Metro no Hospital de São João O túnel desejado

A três meses da inauguração da Linha Amarela, o Governo impôs à Metro o estudo de algumas alterações, mas não o enterramento da linha, desejado por várias instituições

Por estes tempos, o Porto parece uma cidade fadada a discutir túneis: os que existem e não acabam, como é o caso do de Ceuta, e os que não existem, e que, por isso também, geram problemas, como acontece na Linha Amarela do metro, na zona do Hospital de São João. Nos três anos que leva de obra, esta linha tem sido alvo de contestação por causa dos transtornos que a construção do troço subterrâneo tem provocado aos moradores da zona da estação de Faria de Guimarães. Mas, no final do ano passado, viu surgir à superfície do debate público a discussão em torno da solução, também ela à superfície, escolhida para o término do canal. Uma discussão que, há duas semanas, e a pouco mais de três meses da abertura do novo meio de transporte, levou a uma intervenção do Governo, que não impôs, contudo, o túnel desejado pelos contestatários. A discussão vinha acontecendo desde 2003 nos gabinetes, entre o São João, a câmara e a Metro do Porto. E se o finca-pé da anterior administração do hospital, liderada por Isabel Ramos, contra o projecto - que entretanto já levou à instalação da linha à superfície junto aos muros do estabelecimento, na rua do IPO, e na zona fronteira, na Alameda de Hernâni Monteiro - terminou com a saída daquela equipa dirigente, em meados do ano passado, nem por isso a polémica em torno do projecto parou. A Metro ter-se-á esquecido de contactar o outro condómino do espaço, a Faculdade de Medicina, e foi esta, a partir de Outubro, que reacendeu a luta, contra o desenho e contra a invasão de terrenos de que se afirma co-proprietária, tendo mesmo levado o caso à Justiça.
O tribunal ainda não decidiu o que fazer com a providência cautelar interposta pela escola dirigida por José Amarante, porque as duas partes em litígio concordaram recentemente no adiamento da decisão por algumas semanas, até se perceber no que dá a intervenção do Governo. Uma intervenção que foi a primeira vitória de uma comissão ad hoc na qual se juntaram médicos e dirigentes de organizações profissionais do São João, a faculdade, utentes, estudantes e, mais recentemente, a Escola Superior de Enfermagem, que funciona no interior daquele campus "cercado" a poente pelo metro.
Sob o lema Enterre o metro antes que o metro o enterre a si, e com um argumentário suportado nos eventuais perigos que uma linha à superfície pode trazer para os milhares de pessoas que circulam naquela zona da cidade, e nos constrangimentos que podem advir da entrada das ambulâncias na Urgência a partir de um túnel com elevada inclinação, esta comissão conseguiu convencer a secretária de Estado dos Transportes a impor à Metro do Porto uma solução de compromisso, e provisória, até que sejam definidas medidas minimizadoras daqueles impactes, denunciados também em pareceres recentes da Administração Regional de Saúde e do Instituto Nacional de Emergência Médica.
O metro não ultrapassará, por agora, a portaria principal do hospital, fazendo a inversão da marcha na estação, que será construída a alguns metros daquela entrada. Só que o Governo não mandou parar as obras, como desejavam os contestatários, nem se comprometeu com o enterramento da linha, cujo custo, aliás, ainda nem é conhecido com precisão. Uma derrota da comissão ad hoc? Ainda é cedo para o afirmar. Os deputados de todos os partidos que passaram pelo local não gostaram do que viram, o candidato do partido do Governo à Câmara do Porto, Francisco Assis, promete lutar pelo enterramento da linha e, no horizonte dos próximos dias, espera-se que a comissão parlamentar de Obras Públicas, Transportes e Telecomunicações interpele o ministro da tutela sobre o assunto.

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