Os seis lobos de Leomil eas 103 ventoinhas na serra

As histórias de lobos maus continuam a ouvir-se pela serra da Nave. Para a maioria da população é incompreensível que o parque eólico possa estar em causa por causa do impacto na preservação. "O mais importante são as ventoinhas." Quem conhece o terreno pede que se ponham no lugar dos animais: imaginem que vos metem um aerogerador no quarto. Em causa estão os seis lobos sobreviventes da alcateia de Leomil. Por Catarina Gomes (texto) e Adriano Miranda (fotos)

Um dia apareceu um lobito na Rochambana, o terreno da serra da Nave onde Teotónio Louvadeus passava os dias. Foi-lhe dando de comer e afeiçoaram-se um ao outro. E a convivência obrigou a que lhe desse um nome: ficou o Estudante, porque estava a aprender as lides "do bicho-homem". De tão habituado à proximidade humana, o Estudante abeirou-se um dia com menos cuidados da aldeia mais próxima e mataram-no à pedrada. Louvadeus ainda foi a tempo de lhe incendiar o cadáver, antes que os matadores fossem exibir pela aldeia o lobo-troféu pedindo esmola pela façanha e o serviço à comunidade, como era hábito.

Esta é apenas uma das muitas histórias de lobos passada nas Terras do Demo, assim baptizadas pelo escritor Aquilino Ribeiro, numa referência geográfica mais sentimental do que administrativa, porque tanto inclui aldeias localizadas no concelho de Vila Nova de Paiva como no de Moimenta da Beira, ambos no distrito de Viseu. Difere este enredo do lobito Estudante dos demais por ser ficção e estar nas páginas do romance de Aquilino passado na região, Quando os Lobos Uivam, e por dar deste animal boa imagem. Mas entre os mais velhos da região não há quem não tenha para contar uma história verdadeira com lobos, mas dos maus.

Em comum as histórias têm quase os mesmos traços: quem as conta saiu ileso por um triz, foi corajoso mas teve medo da feroz criatura que, já se sabe, "só traz prejuízos ao homem". Fernando, de Pêra Velha, lembra-se de estar "agachado", e curva-se em demonstração, quando viu passar um lobo, "chop, chop", eram as patas do bicho. Transido de medo, "bateu-me no pensamento que tinha comigo uma sombrinha na mão", abriu-a e "ele deu um ronco e levantou o rabo para cima do lombo". Foi a sua sorte. E ainda há aquela vez que, "em garoto", viu "passar uma manada de uns seis ou oito", e havia um senhor dono de uma cabra, que ainda é vivo e pode atestar, "que lhes berrou "ó bandidos"" e eles fugiram. "Ainda faz uns romances à minha custa", brinca.

Mas isso são histórias do passado, "de lobos ferozes", porque circula o rumor de que os que hoje andam pela serra "não são dos verdadeiros", porque são mansos e já não fogem das pessoas. A convicção está generalizada e a explicação é quase sempre a mesma: não são como os de antigamente porque "são lobos botados pelos "do ambiente", que os criam em cativeiro, e depois os soltam nos montes e os alimentam. São arraçados de cão". Querem provas?

"A mim não me tapam os olhos, já lá vi um com uma coleira", diz António Santana Aguiar, guarda florestal de Leomil. "Da Guarda para cá já botaram dois mil, foi o que ouvi", diz Augusto Jesus Ferreira, moleiro da aldeia de Ariz. Pensam, portanto, saber exactamente ao que andam "as meninas biólogas que passam tantas vezes num jipe" em direcção à serra de Leomil, ou serra da Nave, como é mais conhecida na região, dizem com ar conspirativo. Vão-lhes dar de comer.

Sara Pinto, uma das biólogas do Grupo Lobo, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, sabe desse mito e ainda tenta explicar às pessoas que é falso, que aqueles lobos são descendentes dos da sua infância, dos que pululam pelos livros de Aquilino, mas a crença está arreigada. "Em Portugal o lobo nunca foi reintroduzido, nem em nenhum país da Europa", explica a técnica, que está no terreno para estudar a actividade destes animais no âmbito do Plano de Monitorização do Lobo na área dos projectos eólicos das serras de Montemuro, Arada, Freita e Leomil, que é obrigatório por lei e que os promotores dos parques têm que realizar no processo de avaliação de impacte ambiental.

Os biólogos uivam

Será que estes lobos são mais mansos do que os antigos, como dizem as gentes? O que se pode aventar são meras hipóteses. "Imagino-me a ser lobo agora e há 50 anos. Eles acabaram por se habituar a um novo meio onde há mais pessoas do que havia e há carros", diz Sara Roque, também bióloga do Grupo Lobo, responsável pelo trabalho de campo. Quanto às coleiras, têm um emissor para lhes poderem seguir as movimentações, mas a técnica da telemetria só tem vindo a ser usada nos últimos anos, explica.

Não se sabe quantos lobos haveria nesta região, tem-se uma ideia de quantos serão hoje. Não são mais de seis os da alcateia de Leomil, mas este ano reproduziram-se, sinal de vitalidade, assim o provaram os uivos das três crias que responderam aos uivos simulados da equipa de biólogos - um dos métodos usados para monitorizar a existência de reprodução. "Eles sabem que nós não somos lobos, mas há técnicas que se treinam", explica Sara Roque, sem querer desvendar os segredos de um uivo eficaz.

Augusto e Arminda Jesus Ferreira não precisam de uivar para os ouvir, talvez por serem os mais remotos habitantes da aldeia de Ariz. Vivem no meio da serra, numa casa de granito onde não chega nem luz nem água canalizada e onde governam um moinho de água que ainda tem clientes. "Quando as máquinas da pedreira se calam os lobos começam. Todas as noites e madrugadas os ouço cantar o fado", conta Augusto. "Dizem que é para se juntarem uns aos outros, é como as pessoas", junta a mulher.

Prova da diminuição do número de lobos é a menor quantidade de histórias sobre avistamentos. "As crianças de agora - criaturas também raras em aldeias onde vivem sobretudo idosos - já não viram lobos", comenta Sidónio Clemêncio, presidente da Junta de Freguesia de Alvite. E mesmo quando se pergunta aos adultos quando viram um pela última vez a maioria tem que regressar à sua infância, alguns a umas décadas atrás. Mas que eles lá andam, lá andam. Só que os episódios já não são contados por quem os viu mas por quem sente os seus efeitos.

A Faustino Almeida Sousa, dono de uma vacaria em Pêra Velha, devoraram-lhe há dois anos "uma vaca coberta que estava num pasto com arame alto e rede malha 10 por 10. Só restou a carcaça". Não foi a primeira vez que aconteceu, mas só lhe pagaram esta última, dantes não sabia que quando eram comidas por lobos o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade os indemnizava. "A vaca valia 1500 euros, deram-me 580 euros e o dinheiro só veio dois anos depois do ataque", protesta, sentado no telhado de casa que está a reparar.

Arlindo Teixeira, pastor de um rebanho de 108 ovelhas em Leomil, conta que há três anos lhe comeram dez e no mesmo ataque mataram mais seis. Mas a história dele não acabou como a de Faustino. Responderam-lhe que "tinha sido um ataque de cães selvagens". Bem contratou um advogado, que lhe disse que tinha que haver testemunhas. "Se o lobo atacar na serra como é que eu arranjo testemunhas?"

Numa ronda pelos trajectos habituais da alcateia de Leomil, nesta serra de vegetação rasteira de giestas e montes que não sobem acima dos 900 metros, vemos atravessar-se à frente do jipe, não lobos, mas uma matilha de cães abandonados de várias cores e tamanhos. "Quando ando aqui sozinha na serra não tenho medo de encontrar lobos, mas tenho medo destes cães assilvestrados. Têm comportamentos imprevisíveis e podem atacar", confessa Sara Pinto. São cães abandonados que vivem no monte sem contacto com humanos.

Ao pastor Arlindo Teixeira ninguém o convence de que foram cães e não lobos a dar-lhe tamanho prejuízo. "Como é que têm coragem de dizer aquilo. Então cães selvagens deixavam-me as ovelhas naquele estado, rasgadas e meias comidas?" Arlinda e Augusto também adivinham o mesmo destino aos dois cães que lhes desapareceram na serra. "À cadelinha, arisca e pequenina, chamaram-lhe um figo", quanto ao maior, "o Mondego. Tive uma pena. Só encontrámos o espinhaço. Se pudesse ainda lhes chegava a roupa ao pêlo", confessa Augusto.

Já dizia Aquilino em 1954, no livro O Homem da Nave, que "o lobo é sempre responsável pelo que faz e pelo que não faz", lembrando uma notícia que saiu "nos jornais de Lisboa" que rezava "que um lobo corpulento devorou uma pastorinha quando apascentava o rebanho nas corgas da Nave". No dia seguinte houve rectificação: "a menina, à vista do lobo corpulento, fugiu".

Em boa verdade se diga "nunca se ouviu um lobo que comesse uma pessoa". Ainda assim, não se tem dúvidas de que é animal feroz e que, se dependesse das gentes locais, "sumia" da face da serra. Maria Alice Lopes Luís, de 73 anos, de Pêra Velha, tinha solução alternativa: "São animais ferozes que só põem medo, são maus. Que os ponham no jardim zoológico e quem nunca os viu que vá lá ver."

Perigo de extinção

Pelos "prejuízos" que dizem que o lobo traz é incompreensível, "não tem lógica nenhuma", confessa Faustino Almeida Sousa, o que anda nas bocas do mundo - que o parque eólico de 103 aerogeradores que está projectado para a região e abrange pelo menos 11 freguesias (do concelho de Moimenta da Beira e Sernancelhe) pode estar em causa por causa dos lobos, pelo impacto que pode ter na sua preservação.

O Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) deu parecer desfavorável à construção do parque eólico porque coincide com o território de três alcateias, a de Trancoso, Leomil e da Lapa - considerando-se que estas duas últimas têm "um papel determinante na sobrevivência da subpopulação do lobo a sul do Douro", podendo-se iniciar "de forma irreversível o desaparecimento do lobo desta região", lê-se.

Já a declaração de impacte ambiental, emitida em Outubro pelo gabinete do secretário de Estado do Ambiente, foi contra os pareceres desfavoráveis do ICNB e também da Autoridade Florestal Nacional e deu luz verde ao Parque Eólico do Douro Sul, com condicionantes. Da lista fazem parte "a eliminação e relocalização de aerogeradores", prevendo-se, por exemplo, distâncias mínimas de dois quilómetros dos "dois centros de actividade" da alcateia de Leomil, a reintrodução de presas silvestres na região, a dádiva de 0,5 por cento da receita anual para o Fundo do Lobo, obras interditas à noite e "período crepuscular" e na época de reprodução do lobo (de Maio a Outubro), entre outras. Está-se agora à espera que os operadores entreguem um relatório que incorpore no projecto as limitações.

Os condicionalismos impostos implicarão uma redução do projecto, mas as associações ambientalistas Quercus - Associação Nacional de Conservação da Natureza e o Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens (FAPAS) receiam que o impacto negativo sobre a alcateia ainda coloque em risco a sua sobrevivência e por isso admitiram, no mês passado, apresentar uma queixa à União Europeia. Consideram que "o Estado Português está a violar as directivas nacionais e europeias de protecção do lobo-ibérico", reportou a Lusa, uma espécie considerada em vias de extinção.

Se houvesse um referendo popular toda a gente votava pelo "sim às antenas", declara o presidente da Junta de Alvite. Veríssimo Aguiar, ex-presidente da Junta de Pêra Velha, até tem outra sondagem: "80 por cento da população diz que se lancem mas é os lobos à ribeira." Mais moderado, Faustino diz que há lugar para tudo. "A serra é grande e um lobo não precisa de muito espaço", e além do mais "eles habituam-se a tudo, como o homem".

"Nas ventoinhas que já funcionam há dois anos há lá lobos", comprova Arlindo Teixeira, sinal de que "eles andam na sua vida". E "o mais importante são as ventoinhas", diz o pastor.

A experiência acumulada de parques eólicos construídos no habitat do lobo permite já constatar que eles não desaparecem dos locais, "os lobos são muito fiéis ao seu território", mas a sua simples presença não significa que não haja impactes, sublinha Franscisco Álvares, coordenador científico do plano de monitorização que está a decorrer.

Outros estudos que avaliam os impactes dos parques eólicos permitem tirar já algumas conclusões. Francisco Álvares define assim a questão: o que aconteceria se lhe colocassem um aerogerador na sua sala de estar? E na sua cozinha? "Vai continuar a usar a sala e a cozinha, mas o seu uso vai alterar-se, até um limite." E se lhe pusessem um aerogerador antes no seu quarto? "Os lobos precisam de zonas com estabilidade e de zonas tranquilas para se refugiarem e se reproduzirem." Ou seja, com os parques eólicos há mais dificuldade na obtenção de alimentos, de caça, e na reprodução, o que pode levar à extinção de uma alcateia.

30 lobos a sul do Douro

No caso de Leomil é isso que pode estar em causa. Como estava inicialmente projectado, o parque abrangeria 60 por cento do território da alcateia, que anda pelos 150 a 200 quilómetros quadrados, e afectaria três dos quatro centros de actividade dos lobos, incluindo a zona onde se reproduzem, constata Francisco Álvares, que é biólogo do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto.

"Esta alcateia é muito especial", sublinha o biólogo. Mas quem são afinal os lobos de Leomil? Não serão mais de seis, três adultos, três crias. Das escassas dez alcateias que sobrevivem a sul do Douro, com um total de apenas 30 lobos, esta é uma das três que se reproduzem com maior regularidade. "São três fêmeas que estão a manter a população", que tem alta mortalidade. "São mais os que morrem do que os que nascem."

Não os viram a todos, não lhes deram nomes, nem os reconhecem se os vêem. "Eles aparecem tão pouco", diz. Os métodos científicos para estudar a presença do lobo prevêem sobretudo a prospecção de dejectos de lobos e depois a sua análise genética e foi também assim que chegaram àquele número: seis. "Esta é uma população isolada e frágil", porque não pode contar com animais vindos de Espanha, como acontece com os lobos a norte do Douro - onde vive a maioria, cerca de 50 alcateias que chegam a ter 12 lobos - e o Douro serve-lhes de barreira para o Norte de Portugal. "E mesmo as alcateias a sul do Douro ficaram fragmentadas a meio com a construção da A24."

O último Censo Nacional de Lobos de 2002-2003 aponta para cerca de 300 lobos em Portugal, de 63 alcateias; em Espanha serão cerca de dois mil. "Houve uma regressão brutal nos últimos 50 anos. Na década de 1930 ainda havia lobos às portas de Lisboa", recorda Francisco Álvares. Hoje estão limitados "às zonas mais montanhosas do Norte do país", mas a zona mais ameaçada e considerada prioritária para a conservação pela União Europeia é a sul do Douro, onde fica a alcateia de Leomil, nota.

Um lobo em cativeiro já chegou a viver 19 anos, mas qual é a esperança de vida de um lobo em liberdade em Portugal? Sara Roque responde que "não se conhece nenhum lobo selvagem que tenha mais de dez anos, mas estes já são grandes sobreviventes". Muitos lobos morrem atropelados e presos em laços que são colocados por caçadores furtivos como armadilhas para javalis. "Ficam presos e morrem com hemorragias internas. É uma morte horrível."

Depois há os tiros e os envenenamentos. Um idoso de uma aldeia local lembra o episódio de dois lobos que mataram uma cabra da aldeia mas não a comeram toda, puseram veneno na carne do animal e quando os lobos voltaram, para a acabar de devorar, morreram. "Foram vistos mais adiante."

Matar um lobo é proibido e dá pena de prisão desde 1990, mas nunca tal aconteceu, mesmo quando há provas, constata Francisco Álvares. O Estado não aplica a lei também do lado das compensações às populações: não devia ultrapassar os 60 dias até serem pagas, demoram às vezes anos. Há países que até cobrem os danos psicológicos dos donos pela perda de gado, como acontece na Suíça.

Uma das medidas que os promotores terão que tomar é a apresentação de "um plano de comunicação e sensibilização da população" para explicar às pessoas porque é que é preciso preservar o lobo e porque é que ele é importante "para o desenvolvimento da região". É preciso explicar que "não há lobos bons nem maus, são seres vivos que precisam de se alimentar", sublinha Franscisco Álvares. A avaliar pelas reacções, esta tarefa não parece fácil.

"Eu sou contra a bicharada", vocifera Maria Alice Lopes Luís, de 73 anos, e lembra o episódio da "desgraçada da égua" que há seis anos ficou "toda esmordicada e até teve que levar anestesia. Eu não quero os lobos, quero as antenas". Raul Gomes junta-se à conversa e pensa que "se haviam de matar a todos", e já agora juntavam-se-lhes também os javalis, "que lhe desfazem os lameiros. Não colhi nem um alqueire". E as raposas, que ainda anteontem "uma cortou a cabeça de uma galinha e veio enterrá-la à minha porta".

Em Pêra Velha, se levarem a sua avante e "as ventoinhas" forem colocadas lá na serra, vão conseguir construir um centro de dia para os velhos com o dinheiro do aluguer dos terrenos, prometeu o presidente da Junta de Freguesia de Pêra Velha, José Dias Lopes. Entretanto, ainda antes da luz verde do Governo ao parque eólico, já têm há dois anos um contrato assinado com os promotores e recebem por ano 12.500 euros, "até à construção". Com esse dinheiro e a promessa de muito mais - 10 mil euros por cada um dos 10 ou mais aerogeradores previstos - deu "para arranjar caminhos agrícolas e florestais, calcetar ruas, já fizeram duas pontes".

Na Aldeia de Nacomba, o dinheiro dado como certo já tem destino, "a igreja precisa de telhado novo", comenta Alfredo da Costa. "Aqui fazem-se todos os dias omoletes sem ovos. Tudo se faz no litoral, se até isto nos querem tirar, qualquer dia vamo-nos juntar aos milhares das cidades", reclama Ricardo Rocha, estudante de Direito de 23 anos, natural de Leomil.

Proprietário de um turismo rural no meio da serra de Leomil, os Moinhos da Tia Antoninha, Eduardo Rocha diz que perguntarem-lhe a ele se concorda com o novo parque eólico é como pedir "a opinião ao pai da criança". Quando era presidente da junta foi a ele que coube, há três anos, introduzir a energia eólica na região - uma das sete ventoinhas vê-se do vale onde ficam as casas de pedra para turistas.

A outra opção para obter rendimentos para a povoação era a instalação de mais pedreiras, lembra. "A serra está cheia de pedreiras que fazem buracos profundos e isso, sim, é definitivo", e ninguém as critica. "Eu optei por uma solução que não punha em risco as gerações futuras" e com o dinheiro "alargou os cemitérios, pavimentou ruas. Vocês, os da cidade, deviam inverter os papéis e ver o nosso lado".

O proprietário diz que é possível um equilíbrio e é pela preservação do lobo, tanto que começou este ano a organizar caminhadas temáticas sobre o lobo para os seus hóspedes, mas ainda "não despertou interesse por aí além", nota.

Mesmo a ideia de que os aerogeradores são poluição visual é polémica e lembra que há 12 anos, quando foi colocado o primeiro parque ali próximo, em Lamego, "toda a região fazia bicha para ir ver as torres". Maria Alice Lopes Luís, 73 anos, à espera de medir a tensão numa unidade móvel de saúde, diz que já foi ver as que já há em Leomil. "De noite vê-se luz e fica bonito, ao barulho a pessoa habitua-se."

Sentados ao sol em frente ao "vídeo bar Carvalho", em Alvite, estão dois homens num banco ao ar livre, com uma panorâmica dos sete distantes aerogeradores, os primeiros da região. Belarmino Trinta, boina na cabeça, boca com vestígios de dentes acastanhados, não tem dúvidas. Com ar contemplativo, olha em frente. "Acho-as bonitas. Umas ventoinhas estão paradas, outras giram, umas enrolam, outras param."

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