Geraldine Brooks derrotou E. L. Doctorow no duelo do Pulitzer

O júri do prémio de ficção escolheu entre dois romances históricos praticamente homónimos sobre a Guerra da Secessão - March e The March. Tal como em 1997, não houve prémio para o teatro

Era o duelo mais promissor da 90.ª edição dos Pulitzer - e ganhou quem apostou em Geraldine Brooks (australiana, ex-jornalista do Wall Street Journal, no seu segundo romance) contra E. L. Doctorow (judeu americano, escritor, multipremiado). Entre dois romances históricos praticamente homónimos sobre a Guerra da Secessão, talvez o tema fundador da literatura norte-americana (March, de Brooks, e The March, de Doctorow, que já tinha ganho o National Book Critics Circle), o júri do prémio de ficção preferiu o engenhoso exercício de Geraldine Brooks, que recupera em March uma figura emblemática do imaginário dos EUA: o pai ausente das Mulherzinhas, de Louisa May Alcott. A ex-grande repórter do Wall Street Journal para as questões das Nações Unidas - acompanhou diversas missões no Médio Oriente, na Bósnia e na Somália - recuperou a personagem de John March e transformou-a em protagonista de um romance que faz o contraponto do universo doméstico e resguardado de Mulherzinhas no campo minado da guerra em directo. Depois de Years of Wonder, March é o segundo romance de Geraldine Brooks, que tem também dois ensaios publicados: Nove Partes de Desejo - O Mundo Escondido das Mulheres Islâmicas (ed. Campo das Letras) e Foreign Correspondence.
Num ano em que voltou a não haver prémio para o teatro - o júri da categoria não quis escolher entre os finalistas Miss Witherspoon, de Christopher Durang, The Intelligent Design of Jenny Chow, de Rolin Jones, e Red Light Winter, de Adam Rapp -, mais duas mulheres ganharam o Pulitzer: Claudia Emerson na categoria de poesia, por Late Wife, uma colectânea de poemas epistolares sobre a sua transição de um casamento para outro, e a historiadora Caroline Elkins na categoria de não-ficção, pela investigação Imperial Reckoning: The Untold Story of Britain"s Gulag in Kenya. Professora de História em Harvard, Caroline Elkins investigou durante anos um período negro do colonialismo inglês de que praticamente não restam vestígios documentais: o Governo britânico mandou destruir toda a documentação relacionada com os centros de detenção e tortura criados entre 1952 e 1960, por onde se estima que tenham passado 1,5 milhões de quenianos independentistas da etnia kikuyu.
O ensaio Polio: An American Story, do historiador David M. Oshinsky, venceu na categoria de História. Oshinsky recorda o terror da poliomielite e a luta febril pela descoberta da vacina num trabalho de fundo que, sublinhou o júri, é sobretudo "um poderoso retrato da América" baby-boomer e suburbana dos anos 1950, "das suas obsessões e dos seus medos". American Prometheus: The Triumph and Tragedy of J. Robert Oppenheimer, de Kai Bird e Martin J. Sherwin, foi a biografia Pulitzer do ano: o júri distinguiu o primeiro grande olhar sobre o pai da bomba atómica e sobre o seu percurso acidentado, das crises pessoais em Harvard e Cambridge até à luta pela não-proliferação das armas nucleares, passando pela direcção do laboratório de Los Alamos, onde foram concebidas as bombas Little Boy e Fat Man usadas, respectivamente, em Hiroxima e Nagasáqui.
Na música, o Pulitzer foi para o pianista e compositor Yehudi Wyner, pelo concerto para piano Chiavi in Mano, uma encomenda da Boston Symphony Orchestra expressamente destinada ao pianista Robert Levin.

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