O ar da revolução

Poesia Pública é uma iniciativa do Museu e Bibliotecas do Porto comissariada por Jorge Sobrado e José A. Bragança de Miranda. Ao longo de 50 dias publicaremos 50 poemas de 50 autores sobre revolução.

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A revolução faz-me dar voltas à cabeça quando mergulho nessa
esperança de ter o mundo em mim sempre a girar, assim
como os dias e as noites que a minha alma iluminam
e apagam como se eu fosse a fogueira e as cinzas ao luar.

Sem revolução nenhum astro teria cadastro, nem a cidade
teria a idade que só os seres vivos conhecem, sem
estudos eruditos e pomposas declarações. A poesia
é a voz da revolução segundo Antero, pois cada sílaba cantada
faz estremecer o mundo por instantes que são eternos
na duração tão íntima da respiração e do espírito.

Trago comigo uma revolução que me foi prometida há muitos anos
e a minha cabeça não cessa de dar voltas até à tontura
porque a partitura dessa jura não cumpre a palavra pura.

Por isso vou sair do estado sólido e respirar o ar da revolução,
seja ela quem for, venha de onde vier e tenha a cor que tiver,
em todos os cantos da cidade e do coração sem idade.


Luís Adriano Carlos, n. 1959, V. N. Foz Côa. Reside no Porto a partir de 1977. Publicou vários livros de poesia entre 1983 e 2020, com chancelas como Moraes, Campo das Letras, ASA, Quasi e Porto Editora. Também crítico e ensaísta, foi galardoado com o Grande Prémio de Ensaio da APE em 2000. É professor da Universidade do Porto desde 1982.

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