeira exposição num museu, a mostra Intrusão: The Red Square, que inauguraram em Março no Museu do Chiado, em Lisboa.
Os artistas acusam a primeira edição do prémio de "promiscuidade institucional" e, em relação a este ano dizem: "Para quê participar num prémio cujo artista mais consagrado tinha tido uma exposição patrocinada pelo mesmo banco? A este tipo de lógica, está subjacente uma instrumentalização dos artistas mais jovens."
"Se não aceitámos a nomeação foi por acharmos que a recusa podia perspectivar uma reavaliação da modalidade do prémio, daí acharmos que faz sentido divulgar a mesma recusa."
Contactados pelo PÚBLICO, os responsáveis pelo BesPhoto remeteram para hoje eventuais reacções. O prémio, que anunciou anteontem os seus nomeados de 2005 (António Júlio Duarte, 40 anos, José Luíz Neto, 39, José Maçãs de Carvalho, 45, e Paulo Catrica, 40) deverá escolher o vencedor dos seus 15 mil euros no início de 2006, a partir de uma exposição colectiva a realizar no CCB e a avaliar por um júri internacional ainda a apontar.
O júri de pré-selecção foi constituído pelos críticos e comissários David Barro, Margarida Medeiros, Miguel Amado, Miguel von Hafe Pérez e Sandra Vieira Jürgens. Na revisão de regulamentos que fez desde a sua anterior edição, o prémio decidiu desta vez não ter no júri representantes institucionais - na primeira edição foram Alexandra Pinho, pelo BES, Delfim Sardo, pelo CCB, e João Fernandes, por Serralves.

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