Pode um buraco negro engolir uma estrela do tamanho do Sol? Sim, pode

Só acontece uma vez em cada 10 mil a 100 mil anos em galáxias do tamanho da Via Láctea, mas sim, é possível que um buraco negro engula uma estrela, mesmo que esta tenha o tamanho do nosso Sol. A prova está num vídeo divulgado esta semana pela NASA que descreve o acontecimento como star-shredding.

Pela primeira vez, o satélite TESS (Transiting Exoplanet Survey Satellite, em português o satélite de pesquisa de exoplanetas) da NASA observou um buraco negro a "engolir" uma estrela num fenómeno cataclísmico a que a agência chama de "perturbação das marés" (TDE, na sigla em inglês).

Com as observações que se seguiram foi possível produzir a imagem (e vídeo) mais detalhado até agora de um dos primeiros momentos em que uma estrela é destruída. "Os dados do TESS permitiram-nos ver exatamente quando é que esse evento destrutivo a que chamamos ASASSN-19bt começou a ficar mais brilhante, algo que nunca fomos capazes de fazer antes", refere Thomas Holoien, membro do Observatório de Carnegie, em Pasadena, na Califórnia, citado no comunicado da NASA.

A NASA estima que o buraco negro envolvido no evento tenha uma massa cerca de seis milhões de vezes maior do que a do nosso sol e está posicionado no centro da galáxia 2MASX J07001137-6602251, localizada a 375 milhões de anos-luz de distância da Terra, na constelação de Volans. A estrela era, avança a agência espacial norte-americana, semelhante em tamanho ao nosso sol.

O estudo liderado por Holoien e que revela a descoberta foi publicado esta semana na revista científica The Astrophysical Journal. Desde Abril de 2018, altura em que o TESS foi lançado, que o seu único objectivo é identificar exoplanetas (planetas que orbitam uma estrela que não o Sol e que, por essa razão, pertencem a um sistema planetário que não o nosso), mas isso não impediu o satélite de detectar os movimentos das estrelas que circulem nesse mesmo sistema. Quando uma estrela se aproxima demasiado de um buraco negro não consegue escapar à sua gravidade. Assim, parte do material é lançada no espaço (o brilho que é possível ver em redor do buraco negro) e o que resta é engolido pelo buraco negro.

"Apenas alguns TDE foram descobertos antes de atingirem o seu brilho máximo e este foi encontrado apenas alguns dias depois de começar a clarear. Além disso, graças ao facto de estar na chamada zona de visualização contínua do TESS, pudemos ter observações a cada 30 minutos durante meses", explica Thomas Holoien.

Alguns telescópios terrestres e espaciais conseguiram fornecer observações de acompanhamento do evento, capturando diferentes comprimentos de onda de luz que providenciaram informações sobre a velocidade e a composição do material da estrela. A equipa assistiu ao evento durante 42 dias antes deste atingir o seu pico de brilho e 37 dias depois.

O estudo das "perturbações das marés" (TDE) fornece não só uma nova visão sobre os buracos negros, mas também sobre a natureza invulgar deste tipo de acontecimentos. "A galáxia onde foi encontrada esta estrela contém mais poeira do que outras galáxias onde este tipo de eventos já ocorreu. Além disso, verificamos que a estrela teve um pequeno período em que arrefeceu antes de atingir o seu brilho máximo: a temperatura caiu cerca de 50%, de 71 mil graus para 35 mil graus Fahrenheit (de 39 mil para 19 mil graus Celsius) em apenas alguns dias —  esta foi a primeira vez que o arrefecimento foi registado durante um evento como este", lê-se no comunicado da NASA.

Em comparação com as "perturbações de marés", as supernovas, eventos astronómicos que ocorrem durante os períodos finais da vida de algumas estrelas e que são caracterizados por uma explosão muito brilhante, acontecem a cada 100 anos. No total, os astrónomos observaram apenas cerca de 40 TDE até agora e os cientistas responsáveis pela monitorização do TESS previram que este assistiria a apenas uma (ou duas) perturbações na sua missão inicial de dois anos.