O tudo ou nada do PP para recuperar ao Vox a liderança da direita catalã

Novo partido da direita radical apresenta propostas idênticas às do Vox, mas defende a independência unilateral sem recuos.

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Alberto Nuñez Feijóo e o candidato do PP, Alejandro Fernandez, no encerramento da campanha, em L'Hospitalet de Llobregat, Barcelona ANDREU DALMAU/EPA
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O duelo entre a direita na Catalunha é o que menos conta para o resultado final, mas terá sido o mais animado da campanha. Desesperado por vitórias – depois de ter vencido as legislativas sem conseguir somar apoios suficientes para governar –, Alberto Nuñez Feijóo apostou tudo em ganhar os eleitores que em 2021 fizeram do Vox líder da direita não independentista catalã.

“Feijóo copiou a mensagem mais grosseira do Vox, num sinal de nervosismo máximo”, escreveu Pilar Velasco no diário digital infoLibre, a propósito da afirmação com que Feijóo marcou a campanha: “A imigração ilegal ocupa as nossas casas”.

Há três anos, o PP baixou para uns míseros três deputados, ao mesmo tempo que o Cidadãos, que vencera as eleições de 2017, não ia além dos seis. Com o partido de centro que nasceu para combater o soberanismo condenado ao desaparecimento, o rival que importa é o Vox, que em 2021 se impôs como quarta força e elegeu onze deputados com promessas de pôr “fim à imigração ilegal e que nas escolas se fale castelhano”. A média das sondagens antecipa que chegue aos dez eleitos, atrás do PP, que deverá eleger pelo menos 12.

Com o PP a aproximar-se do Vox (apesar das diferenças: como diz Feijóo, a sua é a única direita “constitucionalista”, já que o Vox quer o fim das autonomias) e o surgimento de um novo partido da direita radical, a Aliança Catalã (que deverá eleger três a cinco deputados), em tudo semelhante ao Vox, menos no facto de ser independentista, o combate entre as direitas acabou dominado pelos temas preferidos dos ultranacionalistas.

“O PP enganou-se e ainda não assimilou o choque do que aconteceu depois das eleições gerais de 2023, onde claramente esperavam chegar ao poder”, diz José Pablo Ferrandiz, sociólogo e director de Opinião Pública e de Estúdios Políticos do grupo de estudos de mercado Ipsos em Espanha. Feijóo reagiu “por impulso, endureceu o discurso e começou a fazer oposição por fazer, opondo-se a tudo sem apresentar um projecto”, descreve.

Ainda que isso possa servir para eleger mais um deputado na Catalunha, a prazo, defende Ferrandiz, vai afastar eleitores do PP incomodados com essas posições. Independentemente dos resultados e acordos que saiam destas eleições, o sociólogo acredita que o PP “continuará a aprofundar este discurso duro e a questionar a legitimidade do Governo”, em parte porque os ciclos das lideranças são cada vez mais curtos e Feijóo, sabendo que lhe sobram “poucas oportunidades”, pensa cada vez mais “no curto prazo”.

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