Uma praia alinha-se para receber Marcelino Sambé, que nela desenhou uma reflexão da escravatura

As linhas, as cores, o movimento, a textura: tudo se alinhou quando Marcelino Sambé, bailarino feito capoeirista, usou como pano de fundo uma praia portuguesa para falar de escravatura sem usar palavras. O bailarino principal do Royal Ballet, actualmente a viver em Londres, aproveitou uma viagem à terra-natal para filmar uma reflexão do conhecimento que reuniu durante tempos "incrivelmente importantes": "Aprendi muito sobre o que ser negro significa realmente para mim e sobre o que os meus antepassados tiveram que passar para que eu pudesse estar aqui hoje", escreveu no Instagram, onde partilhou o vídeo, filmado por Carlota Bastos Carreira, posteriormente também partilhado no Facebook da Royal Opera House.

Quando olhou para trás, Marcelino viu "a escravatura que os portugueses faziam no Oceano Atlântico, tantas vezes esquecida nas escolas portuguesas, quase como um capítulo esquecido", e quis prestar um tributo. Chamou-lhe It's in our blood ("Está-nos no sangue", em português) e escolheu uma música que fala "desse momento crucial em que estes homens e mulheres chegavam e se juntavam à 'força de trabalho'" — Nego vai Juca, do Grupo Kaimbé. Juntou o ballet à capoeira (uma "arte incrível" que, "como o samba", foi criada "sob circunstâncias tão duras") e o resultado final é uma combinação harmoniosa que não deixa nada por dizer. O tronco despido, a luz, a pintura que vai fazendo na areia, a coreografia irrepreensível: tudo mostra o que lhe está no sangue, português e guineense. "Somos resilientes, somos atléticos, somos artísticos. Está-nos no sangue!"