Colômbia pede oficialmente a Espanha restituição do tesouro dos Quimbayas

Em 2017, o Tribunal Constitucional decidiu que devia ser pedida a devolução das 122 peças que estão no Museu da América, em Madrid. Agora, ministro da Cultura colombiano envia carta ao seu homólogo.

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Peças do tesouro dos Quimbayas no Museu da América, em Madrid efe
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O escritor e ministro da Cultura colombiano Juan David Correa dr/cortesia Ministério da Cultura colombiano
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O Governo da Colômbia pediu oficialmente ao Governo de Espanha a devolução do tesouro dos Quimbayas, uma antiga colecção de 122 peças que é segundo o jornal El País, que deu a notícia, uma das mais apreciadas no Museu da América, em Madrid.

O ministro da Cultura colombiano, Juan David Correa, e o chanceler Luis Gilberto Murillo enviaram uma carta oficial ao ministro da Cultura espanhol, Ernest Urtasun, e ao ministro dos Negócios Estrangeiros, José Manuel Albares, solicitando a devolução do tesouro dos Quimbayas. “Este gesto – e o seu resultado esperado – está em conformidade com os modelos internacionais de políticas de descolonização de museus”, referem os governantes colombianos na carta de 9 de Maio.

O tesouro dos Quimbayas está na capital espanhola desde o século XIX e terá sido uma oferta do governo de Bogotá à regente Maria Cristina como forma de agradecimento pela mediação num conflito territorial com a Venezuela.

Em Fevereiro, o Governo espanhol declarou que "não existem dúvidas" sobre a legalidade da aquisição do tesouro por parte de Espanha e o director do Museu, Andrés Gutiérrez Usillos, dizia ao El País em Abril que houve um debate na instituição e que na sua perspectiva não houve abuso ou pilhagem no caso do tesouro dos Quimbayas. Opinião contrária tem o ministro da Cultura colombiano, para quem “há dúvidas que precisam ser levantadas” e que “houve uma pilhagem de um povo indígena colombiano, ao qual não foi perguntado nada, apesar de serem os donos desses objectos", referiu no artigo da correspondente do El País na Colômbia Camila Osorio.

E a carta, agora enviada, refere-se a esta colecção constituída por bens arqueológicos como cerâmicas ou peças de ourivesaria do período clássico do povo Quimbaya, que remonta a 600 a.C., que foram "saqueados por caçadores de tesouros locais e entregues pelo governo colombiano ao reino de Espanha em 1893, ignorando o seu valor cultural para a nossa nação". No entanto, esta carta não menciona que quem entregou o tesouro dos Quimbayas a Espanha foi o ex-Presidente Carlos Holguín, sem a aprovação do Congresso, como era habitual na altura, segundo o El País. Na Colômbia as opiniões sempre foram diversas quanto a este assunto, mas em 2017 os juízes do Tribunal Constitucional consideraram que deveria ser feito um pedido oficial para o repatriamento do tesouro. Os governos colombianos anteriores não avançaram muito na recuperação das peças e só agora o governo de esquerda do Presidente Gustavo Petro concretiza o pedido oficialmente.

O Ministério da Cultura espanhol ainda não deu resposta à missiva, revela o diário espanhol El País. Em Janeiro, Ernest Urtasun, na sua primeira ida à Comissão da Cultura do Congresso, tinha anunciado um processo de revisão das colecções dos 17 museus estatais espanhóis que permita “ultrapassar um quadro colonial ou um quadro ancorado em inércias de género ou etnocêntricas". Urtasun lembrou na altura que tanto o Museu Nacional de Antropologia quanto o Museu da América de Madrid já fizeram desta revisão um eixo transversal à sua programação temporária e que estavam a trabalhar para “tornar visível e reconhecer a perspectiva das comunidades e a memória das populações de onde vêm os bens expostos.”

Se a devolução da colecção dos Quimbayas for possível, escreve o Governo colombiano nessa missiva agora citada pelo El País, terá "implicações inestimáveis para a reivindicação da soberania cultural, o reconhecimento dos direitos dos povos e a gestão global das colecções culturais".

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