LITERACIA MEDIÁTICA

MILObs prepara o futuro da literacia mediática em ciclo de seminários

O Observatório Media, Informação e Literacia da Universidade do Minho convida todas as pessoas interessadas a pensarem consigo uma nova agenda.

educacao-media,publico-escola,
Foto
2.º Encontro Nacional de Jovens Jornalistas, na Escola Secundaria Jose Saramago, Mafra, 2023 Adriano Miranda

A partir do mês de junho, a literacia mediática está em debate no MILObs- Observatório Media, Informação e Literacia. “Presente e futuro da literacia mediática - contributos para uma nova agenda” é um ciclo de seminários que pretende pôr em perspetiva o que foi feito nesta área e pensar no imprescindível para o futuro. Prevê-se que sejam cerca de quatro sessões espaçadas no tempo.

A primeira aconteceu no dia 15 de junho e funcionou com uma espécie de preâmbulo, porque não se pensa o futuro sem olhar o passado. “A literacia mediática na última década: análise de um reducionismo preocupante” juntou mais de 70 pessoas numa sessão via Zoom para ouvir Manuel Pinto, co-coordenador do MILObs e investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade, e trocar ideias.

O convite à participação é feito a professores, profissionais dos media, investigadores, decisores políticos e estudantes, mas a organização garante que todos são bem-vindos. E que todos os contributos para o debate serão, certamente, úteis.

Nesta primeira sessão estiveram em cima da mesa aqueles que, para Manuel Pinto, foram os grandes acontecimentos dos últimos dez anos nas políticas públicas e as ações com mais consequência feitas por organizações dedicadas a esta área. Falou-se, por exemplo, do Referencial da Educação para os Media, feito em 2014 e revisto recentemente, e do trabalho desenvolvido pelo GILM - Grupo Informal de Literacia Mediática. Mas também se falou sobre o tema que ocupou grande parte do espaço dedicado à literacia mediática nos últimos dez anos: a desinformação. E é aí que reside o “reducionismo preocupante”.

“Preocupa-me que a desinformação, que é um tema muito importante, se tenha tornado uma questão quase monotemática. Isto reflete-se nas políticas, no financiamento da investigação, no financiamento de projetos inovadores”, explica Manuel Pinto ao PÚBLICO na Escola. “O que vamos vendo nos relatórios que vão sendo publicados noutros países é que anda tudo à volta do mesmo, o que é estranho. Cairmos numa agenda monotemática seria muito pobre”.

O co-coordenador do MILObs, que foi também um dos primeiros coordenadores do PÚBLICO na Escola, defende que áreas como os videojogos, “tão importante para os jovens”, e o cinema, com “um Plano Nacional que tem feito um trabalho importantíssimo”, não podem ser descuradas.

Independentemente de um Plano Nacional de Literacia Mediática

Na sessão de abertura do VI Congresso de Literacia Mediática, que decorreu em abril deste ano na Escola Superior de Comunicação Social, em Lisboa, o Ministro da Cultura Pedro Adão e Silva, deixou uma promessa: ainda este ano será criado o Plano Nacional de Literacia Mediática. Este ciclo de seminários não surge para lhe abrir caminho, garante Manuel Pinto, mas pode ser um espaço onde as pessoas que trabalham o tema “no terreno” diariamente podem debater o que há para fazer.

“O nosso papel enquanto observatório de uma universidade e de um centro de investigação é de contribuir para que o plano que se venha a desenhar tenha em conta alguns desafios que todos nós estamos a viver”, diz o investigador. É por isso que considera importante “não nos desligarmos da situação de guerra que estamos a viver”, que tem impactos globais e se liga com o modo como nós nos relacionamos uns com os outros. “Veja-se por exemplo fenómenos que podiam ser aparentados como polarização discursiva ou os chamados discursos de ódio nas redes sociais, as lógicas das bolhas de filtro que levam a juntar os parecidos e a excluir os diferentes. Tudo isto são sinais de um clima mais largo que não podemos deixar de agarrar”, continua.

Seja na preparação de um Plano Nacional de Literacia Mediática ou em qualquer outro trabalho feito nesta área, Manuel Pinto diz ser fundamental ouvir as crianças e jovens. Diz mesmo que “metodologicamente, se começássemos por os aspetos que mais dizem respeito aos mais novos, à sua própria agenda, para abrir outras agendas, nós podíamos ser, eventualmente, mais eficazes”. Mas não quer fechar as preocupações aos mais jovens: a educação para os media deve ser pensada para todos os cidadãos, e isso deve ser contemplado num plano à escala nacional, defende.

No final do primeiro seminário deste ciclo foi anunciado o próximo, com data ainda por definir mas previsto para setembro. Será “o princípio de uma nova agenda”.