Exército israelita entra em Rafah e assume controlo de posto fronteiriço com Egipto

Com a passagem para o Egipto cortada, pontos de fuga são ainda mais limitados.

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Exército israelita entrou em Rafah. As imagens da destruição no sul de Gaza Reuters, Joana Gonçalves
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O Exército de Israel confirmou, nesta terça-feira, que estabeleceu o controlo operacional do lado palestiniano da passagem de Rafah, que faz fronteira com o Egipto no Sul de Gaza, impedindo a saída de qualquer cidadão do enclave, naquele ponto que ainda funcionava como zona de escape para os palestinianos do território alvo de ataques desde Outubro. A entrada de ajuda humanitária fica igualmente comprometida, já que o posto fronteiriço de Kerem Shalom está também encerrado desde domingo.

Segundo a Reuters, um porta-voz da autoridade responsável pela passagem da fronteira de Gaza disse à agência noticiosa que a passagem de Rafah foi encerrada devido à presença de tanques israelitas. O diário israelita Haaretz, citando um oficial de segurança palestiniano e um oficial egípcio, diz que os tanques israelitas entraram na cidade de Rafah, no Sul de Gaza, chegando a estar a 200 metros da passagem para o vizinho Egipto.

O funcionário egípcio disse também que a operação parecia ter um âmbito limitado. As autoridades israelitas informaram os egípcios de que as tropas se retirariam após a conclusão da operação. De acordo com as autoridades de saúde palestinianas, citadas pela agência Reuters, desde que os tanques israelitas entraram em Rafah morreram pelo menos 20 pessoas em ataques a, no mínimo, quatro casas.

Wael Abo Omer, director de comunicação do posto de fronteiriço, publicou no Instagram imagens de um veículo blindado israelita que se preparava para destruir duas bandeiras palestinianas. “A passagem de pessoas e a entrada de ajuda humanitária foram completamente interrompidas. Mais de um milhão de palestinianos não tem alimentos”, diz o director de comunicações, de acordo com diário francês Le Monde.

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“Neste momento, temos o controlo operacional do lado de Gaza da passagem de Rafah e temos forças especiais a vigiar a passagem... É isso que vai decorrer nas próximas horas. A operação ainda não terminou... Não posso dar um calendário", disse um oficial militar na terça-feira de manhã, citado pelo jornal The Guardian. Além do controlo imposto no posto fronteiriço de Rafah, também o posto de Kerem Shalom, utilizado sobretudo para a distribuição de ajuda humanitária no Sul de Gaza, está fechado desde domingo, depois de um ataque ter sido reivindicado pelo Hamas. Três soldados israelitas ficaram feridos na sequência do ataque, disseram as Forças de Defesa de Israel (IDF) à AFP.

O anúncio do avanço militar de Israel sobre o Sul de Gaza, onde estão localizados mais de 1,5 milhões de palestinianos deslocados por causa do conflito, surge poucas horas depois de o Hamas ter anunciado que aceitava as condições para um cessar-fogo, o que acalentou as esperanças de uma trégua entre as duas partes.

Os responsáveis israelitas enviaram uma delegação para o Cairo para novas negociações. Num comunicado partilhado pela Al Jazeera, Benjamin Netanyahu deu instruções à delegação israelita para “manter a firmeza nas condições necessárias para a libertação” dos reféns e nos “requisitos essenciais para garantir a segurança de Israel”.

“Acreditamos que estas lacunas podem ser colmatadas”, disse, ontem, aos jornalistas, citado pela Reuters, John Kirby, porta-voz da Casa Branca para a segurança nacional, depois da confirmação de um novo encontro entre as duas partes.

“Não existem zonas seguras em Gaza”

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, advertiu, durante a tarde de terça-feira, que Gaza pode mesmo ficar sem acesso a combustível. Durante uma conferência de imprensa, Guterres disse que "o encerramento dos postos de passagem de Rafah e de Karem Shalom é especialmente prejudicial para uma situação humanitária já de si terrível". "Estes devem ser reabertos imediatamente. Só para dar um exemplo: corremos o risco de ficar sem combustível esta noite", referiu o português.

"Até os maiores aliados de Israel são claros: um ataque a Rafah seria um erro estratégico, uma calamidade política e um pesadelo humanitário", reiterou Guterres, insistindo depois: "Apelo a todos aqueles que têm influência sobre Israel para que façam tudo o que estiver ao seu alcance para ajudar a evitar uma tragédia ainda maior".

A ofensiva israelita em Rafah irá provavelmente matar mais civis e está a ser levada a cabo apesar dos avisos explícitos dos Estados-membros da União Europeia e dos Estados Unidos, lamentou, também na terça-feira, o alto representante para a Política Externa e de Segurança da UE, Josep Borrell.

“A ofensiva em Rafah recomeçou, apesar de todos os pedidos da comunidade internacional, dos Estados Unidos, dos Estados-membros da União Europeia, de todos os que pediram a Netanyahu para não atacar”, disse Josep Borrell aos jornalistas. “Receio que isto vá causar novamente muitas baixas, baixas civis. Digam o que disserem", disse, acrescentando: “Não existem zonas seguras em Gaza.”

Também o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Egipto condenou a operação israelita em Rafah, defendendo que o controlo de Israel sobre a passagem de Rafah entre Gaza e o Egipto punha em risco a entrada de ajuda humanitária em Gaza e a possibilidade de os habitantes do enclave palestiniano saírem para receberem ajuda médica. “Esta perigosa escalada ameaça a vida de mais de um milhão de palestinianos que dependem essencialmente desta passagem, uma vez que é a principal tábua de salvação da Faixa de Gaza”, refere o comunicado, citado pelo jornal The New York Times.

Na segunda-feira ao final do dia, os preços aplicados para as autorizações de passagem para o Egipto – cobrados por corretores ligados a empresários egípcios e aos serviços de segurança do Cairo – já tinham duplicado, explica o jornal Le Monde.

"Cobram até dez mil dólares (cerca de 9200 euros) por pessoa e eu não tenho dinheiro para isso", explicou ao jornal francês Jenin Al-Assar, que estava a tentar sair da Faixa de Gaza com os seus dois irmãos e os pais. Segundo o mesmo jornal, a saída de uma pessoa, até esta segunda-feira, podia ser negociada por cerca de cinco mil dólares por adulto e 7500 por criança. Mas com a ameaça de um ataque sobre Rafah e o aumento de procura para fugir daquela zona, os preços dispararam nas últimas horas de segunda-feira.

"Isto é devastador, porque este é o único ponto que os palestinianos têm utilizado para viajar para o estrangeiro e sair de Gaza. Os palestinianos deixarão de poder sair do território à luz desta operação israelita limitada", escreve na Al-Jazeera o jornalista Tareq Abu Azzoum, que cobre o conflito a partir do Sul do enclave para a estação pan-árabe.

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