Cartas ao director

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Debates nas europeias

A discussão política pública é feita, hoje em dia, sobretudo nas televisões e nas redes sociais. No segundo caso, o modelo é tribalista e monolítico, com a interacção entre grupos a ser feita, maioritariamente, com recurso ao insulto e sem hipóteses de debate. A qualquer eleitor, indeciso e anónimo, que procure informar-se sobre as diferentes alternativas dos partidos, não lhe resta um outro caminho melhor do que a televisão. Com os 28 debates propostos, pela primeira vez haverá a possibilidade de se analisar a posição a adoptar por Portugal na UE, de uma forma global e sistematizada, com os moderadores a levar os candidatos – espera-se – a responder apenas às questões europeias e mundiais, evitando deixar resvalar as discussões para os assuntos da política interna, como nas eleições anteriores.

É inaceitável ouvir Pedro Nuno Santos dizer que, para esclarecer os indecisos, em vez dos debates, são preferíveis os comícios partidários e os contactos de rua, como se aí se debatessem propostas alternativas sobre a Europa e o mundo. Creio que as verdadeiras razões para esta posição serão outras, por um lado, minimizar o palco para o Chega, e, por outro lado, evitar a demasiada exposição da possível falta do conhecimento e do saber europeus pela candidata. De facto, Marta Temido foi escolhida como cabeça de lista, não devido ao seu superior domínio do estado da arte política em Bruxelas, mas sim devido ao facto de ter sido uma figura marcante durante a pandemia. A posição da AD, idêntica à do PS, dever-se-á, exactamente, a circunstâncias semelhantes.

Albano Augusto Rosa, Amadora

Em defesa da língua

Relativamente à definição de uma política séria de defesa do nosso idioma, é manifesta a incapacidade dos sucessivos governos. Para fundamentar a presente asserção, basta trazer à colação a resignação geral perante as nefastas consequências da aplicação do novo acordo ortográfico. Entre outros aspectos, podemos salientar a acentuação do “ensurdecimento” da língua de Camões, de que tem sido exemplo mediático a bárbara pronúncia de “ação”: “a São”! Mas não é caso único: veja-se a confusão entre “conceção” e concessão, “interceção” e intercessão, etc. Estamos perante uma das mais graves incongruências resultantes da eliminação das chamadas (de forma errónea!) “consoantes mudas”. No português europeu, com efeito, o seu papel é decisivo, porque obrigam à abertura da vogal anterior. Isto seria bastante, aliás, para que já estivesse em cima da mesa a indispensável reforma da ortografia vigente.

Além desse “ensurdecimento”, assistimos à crescente pobreza lexical e sintáctica da maioria dos falantes, cuja exemplificação cingimos aqui à expulsão do “vós” da praça pública, com a consequente e sistemática construção de frases incorrectas (v.g.: “Enviem os vossos votos!”). Ora, qualquer política de defesa do Português que seja digna do seu nome não pode alhear-se da erosão gramatical da nossa língua, devendo promover estratégias que a combatam. Onde estão elas?

Eurico de Carvalho, Vila do Conde

Medina e Sarmento

A recente polémica entre Fernando Medina e Miranda Sarmento sobre o desvio orçamental do 1.º trimestre é recorrente quando se trata da coisa pública, neste caso o Orçamento do Estado. Diz Fernando Medina (Jornal da Noite, SIC, 3/05) que não devemos confundir o regime de caixa (base periódica) com o orçamento anual (o que se envia para Bruxelas). Não entrando no âmbito da macroeconomia – por dever de ofício, estou mais ligado à microeconomia –, questiono se o resultado de uma fatia do ano (mês ou trimestre) não tem influência, pela agregação dos 12 meses do ano, no resultado global e no desempenho das contas públicas. Assumindo que a expressão (receitas - despesas x 12) é igual ao saldo final (excedente ou déficit), por que razão separamos as coisas? Ou aquilo que gastamos a mais no início não irá faltar mais à frente?

É como na casa de cada um; e o Orçamento do Estado é (ou deverá ser) o somatório dos milhões de casas do país; se gasta a mais, restringe a seguir, ou vai pedir emprestado...

Guilherme Lavos, Lisboa

Ataque racista no Porto

Um violento ataque racista na cidade do Porto visou imigrantes, deitando por terra o tal chavão do “jardim à beira-mar plantado”. O Governo e as autoridades policiais devem actuar com celeridade e punir os responsáveis. No entanto, é urgente aferir das condições de habitação e de trabalho em que se encontram esses imigrantes, não se esquecendo de investigar a onda de assaltos a estabelecimentos comerciais relatados pela comunicação social. Se há relação entre os furtos e as agressões, estamos perante uma calamidade social. Não basta protestar pelas agressões ou pelos roubos. Urge tomar a fundo medidas sociais antes que a violência se alastre com mais intensidade. Se Portugal é um país de emigrantes, deve sê-lo de imigrantes.

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

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