Acabar com a fome no mundo não combina com fundos de capital de risco

Robert Opp, director de inovação do Progama Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas veio, como muitos outros, à Web Summit à procura das novas ideias e tendências no mundo da tecnologia. Mas a sua missão é, à partida, menos atraente para os grandes investidores: acabar com a fome no mundo.

É a segunda vez que Robert visita a feira de tecnologia no Parque das Nações, em Lisboa, e que, no palco, tenta aliciar os criadores a pensarem em inovações que possam servir no combate à fome. Não tem dúvidas de que o encontro é positivo para conhecer “pessoas e organizações que estão a trabalhar em tecnologias importantes”.

Mas é preciso encontrar modelos de negócio que ajudem quem quer dedicar-se a este problema. “Há interesse por parte das empresas em ver como é que as suas inovações podem ser aplicadas em problemas como a fome. Mas, porque elas têm financiamento de capitais de risco, que procuram um retorno rápido, ou uma comercialização mais rápida, as empresas têm de se concentrar em mercados mais comerciais”, lamenta.

No ano passado, Robert Opp começou a sua apresentação sublinhando que era “trágico” estarmos em 2017 e ainda falarmos de fome, mas a verdade é que o número de pessoas sem acesso a uma alimentação equilibrada e variada aumentou desde então e pelo terceiro ano consecutivo.

Em 2017, as Nações Unidas (ONU) referiam 815 milhões de pessoas com deficiências alimentares, mas a organização actualizou recentemente o número para 821 mil milhões.

O mundo ficou, assim, mais longe de atingir até 2030 o segundo objectivo de desenvolvimento sustentável proposto pela ONU, erradicar a fome, mas Robert Opp continua optimista. “Penso que a fome é um problema que não precisa de existir neste momento. Nós produzimos comida suficiente para toda a gente no mundo. Há um problema de distribuição e os problemas da pobreza, das guerras, das alterações climáticas, de desastres naturais, se nós quiséssemos resolvê-los, conseguiríamos [fazê-lo]”.

O Programa Alimentar Mundial tem uma incubadora de startups aberta a novas propostas para contornar o problema da falta de alimentação e tentar contrariar a cadeia de inovações mais frequente. "Às vezes, vemos que a tecnologia e as novas ideias estão a ser aplicadas primeiro nos mercados. A nossa posição é que as pessoas [que estão a passar fome] não deviam ter de esperar que essas tecnologias cheguem ao contexto delas".