EUA iniciam nas Filipinas segunda fase da guerra

Os Estados Unidos iniciam hoje a segunda fase da guerra global ao terrorismo com uma operação conjunta com as Filipinas que durará seis meses. Oficialmente é uma missão de treino mas todos sabem que os exercícios "Balikatan" (Ombro a Ombro) são um esforço conjunto para eliminar o grupo extremista islâmico Abu Sayyaf. Até porque se realizam no coração do território dos rebeldes - a ilha de Basilan, no Sul. Os soldados que participam nesta missão usarão os rebeldes do Abu Sayyaf como inimigo e os "conselheiros" das Forças Especiais americanas terão a seu cargo as unidades da linha da frente. Os 660 militares estrangeiros, dos quais 160 provavelmente entrarão em "acção", ficarão sempre sob comando de oficiais filipinos e só poderão disparar em "autodefesa". Encontram-se mais de 5000 soldados filipinos na região.Os EUA estão convencidos de que o movimento Abu Sayyaf, especializado em raptos para obter resgates (entre os seus reféns está um casal de missionários americanos), tem ligações com a organização terrorista Al-Qaeda, de Osama bin Laden. Por isso foi colocado numa lista de alvos preferenciais.Em 2000, o Abu Sayyaf atingiu o auge com a adesão do maior número de guerrilheiros de sempre, várias dezenas. Mas, na sequência de vários raptos de estrangeiros que lhes renderam o equivalente a 18 milhões de euros, os seus membros diminuíram porque o Exército intensificou a ofensiva contra o grupo. Hoje, existem menos de 100 guerrilheiros e cerca de 500 activistas em Basilan. Segundo um relatório publicado no princípio desta semana, 84 por cento dos filipinos aplaudem a presença americana, tendo muitos inquiridos afirmado que a presença estrangeira é a única forma de derrotar os extremistas.O padre Cirilo Nacorda, da cidade de Lamitan, em Basilan, raptado durante dois meses por este grupo, em 1994, está convencido de que existe corrupção e conivência a vários níveis. "Os soldados mais novos dizem-me que o dinheiro que deveria ser para eles nunca chega na totalidade às suas mãos", contou o sacerdote. "Mais significativo é que o Governo concede ao Exército um elevado orçamento para combater o grupo Abu Sayyaf e o Exército não quer perder esse dinheiro. Além disso, combater aqui é uma forma de obter uma promoção rápida."Como prova da conivência, o padre Nacorda explicou como os guerrilheiros do Abu Sayyaf tinham entrado, em Junho, nas suas instalações que servem de igreja e hospital, pouco tempo depois de terem regressado de Palawan com os seus reféns. "O Exército cercou-os durante 18 horas e depois eu vi que eles, subitamente, retiraram uma companhia, deixando o caminho livre para os guerrilheiros fugirem."Os militares negam veementemente estas acusações. O general Glicero Sua, comandante da força de intervenção encarregada de perseguir o Abu Sayyaf, diz que o Exército não conseguiu derrotar o grupo por causa dos terrenos inóspitos, de os rebeldes conhecerem melhor a ilha e do desejo das autoridades libertarem os reféns em vez de derrubarem a organização. "Podíamos bombardeá-los e disparar sobre eles, mas damos primazia à segurança dos cativos."O governador da ilha, Wahab Akbar, ele próprio um ex-guerrilheiro da Frente de Libertação Nacional Moro (MNLF), pensa que o Exército deveria retirar-se. "Nós resolveríamos o problema numa hora", assegurou. "Se fosse necessário prenderíamos os familiares [dos rebeldes] para eles verem como era." Foi exactamente isto que ele fez num rapto há dois anos e conseguiu resolver o caso. Akbar conclui que o problema de Basilan é principalmente a falta de lei que permite os raptos e tiroteios, é "70 por cento de pobreza, 20 por cento de história, cinco por cento de economia e cinco por cento do resto".Os responsáveis da comunidade concordam. O professor Datu Amilusun Muamaani, director da Salaam Peace Foundation, disse que o Governo está a dar muito mais ênfase ao aspecto militar e não está a ser sensato em relação aos sentimentos dos cidadãos locais - os moros. "É a cultura dos moros", observou. "Alguém apanhará sempre os punhais caídos, a não ser que o Governo leve a sério um diálogo político."Em todo o caso, o Executivo regista progressos na frente política. Os dois principais grupos secessionistas, a MNLF e a Frente de Libertação Islâmica Moro (MILF), parecem aceitar maior autonomia em vez de independência, embora facções renegadas continuem a defender a luta armada. Alguns combatem sozinhos, como Abu Sayyaf ou o Pentagon (grupo de raptores composto por uma dezena membros da MILF, com quartel-general a 170 quilómetros da ilha de Mindanau). Apesar deste sucesso, poucos cidadãos de Basilan crêem que este seja um atalho para uma paz permanente. "Estou contente por os americanos estarem aqui, mas penso que ainda vamos ter uma longa batalha", observou Lillian Lan, comerciante na principal cidade da ilha, Isabela. "Penso que a luta vai continuar pelo menos por mais um ano."

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