Andei a ver se seria uma fábula de La Fontaine, mas não me parece. A história é conhecida (e talvez seja apenas uma experiência científica!). Um dia, um sapo é posto numa panela com água fria e está tudo bem. A panela está ao lume, a água vai aquecendo e ele não se incomoda. Já um sapo que seja posto numa panela de água a ferver, fará tudo para sair dela, saltará. Mas, voltando ao primeiro sapo, a água aquece, aquece, até que o anfíbio acaba cozido.

Por estes dias, antes de chamar preguiçosos aos turcos, que as estatísticas comprovam que não são, o presidente do partido de extrema-direita não democrática já tinha feito um vídeo onde levantava suspeitas sobre a comunidade sikh, porque os homens usam uma espécie de punhal, o kirpan, um símbolo religioso, redondo e com o qual podem entrar num avião porque é um objecto inofensivo. Ao contrário do objecto, o discurso do populista não é inofensivo e tem consequências, de tal ordem, que membros da comunidade sikh reuniram-se com o Bloco de Esquerda para dar conta que se sentem ameaçados. Há décadas que há sikhs em Portugal, uma comunidade conhecida por ser pacífica, fruto da religião que professa, que procura o aperfeiçoamento para que consiga unir-se a Deus. 

Depois dos ciganos, dos muçulmanos, agora são os sikhs, amanhã será outra qualquer etnia ou comunidade. Esta semana, ouvimos também uma história de uma criança nepalesa que teria sido agredida numa escola, ouvimos a palavra "linchamento", com o Ministério da Educação a negar que tal tenha sucedido. No Nepal, as pessoas saúdam-se dizendo namaste, que significa "eu saúdo o divino que há em ti". É um daqueles países para onde os mais privilegiados viajam, à procura de significado para as suas vidas.

E volto ao sapo que acabou cozido. Lembrei-me dele depois de ouvir o presidente da Assembleia da República a normalizar o racismo e a xenofobia na casa da democracia. Pensei que o pior que podemos fazer é ficarmos como o sapo, acomodarmo-nos ao discurso de ódio, normalizá-lo e deixarmos de procurar e ver o divino que há em cada um de nós.

E a semana do Ímpar, perguntará o leitor? Bem, é espreitar as sugestões de leitura em baixo!

Boa semana!