Situar melhor os interesses de Portugal – quatro urgências e uma nota final

O patriotismo, em contraposição a nacionalismos exacerbados ou excitativos, é um valor salutar a preservar. Os traços culturais de uma nação importam e não são despiciendos.

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No quadro de uma meditação profunda sobre as nossas maiores vulnerabilidades e considerando a conjuntura de grande incerteza, o país não pode perder de vista o essencial. Vejamos:

– É patente a necessidade de um combate sério aos fenómenos de corrupção que se multiplicaram no seio de várias instâncias do Estado. No ano em que se comemoram cinco décadas de Abril de 1974 e se pretende evidenciar os seus méritos, exige-se que lideranças corajosas e comprometidas com o interesse geral ajudem a corrigir enviesamentos às regras democráticas. A democracia tem, obrigatoriamente, de ser sinónimo de rigor e transparência em todos os momentos.

– A emigração portuguesa é a maior da Europa e a oitava maior do mundo. Mais de um milhão e cem mil portugueses emigraram entre 2010 e 2023, com todas as consequências que tal sangria de população activa e de talentos representa. A este dado preocupante soma-se um cenário alarmante em termos de demografia, que afecta de forma grave o futuro do país a todos os níveis. Estas duas realidades requerem atenção premente por parte das instituições e dos responsáveis eleitos.

– No enunciado de uma maior afirmação externa, Portugal necessita de aprofundar seriamente a reflexão sobre as consideráveis incongruências existentes em termos das suas capacidades militares, que deverá passar, a fortiori, pelo reapetrechamento urgente das suas Forças Armadas. Actualmente conta com um reduzidíssimo efectivo militar, que se abeira de forma preocupante da irrelevância. Sublinhe-se que entre 2015 e 2023 a categoria de praça se reduziu mais de 40%, uma diminuição que não podemos deixar de caracterizar como alarmante quando se equacionam as necessidades de defesa do nosso país num quadro internacional perigoso.

A atenção a este problema assume agora contornos de imperativo nacional, de modo a permitir às Forças Armadas Portuguesas a continuidade de uma participação activa em coligações internacionais, contribuindo quer para a redução dos factores de vulnerabilidade, quer para o aumento da relevância de Portugal, seja no quadro das Nações Unidas, da UE, da NATO, ou da CPLP. A história das relações internacionais mostra-nos recorrentes exemplos de inadvertência, que tiveram custos irremediáveis.

– Outra prioridade cimeira prende-se com a importância estratégica da economia dos mares e do oceano, onde se impõe uma aposta efectiva e consistente. Existe demasiada retórica, muitos «chavões» e quase nenhumas realizações. Olhemos para Espanha que detém um fortíssimo empório marítimo nas suas mais diversas valências. De notar que o país vizinho tem menos mar e uma zona económica exclusiva consideravelmente mais pequena. Impõe-se questionar: De que estamos à espera? Deixamos, por isso, uma chamada específica sobre a necessidade de Portugal aumentar o esforço de pesquisa dos recursos minerais do fundo do Oceano Atlântico, sobre o qual almeja mais direitos através da expansão da sua plataforma continental. Um legado que a geração adulta de hoje tem obrigatoriamente de deixar aos jovens. Afigura-se igualmente imperioso o reforço geral dos meios ao dispor da Marinha.

Uma nota final

O patriotismo, em contraposição a nacionalismos exacerbados ou excitativos, é um valor salutar a preservar, sendo a base da identidade, da força, e da independência do país. Os traços culturais de uma nação importam e não são despiciendos. Como tal, a reposição do escudo e da esfera armilar, símbolos, aliás, do universalismo dos Portugueses, faz todo o sentido. O que não faz qualquer sentido isso sim! é substituir por uma mancha amarela, sem qualquer critério válido, a marca histórica de um país plasmada na própria bandeira da República. Não oculto a profunda tristeza que senti ao abrir os sites das nossas embaixadas e de me deparar com tal “coisa”, que considerei um insulto à memória dos nossos avós. Para quem teve o privilégio de fazer comunicações de âmbito profissional ao longo de mais de quarenta anos nos cinco continentes e de ter testemunhado, em inúmeras instâncias, o reconhecimento por essa mesma universalidade que caracteriza os portugueses, afirmar que a mutilação da bandeira a torna “inclusiva” e “plural” é uma aberração rematada. Neste sentido, é fundamental reter que a especificidade cultural e política do nosso país no seio da União Europeia se amplifica precisamente em função do perfil universalista que se prolonga desde o Atlântico até ao Índico e ao Extremo Oriente.

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