"A Orquestra Metropolitana é um tesouro que tem de ser salvo"

Após um longo período conturbado que conduziu ao afastamento de Miguel Graça Moura, na sequência de irregularidades de vária ordem na gestão da instituição, a Orquestra Metropolitana de Lisboa (OML) entra a partir de agora numa nova etapa da sua existência. A nova direcção acaba de designar um novo maestro titular, Brian Schembri, que terá a sua apresentação oficial no concerto desta tarde (às 17h30, no Teatro Municipal São Luiz), onde irá dirigir algumas páginas célebres do repertório orquestral: a Sinfonia nº 41 ("Júpiter"), de Mozart; a suite de danças "Le Roi s'amuse", de Délibes, e a Sinfonia nº 1 ("Clássica"), de Prokofiev.Originário de Malta, Brian Schembri reside actualmente em Paris e tem feito carreira internacional como director de orquestra e pianista (ver caixa). Já tinha dirigido a OML, assim como a Orquestra Académica Metropolitana, em 2000, na qualidade de maestro convidado e a experiência tinha-lhe deixado uma grata recordação."Trabalhar com a Orquestra Académica foi uma óptima surpresa e um grande prazer. Fiquei surpreendido com o talento daqueles jovens. Foi muito encorajador ver a nova geração viver a sua actividade com aquela energia e entusiasmo", contou Brian Schembri ao PÚBLICO. "Acredito que a música clássica é uma parte essencial do desenvolvimento espiritual da sociedade. A sociedade contemporânea tem uma tendência óbvia para esquecer as grandes obras de arte. Por isso, este projecto - ao combinar uma orquestra profissional, uma orquestra académica e várias escolas de música - é tão importante. Não conheço nenhum outro do género. É um tesouro que tem de se salvar de todos os problemas que possam aparecer e que tem de se consolidar. Na vida as coisas podem parar muito facilmente. O difícil é iniciá-las e, por vezes, mantê-las."O convite para o lugar de maestro titular surgiu há muito pouco tempo e o contacto que teve com os instrumentistas e restantes estruturas da OML é também muito recente pelo que Brian Schembri considera prematuro falar de problemas específicos (mesmo no plano estritamente musical) e é cauteloso na definição de estratégias futuras. Para já o seu principal objectivo é reencontrar "a atmosfera positiva necessária, que faça lembrar às pessoas o seu interior artístico. e recuperar o prazer de fazer música." "Os problemas do dia-a-dia têm de ficar em segundo plano. Um músico é um artista e a música é a sua fonte de energia. Uma orquestra é uma estrutura viva, desenvolve-se ao longo do tempo, nunca é constante", explica. "É óbvio que esta não é a situação ideal para a OML - há muitos aspectos a ajustar (artísticos, musicais, logísticos, administrativos, etc.) -, mas sinto da parte da direcção uma atitude muito positiva e a vontade de encontrar soluções. É preciso muito trabalho e muito boa vontade da parte de todos de modo a que as coisas comecem a produzir resultados, quer no plano artístico, quer humano."O anterior modelo de concertos, que inclui a repetição de programas em locais distintos e alguma descentralização, vai manter-se. Quanto ao repertório o novo maestro aposta para já nas obras-primas como forma de "fomentar o desenvolvimento das capacidades da orquestra e chegar a um público mais vasto". "Acredito na acção positiva que as obras-primas do repertório clássico exercem numa orquestra. Muitos professores defendem que é melhor desenvolver os estudantes através da grande música, mesmo se não foi especificamente escrita a pensar em trabalhar determinados aspectos técnicos. Algumas pessoas criticarão o facto de serem obras demasiado populares, que já toda a gente conhece, mas elas não são obras-primas por acaso. Não há nada melhor que uma grande obra de arte para desenvolver musicalmente e espiritualmente a relação entre os músicos e a sua relação com o público."Para os próximos concertos estão agendadas peças de Schubert, Bizet, Beethoven e Mozart, mas haverá também algumas obras do século XX e virão maestros convidados com outras propostas. "Furtwangler discutiu com muito detalhe as questões de organização dos programas. Admito que o modelo tradicional possa ser aborrecido, mas muitas vezes é uma saída. Nem sempre é uma questão de comodismo. Por exemplo, no caso desta orquestra, as suas dimensões estão vocacionadas para um certo tipo de repertório. Estamos à partida a trabalhar num universo restrito. Mais importante que o modelo é a qualidade das obras e que elas estejam no sítio certo. Por natureza, não costumo decidir este tipo de coisas intelectualmente ou a partir de ideias pré-concebidas, deixo a minha intuição trabalhar. Fazer música é comparável a uma relação amorosa. Por isso é tão importante interpretar os compositores de que gostamos, de outra maneira a química não funciona. Estudando a obra, o intérprete assimila-a, ela torna-se parte dele, convertem-se num só."Orquestra Metropolitana de LisboaBrian Schembri (direcção musical)Obras de Mozart, Délibes e ProkofievLISBOA Teatro Municipal São Luiz, às 17h30.

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