Cartas ao director

Ouça este artigo
00:00
04:49

"Criança nepalesa vítima de linchamento"

A primeira notícia sobre este caso foi supostamente emitida pela Rádio Renascença e imediatamente replicada e ampliada pela comunicação social em geral que, na ânsia do tremendismo e das audiências, não se preocupou minimamente com a validação da mesma. Ajudaram à "festa" os populistas do costume, desta vez da esquerda, bem como o Presidente da República, que prontamente falou sobre um caso que, afinal, parece não ter existido ou nada teve a ver com a forma como foi noticiado.

E o mais grave de tudo foi a forma como a notícia foi dada, referindo um linchamento. Pelos vistos, os jornalistas e até o Presidente da República não sabem, ou fingiram não saber, o significado mais comum para este substantivo que, segundo a Wikipédia, é "o assassinato de uma ou mais pessoas cometido por uma multidão com o objectivo de punir um suposto agressor ou para intimidar, controlar ou manipular um sector específico da população".

Espero que a ERC actue com mão pesada sobre a comunicação social que iniciou ou cavalgou este caso. Quanto a outros intervenientes, o povo que julgue.

Armando Carvalho, Barcarena

Fundamentalismo contra extremistas fundamentalistas

Não sendo eu de nenhum extremo, considero que se desenvolve, hoje em dia, um certo fundamentalismo contra os extremismos fundamentalistas. Não se percebe o porquê de tanto alarido, quando, por comparação, os portugueses não se insurgiram quando Dijsselbloem (presidente do Eurogrupo, em 2017) acusou os europeus do Sul de gastarem dinheiro em “copos e mulheres”.

O pior das declarações de André Ventura não foi literalmente a sua apreciação, mas sim, como Dijsselbloem, generalizar comportamentos, isto é, meter tudo no mesmo saco. Pior do que o estigma, é não discernir que em cada país “há de tudo”; assim como nos diferentes países (nos quais se incluem os Países Baixos), na classe política, na direita, na esquerda, na classe dos médicos, professores, etc.

O que André Ventura fez, mais do que estigmatizar, foi adoptar uma declaração brejeira, porque generalista, infundada e deselegante. Aliás, como se vai assistindo, desde há muito tempo no Parlamento, vindo dos extremos ou não. O fundamentalismo contra extremistas fundamentalistas não deixa de ser, em si, um fundamentalismo dispensável.

Luís Filipe Rodrigues, Santo Tirso

Suplementos de risco às polícias

Aquando do meu cumprimento do serviço militar obrigatório, no início dos anos 70, tomei conhecimento de que para as chefias militares era mais importante uma arma de combate do que um soldado. Não sei até que ponto isso seria verdade. Sei apenas que qualquer graduado militar valia muito mais do que os soldados.

Apesar de muita coisa ter mudado, continua a haver intenções do poder político em discriminar claramente os subordinados relativamente às chefias, como o demonstra a proposta dos suplementos de risco às forças de segurança. Se é natural que os salários sejam em conformidade com a hierarquia, já não é lógico que, sendo os agentes os que mais arriscam a sua vida, o suplemento seja inferior ao das chefias. Pela proposta do Governo, as vidas das chefias valem mais do que as dos agentes, ou não será?

Mário Pires Miguel, Reboleira

As eleições para o Parlamento Europeu

Portugal vai eleger os seus 21 representantes ao Parlamento Europeu, os quais tentarão, quanto possível, defender os interesses comuns da União Europeia, e dos portugueses em particular.

Vêm-nos à memória alguns sobrenomes, como, por exemplo, Temido, Bugalho, Paupério e outros afins.

Também nos vem à ideia João Oliveira a querer que o “seu povo” saia imediatamente do euro, talvez impressionado com o enredo do romance Jangada de Pedra, em que o seu autor, José Saramago, narra ficcionalmente a separação geográfica da Península Ibérica.

É que João Oliveira só quer todo o bem para o "seu povo".

Para além da defesa acérrima de outras ideias contrárias à coesão europeia, perguntamos-lhe que moeda acha aceitável para o "seu povo", que não para o nosso povo?

José Amaral, Vila Nova de Gaia

​Dentro da casa da democracia vive a democracia

A democracia defende igualdade, fraternidade e liberdade. A democracia tenta ser a favor, em prol das maiorias, a decidir a bem do máximo possível de pessoas, tendo como base, nunca, nunca excluir ninguém. Somos humanos, todos diferentes, mas todos iguais no aspecto mais relevante que é sermos uma raça única, a raça humana.

Pelo que a exclusão, a menorização, o amesquinhar de alguém perante outras e outros é inadmissível em democracia. Se for permitido menorizar turcos, chineses, ciganos, judeus, islamitas e mais que possa ser, é racismo, é xenofobia, é tudo o que não se coaduna com a democracia.

A liberdade democrática existe até ao limite de não desfazer por dentro a própria democracia. Pensar ou actuar diferentemente é ajudar a que a democracia acabe.

Augusto Küttner de Magalhães, Porto

Sugerir correcção
Comentar