Áustria devolve cinco quadros raros de Gustav Klimt a herdeira de magnata judeu

Avaliados em mais de 150 milhões de euros, estavam num museu estatal em Viena desde o fim da II Guerra

O Estado austríaco vai devolver cinco das raras obras do pintor Gustav Klimt (1862-1918) à sobrinha e herdeira do magnata checo judeu Ferdinand Bloch-Bauer, que abandonou a Áustria após a invasão nazi em 1938.Os cinco quadros, que especialistas avaliam em mais de 150 milhões de euros, estiveram expostos no Museu do Belvedere, Viena, desde o fim da Segunda Guerra Mundial. A decisão de deixar as obras ao Estado austríaco foi expressa pela mulher de Bloch-Bauer, Adele, quando morreu em 1925 - no seu testamento declarava que deviam ser entregues ao Belvedere. Mas Ferdinand, no testamento aberto após a sua morte em 1945 na Suíça, deixava todos os seus bens aos sobrinhos, onde se inclui Maria Altmann, de 89 anos, que agora ficará dona dos quadros.
Em 1946, os familiares de Bloch-Bauer concordaram em que as obras do grande pintor austríaco ficariam para o Estado, mas Altmann, actualmente única herdeira e que fugiu para a Califórnia para escapar aos nazis, afirma que a família foi obrigada a ceder os direitos dos cinco quadros (entre os quais se destacam-se dois retratos de Adele) e que o Estado austríaco a enganou.
Está agora em dúvida o futuro das obras - Altmann poderá ter que vender uma ou mais para pagar as despesas deste processo judicial. A herdeira afirmou na segunda-feira à televisão austríaca que gostaria que os quadros permanecessem no país. Pelo menos, foi firme quanto a não os querer em instituições privadas, apesar de declarações do seu advogado Stefan Gulner em que era aflorada a possibilidade de os levar para galerias nos Estados Unidos.
Gerbert Frodl, director do Belvedere, afirmou à agência APA que o seu museu gostaria de adquirir alguns: "Adele I e O Beijo são certamente os quadros mais importantes de Klimt", acrescentou. No entanto, a ministra da Cultura, Elisabeth Gehrer, afirmou que a Áustria não tem capacidade para comprar os quadros, e citou informações dos media segundo as quais só Adele I, também conhecido como Adele dourado, poderia valer para cima de 70 milhões de euros. "Setenta milhões de euros equivale ao orçamento para todos os museus públicos da Áustria. Isto significa que não temos capacidade para fazer compras, mas manteremos contactos [com os representantes de Altmann]. Talvez algum patrocinador, ou a própria família, permita um empréstimo."
Nesta mesma ocasião, Gehrer reconheceu que a Áustria vai efectivamente devolver as obras. Termina assim uma longa batalha iniciada em 1999, quando Maria Altmann, que vive em Los Angeles, processou o Estado austríaco num tribunal de Viena, mas rapidamente mudou as diligências para outro tribunal, desta feita em Washington, devido aos elevados custos das diligências legais na Europa. A Áustria questionou a competência de um tribunal norte-americano, mas o Supremo Tribunal dos Estados Unidos decidiu em 2004 a favor de Altmann. Assim, o Governo austríaco e Maria concordaram em apresentar o caso a uma comissão arbitral de Viena, que agora anunciou a sua decisão, não passível de recurso, favorável à única herdeira viva de Bloch-Bauer.
Este desfecho está a levantar muitas questões na Áustria, pois toca tanto nas relações entre o Estado e as obras de arte de judeus mortos ou que escaparam dos nazis, como no que significa a perda e possível saída do país de obras emblemáticas de nomes grandes da arte austríaca.

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