40 anos depois, o “monstro” ainda está “à porta”

Em dia de comemorações e marcha lenta pelos 40 anos da democracia, o sentimento nas ruas do Porto é de emoção e revolta. Jorge Carvalho, ex-preso político, diz que é preciso uma nova revolução e Manuel Quintela, ex-militar do MFA, acredita que ainda não se cumpriu Abril.

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Paulo Pimenta
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Jorge Carvalho foi um entre centenas de pessoas que se juntaram em frente à antiga delegação da PIDE na Rua do Heroísmo para assinalar a data da queda da ditadura. Por volta das 14 horas, a Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP) – responsável pela organização do evento – distribuía cravos e panfletos com a letra de “Grândola Vila Morena”. Sob o mote “Abril de novo, com a força do povo”, associações  cívicas e partidos políticos (PCP, BE e Partido Livre) foram juntando gente e palavras de ordem à marcha que, cerca de uma hora depois, partiria rumo à Avenida dos Aliados.

Entre os presentes estava Manuel Quintela, aposentado, residente em Vila do Conde e ex-membro do Movimento das Forças Armadas (MFA). Contou ao PÚBLICO que há 40 anos trabalhava numa fábrica de confecções e no dia 25 de Abril levou para o trabalho “rádio, gravador e gira-discos” porque já sabia que algo ia acontecer. Manuel mostrou com orgulho o crachá do MFA que trazia preso ao casaco. “Este só sai à rua de 25 de Abril a 1 de Maio”, contou.

O ex-militar citou Vasco Gonçalves (ex-militar do MFA e primeiro-ministro entre Julho de 1974 e Setembro 1975) para dizer que se considera “um companheiro de Abril” e por isso todos os anos está presente nas comemorações do Porto. Num discurso algo emocionado, Manuel falou nas dificuldades do país, dos jovens que emigram e da pobreza, defendendo que “é preciso que Abril se cumpra de novo”.

Também Jorge “Pisco”, o último preso político a ser libertado pela PIDE, salienta a necessidade de uma nova revolta popular. “Estava pronto para fazer outra vez aquilo que fiz há 40 e tal anos atrás”, disse. Jorge acredita que é do povo que tem que vir a mudança e que nenhum governo é capaz de serenar a vontade popular. “Não é por acaso que um fundador do CDS disse que este é o Governo mais à direita que tivemos neste país”, lembra o ex-preso político, que deixa também o alerta de que “o monstro está à porta” e o povo tem que “acordar”.

Entre homenagens, histórias e memórias, cada vez mais gente se foi juntando em frente ao actual Museu Militar do Porto. Antes da partida para os Aliados, uma coroa de cravos vermelhos é colocada em frente à porta do edifício. No momento, as pessoas gritam palavras de ordem – “Abril vencerá”, “Viva o 25 de Abril” – e espontaneamente começam a cantar a “Grândola Vila Morena”.

Passavam cerca de 20 minutos das 15 horas quando, com bandeiras, faixas, megafones e cravos na mão, as pessoas começam a deslocar-se pela Rua de Ferreira Cardoso em direcção ao Campo 24 de Agosto. O desfile, em marcha lenta e debaixo de chuva, foi sempre acompanhado de dizeres e cantares em homenagem à revolução e contra o Governo. Pelas ruas, muita gente a observar a marcha e das janelas das casas e edifícios vinham os acenos com bandeiras de Portugal.

 O desfile chega à Avenida dos Aliados pelas 16 horas, onde já uma multidão estava reunida. No palco, ao fundo da avenida, estava a Orquestra de São Pedro da Cova a tocar as canções de Abril. A música deu lugar a uma série de discursos inaugurados pelo Coronel Ribeiro da Silva, responsável da delegação norte da Associação 25 de Abril.

As comemorações no Porto estendem-se ao longo da tarde e dão lugar à música à noite, no primeiro ano de Rui Moreira enquanto presidente da cidade. O PSD/Porto já veio acusar o actual executivo da Câmara do Porto de, “pela primeira vez em 40 anos de democracia”, não ter comemorado a data “numa cerimónia adequada nos Paços do Concelho”.
 
Texto editado por Leonete Botelho
 

   

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