Manifestantes pró-Palestina da Universidade de Colúmbia barricam-se em edifício

A universidade declarou que os alunos que não desocupassem o acampamento não acabariam o semestre. Em resposta, ocuparam o Hamilton Hall e ergueram a bandeira da Palestina.

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Os manifestantes barricaram-se no Hamilton Hall e ergueram a bandeira da Palestina REUTERS/Caitlin Ochs, REUTERS/Caitlin Ochs
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Os estudantes que se manifestam há semanas a favor da Palestina na Universidade de Colúmbia estão, esta terça-feira, barricados no Hamilton Hall, um dos edifícios desta instituição. As entradas estão tapadas, ouvem-se gritos que pedem uma "Palestina livre" e foram hasteadas bandeiras da Palestina numa das janelas, escrevem o The New York Times e o The Guardian.​

A situação começou a escalar depois de a administração da Universidade de Colúmbia ter começado a suspender, na segunda-feira, os estudantes que se estão a manifestar a favor da Palestina e se recusaram a desmantelar um acampamento de protesto no campus da cidade de Nova Iorque. A administração da universidade tinha dado até às 14h de segunda-feira para que todas as tendas fossem retiradas e os alunos que não respeitassem as políticas da universidade seriam suspensos e não poderiam concluir o semestre em situação regular.

Em comunicado, a presidente da universidade, Nemat Minouche Shafik, declarou que os dias de diálogo entre os activistas estudantis e os dirigentes académicos não conseguiram persuadir os manifestantes a retirar as 120 tendas. De acordo com o The New York Times, muitos manifestantes abandonaram o local na segunda-feira, mas várias dezenas de estudantes não arredaram pé — e mantiveram no local cerca de 80 tendas.

Em resposta, um "grupo autónomo" de manifestantes barricou-se no Hamilton Hall. Segundo um comunicado divulgado na rede social X (antigo Twitter) esta terça-feira, os manifestantes começaram a chamar Hind’s Hall ao edifício em homenagem a Hind Rajab, que descrevem como “mártir palestiniana assassinada pelo Estado genocida de Israel aos seis anos”.

Este foi um dos edifícios ocupados em 1968, durante os protestos contra a guerra do Vietname.

Suspensões para garantir a "segurança do campus"

“Começámos a suspender os estudantes como parte da próxima fase dos nossos esforços para garantir a segurança no nosso campus”, justificou Ben Chang, porta-voz da universidade, numa conferência de imprensa na segunda-feira à noite. “O acampamento criou um ambiente pouco acolhedor para muitos dos nossos estudantes e professores judeus e uma distracção ruidosa que interfere com o ensino, a aprendizagem e a preparação para os exames finais”, completou.

Inicialmente, Shafik tinha dito que a Universidade de Colúmbia não iria cortar as ligações com Israel, incluindo a parceria com a Universidade de Telavive, a principal exigência dos manifestantes. Em vez disso, ofereceu-se para investir na saúde e na educação em Gaza e tornar mais transparentes os investimentos directos da instituição.

Os manifestantes, por outro lado, dizem que vão manter o acampamento até que a universidade satisfaça três exigências: pare de investir em Israel, seja transparente no que toca às finanças e garanta amnistia para os estudantes e professores disciplinados que participaram nos protestos.

“Estas tácticas de medo repulsivas não significam nada quando comparadas com a morte de mais de 34 mil palestinianos. Não sairemos daqui até que a Universidade de Colúmbia satisfaça as nossas reivindicações ou que sejamos retirados à força", afirmaram os líderes da coligação Columbia Student Apartheid Divest, que está a liderar o protesto, numa declaração lida numa conferência de imprensa em resposta ao aviso da universidade.

Centenas de manifestantes, muitos deles com os tradicionais lenços palestinianos keffiyeh, juntaram-se à volta do perímetro do acampamento. “Divulgar! Desinvestir! Não vamos parar, não vamos descansar!”, gritaram.

Shafik enfrentou as críticas de muitos estudantes, professores e espectadores por ter chamado a polícia de Nova Iorque ao campus para desmantelar o acampamento de protesto.

Depois de terem sido detidos mais de 100 manifestantes no dia 18 de Abril, os estudantes montaram o acampamento num relvado coberto de sebes no recinto da universidade. Desde então, alunos de dezenas de campi de outras universidades, da Califórnia à Nova Inglaterra, montaram acampamentos semelhantes para mostrar a revolta que sentem devido à guerra em Gaza e a alegada cumplicidade das escolas que frequentam.

As manifestações pró-Palestina também deram origem a um intenso debate nas universidades sobre onde os responsáveis das escolas devem estabelecer a fronteira entre a liberdade de expressão e o discurso de ódio.

Os alunos que protestam contra a ofensiva militar de Israel na Palestina, incluindo alguns activistas pacifistas judeus, disseram estar a ser censurados e apelidados de anti-semitas por criticarem o Governo israelita ou por expressarem apoio aos direitos dos palestinianos. Por outro lado, há outros grupos judaicos que defendem que o discurso anti-israelita se aproxima frequentemente ou alimenta formas evidentes de ódio e apelos à violência e, por isso, não deve ser tolerado.

Manifestações de estudantes pelos EUA

Na Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), activistas pró-israelitas instalaram um grande ecrã e altifalantes para mostrar um vídeo com imagens do ataque do Hamas a Israel, a 7 de Outubro. O vídeo, alegam, tinha como objectivo contrariar as palavras de ordem pró-Hamas que se infiltraram nos protestos no campus, em apoio aos civis palestinianos cercados em Gaza.

A UCLA também reforçou a segurança em torno do acampamento pró-palestiniano, com mais de 50 tendas rodeadas por vedações metálicas junto ao edifício da administração principal.

Os grupos de defesa dos direitos civis criticaram a aplicação da lei em alguns campi, como o da Universidade Emory de Atlanta e o da Universidade do Texas, em Austin. Nestes campi, a polícia entrou a cavalo e com equipamentos de choque para dispersar os manifestantes na semana passada e detiveram dezenas de pessoas antes de as acusações terem sido retiradas por falta de provas.

No Texas, a polícia universitária, apoiada pela polícia estadual, tentou dispersar uma grande manifestação de estudantes com recurso a gás-pimenta e granadas de atordoamento. Segundo o advogado de defesa dos estudantes, George Lobb, foram detidos pelo menos 43 manifestantes.

Na Universidade Virginia Commonwealth, em Richmond, as autoridades e os manifestantes entraram em confronto ao início da noite, quando os agentes preparavam para desmantelar um acampamento. A televisão local transmitiu um vídeo em que a polícia, com equipamento de choque, pulverizava os manifestantes com o que parecia ser gás-pimenta e os detinha. Segundo a universidade, muitas das pessoas presentes não eram estudantes.

A cerca de 242 quilómetros desta instituição, as autoridades do Politécnico Virginia Tech anunciaram a detenção de mais de 80 manifestantes no domingo à noite, num acampamento liderado por estudantes que foram acusados de invasão de propriedade. Entre os detidos estão 53 actuais alunos. O vídeo publicado nas redes sociais mostrava os manifestantes a ecoarem a palavra “vergonha” enquanto outros eram detidos.

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Alunos atingidos com gás pimenta na Universidade do Texas Jay Janner/American-Statesman/USA Today Network via REUTERS
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