BE e Chega distinguem-se, Livre e PAN assemelham-se

Catarina Martins foi eficaz neste segundo debate televisivo na pré-campanha para as europeias. Tânger Correia esteve contido. Francisco Paupério e Pedro Fidalgo Marques concordaram em quase tudo.

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Houve dois debates no segundo debate destas eleições europeias, esta noite, na RTP. Catarina Martins, cabeça de lista do Bloco de Esquerda, elegeu como alvo as políticas da extrema-direita, que considerou ser a principal ameaça aos valores europeus, e como destinatário António Tânger Corrêa, cabeça de lista do Chega.

A ex-líder do BE foi incisiva e eficiente nas críticas que fez, o vice-presidente do Chega foi contido e pouco combativo, e pouco se percebeu do que defende em várias matérias discutidas.

O segundo debate opôs os cabeças de lista do Livre e do PAN, Francisco Paupério e Pedro Fidalgo Marques, respectivamente. De facto, como sublinhou o moderador, Carlos Daniel, foi pouco o que distinguiu os dois partidos.

O primeiro frisou que o PAN não é um partido de esquerda e que não tem em conta a justiça social, o segundo deu como exemplo a protecção animal e o facto de o Livre concordar com a localização do futuro aeroporto em Alcochete.

Este segundo debate, um pouco à semelhança do anterior, teve como temas de discussão as grandes questões que preocupam a União Europeia (UE): a imigração, a guerra na Ucrânia, a defesa, o alargamento ou a emergência climática. Pode concluir-se que houve um consenso na maior parte das matérias entre os candidatos do BE, do Livre e do PAN e que estava reservado ao Chega o papel de elefante em loja de porcelanas.

Tânger Corrêa tentou fazer o mínimo de estragos possíveis, um equilíbrio entre a sua carreira de diplomata e uma propensão para o desvario. É essa tentativa de redução de danos que o leva a dizer que “não somos contra a imigração”, que os “brasileiros são excelentes”, o que permite supor que os outros não o são, ou que quem habita nos campos de refugiados vive em melhores condições daquelas em que vivem os imigrantes na zona dos Anjos, em Almirante Reis, Lisboa.

Embora reconheça que o país precisa de imigração, controlada e não escancarada, também afirma que temos de “pensar nos portugueses”, o que é uma variação cautelosa do lema “os portugueses estão primeiro”. Embora diga que Vladimir Putin cometeu um erro de cálculo ao invadir a Ucrânia, também defende uma pouco clara cooperação entre a Rússia e a Ucrânia e assume que não saberá o que poderá acontecer num cenário de eleição de Donald Trump.

Tânger tem, pelo menos, a certeza de que neonazis e marxistas são iguais, que o Japão terá alimentado um plano de invasão dos EUA, que só não pôs em prática porque a população civil americana estava armada, e que não há segurança sem defesa, pelo que propõe parcerias público-privadas na produção de armamento.

E outra certeza mais: o candidato do Chega é um ambientalista e o seu partido quem mais defende o meio-ambiente. Tânger Correia não é André Aventura; não possui a combatividade deste em debate.

Catarina Martins também não é Mariana Mortágua. A sua experiência política e comunicacional sobressaiu. A ex-líder do BE cumpriu o guião. Defendeu a regularização dos imigrantes em Portugal, sublinhou a forma como são tratados pelo Estado para o qual contribuem, mas que não é lesto a reconhecer os seus direitos, e como isto redonda na forma como são explorados por empregadores e senhorios sem escrúpulos: “O problema não está nas pessoas que imigram”.

A candidata do BE recusa mais investimento na defesa, diz que a UE não tem independência estratégica porque não quer e critica o eurocinismo europeu da venda de armas a Israel. A sua argumentação é convincente.

Paz, solidariedade e a necessidade de responder à ameaça da emergência climática foi um denominador comum aos candidatos do BE, Livre e PAN. Francisco Paupério, à semelhança do debate anterior, insistiu na necessidade de corredores humanitários, nomeadamente para refugidos climáticos, recusou a ideia de um país com portas escancaradas e defendeu a coordenação europeia nas suas fronteiras externas.

O candidato do Livre defende o apoio à Ucrânia, mas recusa o envio de militares para “não escalar o conflito”. Recupera a ideia de segurança alimentar ou energética, refere o alargamento como sinónimo de estabilidade e propõe uma “visão sistémica do ambientalismo”.

Pedro Fidalgo Marques, do PAN, nesta sua primeira aparição em debates, é quase um sósia do candidato do Livre. Fidalgo Marques fala em defesa dos refugiados climáticos, da necessidade de um processo de regularização de imigrantes ou de um “projecto europeu de integração”. Apoia a resistência ucraniana, mas defende a negociação e a diplomacia. O reforço da segurança, mas classifica como utópica a ideia de um exército europeu.

O debate terá sido mais esclarecedor no antagonismo das propostas do BE e do Chega do que entre o que defende o Livre e o PAN. Mas uma coisa é certa: debates como este, para utilizar uma expressão de Catarina Martins, levam a Europa a sério.

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