Filho de Reagan defende investigação em embriões humanos

Perante 20 mil pessoas reunidas na convenção do Partido Democrata, em Boston, nos Estados Unidos, Ron Reagan, filho do ex-Presidente republicano Ronald Reagan, apoiou a investigação científica em células estaminais de embriões humanos. E disse que em Novembro, quando forem as eleições presidenciais, os norte-americanos terão a possibilidade de escolher, em relação à investigação em células estaminais, "entre o futuro e o passado, a razão e a ignorância, a verdadeira compaixão e a mera ideologia". Num discurso que a agência noticiosa Associated Press classifica como uma bofetada no partido político do pai, que é contra a investigação nestas células por implicar a destruição dos embriões, Ron Reagan lembrou as potencialidades desta nova área científica para a medicina do futuro. "Estou aqui esta noite para falar do que poderá ser o avanço médico do nosso tempo ou de todos os tempos - o uso de células estaminais, criadas usando o nosso próprio corpo - para curar uma larga variedade de doenças fatais e debilitantes", disse Ron, já era madrugada de quarta-feira em Portugal, na convenção democrata, onde se formaliza a candidatura de John Kerry às eleições presidenciais dos EUA. Ron Reagan, de 46 anos, tornou-se defensor da investigação em células estaminais depois de o pai ter sido diagnosticado com a doença de Alzheimer, que causa a degeneração do cérebro e não tem cura. Ronald Reagan, que por certo não apoiaria este tipo de investigações, tendo em conta alguns dos seus escritos sobre o aborto e os embriões humanos, morreu no mês passado, aos 93 anos. A sua mulher, Nancy Reagan, também tem sido uma forte defensora da investigação nestas células (em Maio afirmou apoiou-a publicamente, pela primeira vez, num jantar que reuniu várias celebridades, como o actor Michael J. Fox, que sofre da doença de Parkinson). Os cientistas vêem muitas potencialidades nas células estaminais ou indiferenciadas, que no embrião dão origem a todos os tipos de células de um ser vivo. Pensam que um dia, depois de aprenderem a manipulá-las, poderão ser usadas para reparar lesões e órgãos doentes ou tratar doenças neurológicas como a Alzheimer e a Parkinson, estas sem possibilidade sequer de se fazer um transplante porque envolvem o cérebro. A manipulação das células estaminais para criar o tipo de células necessário para um tratamento, por exemplo, neurónios, aliada à clonagem humana, que implica a criação de um embrião clone da pessoa a tratar, resolveria a escassez de órgãos para transplante, a rejeição imunitária de órgãos doados ou a falta de tratamentos para certas doenças. Só que a investigação em células estaminais, já para não falar da clonagem humana para fins terapêuticos, é altamente controversa. Para remover as células estaminais, os embriões têm de ser destruídos. Nos EUA, grupos religiosos conservadores e activistas contra o aborto, que fazem parte da base de apoio do actual Presidente norte-americano, George W. Bush, opõem-se fortemente a tal coisa. Ligam a destruição dos embriões ao aborto.No primeiro grande discurso da sua Presidência, a 9 de Agosto de 2001, Bush proibiu o financiamento, com dinheiros públicos, de investigações para obter novas linhas de células estaminais de embriões humanos. Apenas as linhas isoladas até àquele momento - e foi divulgada a lista - seriam financiadas. Levantaram-se muitas vozes contra esta decisão, não só de cientistas, segundo os quais essas linhas de células até não estavam em boas condições, mas também de alguns senadores republicanos e de Nancy Reagan, que aprovou, aliás, a ida do filho à convenção do Partido Democrata. John Kerry já prometeu que, se for eleito, acabará com as restrições impostas por Bush.Embora Ron Reagan, que vive em Seattle e é jornalista televisivo, insistisse que não estava ali para fazer um discurso político e que a investigação em células estaminais não deveria ser partidarizada, foi claro nas críticas a Bush e aos opositores da investigação em células estaminais. "Há aqueles que se metem no caminho deste futuro extraordinário, negando fundos federais para esta investigação básica crucial. Alguma desta gente, escusado será dizer, está apenas a afiar o machado político e deveria ter vergonha de si própria", referiu, de acordo com o "site" da cadeia televisiva CNN."A teologia de alguns não deve monopolizar a saúde e o bem-estar de muitos. Como podemos defender a vida, se abandonamos aqueles cujas próprias vidas estão em risco?", disse Ron, que deu o exemplo de uma amiga, de 13 anos, com diabetes juvenil. O que vamos dizer-lhe, perguntou: "Que, quando tivemos a oportunidade de a ajudar, lhe virámos as costas? Que, perante a oposição política, perdemos a coragem?" Há milhões de pessoas a sofrer com doenças debilitantes. "Talvez sejamos capazes de pôr fim a esse sofrimento. Apenas precisamos de tentar."

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