Ausência de traços rurais, sendo acentuados os superficiais

Já não é apenas a crónica incontinência verbal. Marcelo Rebelo de Sousa precisa de atear fogueiras para as apagar com novas achas.

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O título Influencer atribuído à operação que levou à queda do Governo liderado por António Costa, até no domínio da psicologia, diz tudo. “Já então a raposa era o caçador”, como escreveu Herta Müller.

A operação desmoronou-se com o acórdão prolatado pelo Tribunal da Relação de Lisboa. Não passou de uma coisa mal-amanhada que se abateu sobre duas das mais importantes instituições do país como um terramoto de grau máximo.

Ao invadir os domínios que invadiu, durante o tempo que entendeu, não descobriu nada de substancial e, apesar disso, a mais alta figura do Estado entendeu que aquelas não coisas envolviam Costa.

Prevaleceu o sentido mais oportunista da politiquice, criando as condições para mudar a agulha política à governação, alimentando na sociedade portuguesa, já de si descrente nos governantes e nos candidatos a governantes, mais descrédito de que a extrema-direita se aproveita, como se viu nos últimos resultados eleitorais.

Convém lembrar que uns tempos antes o homem confessou, a caminho de Viseu, conduzindo uma jornalista, que tinha um sonho e quando um homem sonha a obra aparece, não é? Tudo se liga.

Numa investigação um sinal não passa de um sinal, como bem sabe qualquer principiante. Bastou, porém, um sinal arrancado nos confins da imaginação para o Ministério Público achar virginalmente que “aquelas coisas” eram o que visivelmente não eram…

Com um sorriso entre o patético e o apanhado em flagrante, o homem que demitiu Costa disse que não comentava, mas comentou e concluiu que Portugal ia ter alguém no Conselho Europeu (algo hipotético, dependente dos resultados eleitorais) o que demonstra a sua propensão para as desculpas de má consciência e para dizer o que lhe sai por impulso primário.

A sua expressão facial era demonstrativa do incómodo de um homem à deriva e apanhado na ratoeira de um parágrafo que envergonhará os seu(s) autor(es) para todo o sempre.

Este é o homem que diz o que diz sobre si, o filho, a procuradora-geral da República, Costa, Montenegro e tudo o que tiver à mão como se o vértice do Estado servisse para se exibir superficial e mundano.

O homem que disse ter um sonho e que já só tinha pesadelos, pois todos os dias tinha de adiar o tal sonho de ver a direita no Governo, correu a tocar a campainha da Assembleia da República, fechando-a.

Em Portugal não há eleições para primeiro-ministro. Costa foi candidato à AR nas listas do PS. Foi o PS que teve uma maioria absoluta. Neste homem, que tocava à campainha de outro político, tudo não passa de uma conveniência.

O homem que comenta hora sim hora sim não queria ir da abalada sem o sonho concretizado. Expiando culpas, uma espécie de arrependimento judaico-cristão pela maldade praticada, apontou Costa para Bruxelas.

Já não é apenas a crónica incontinência verbal. Precisa de atear fogueiras para as apagar com novas achas. As classificações de caráter de Costa e Montenegro baseadas nas origens de cada um revela um “novo” traço da personalidade do homem. Até onde irá M.R.S. ou já entramos num outro domínio?

Correndo o país a beijocar, alargando o raio de ação até às velhinhas ucranianas, o homem parece estar cada vez mais fechado em si, acompanhado de uma terrível solidão. No palácio onde continua a congeminar, a solidão persegui-lo-á. Por este andar, só os disparates lhe farão companhia.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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