Um abraço robótico directamente no coração

Harvard está a ver nascer uma “luva” que promete ser um avanço “significativo” na biónica médica e devolver qualidade de vida (e salvar) a pacientes que sofreram paragens cardíacas.

Uma "luva" para manter o coração a funcionar

A biónica médica está em fase de transição de fora para o interior do corpo. Se há poucos anos nos espantávamos com um exosqueleto que restituía alguma mobilidade vertical a paraplégicos, agora uma equipa de cientistas está bem encaminhada na produção de uma “luva” robótica que servirá para recuperar os movimentos musculares de corações falhos.

Apesar de a aplicação em seres humanos ainda estar longe (falta “bastante” desenvolvimento, em particular na miniaturização dos componentes, antes de começarem os testes), a irlandesa Ellen T. Roche, que lidera a equipa de investigadores que publicou os resultados do projecto na edição de 18 de Janeiro da Science Translational Medicine, fala num avanço “verdadeiramente significativo”. Os ensaios em porcos mostraram que este mecanismo aumentava para cerca de 97% a capacidade de bombear sangue em corações a funcionar a 45%.

Feito de silicone, este robô “suave” adapta-se ao órgão como uma espécie de membrana suplementar – daí o epíteto com que foi apresentado à comunidade científica (“luva”) –, e mimetiza as sístoles e diástoles – um conjunto de actuadores distribuídos em anel, tal como os aros que mantêm coesas as aduelas dos barris, provoca expansões e contracções concêntricas; outro conjunto de actuadores faz o mesmo de forma helicoidal, num movimento comparável ao de uma toalha a ser torcida e, depois, desenrolada.

A explicação – assim como as comparações prosaicas – está na Harvard Magazine. A publicação da universidade norte-americana, onde Ellen T. Roche foi doutoranda, nota ainda que a “luva” tem o potencial necessário para substituir os actuais aparelhos de assistência ventricular (VAD, na sigla inglesa). Caso isso venha a acontecer, o risco de infecção deverá descer, uma vez que deixa de haver contacto de um objecto externo com o sangue.

Ellen T. Roche defende que o robô que está a desenvolver é “idealmente adequado para interagir com tecido mole e prestar um apoio que pode ajudar com o aumento da função, e potencialmente até com a cura e a recuperação” dos pacientes, cita a mesma revista. Harvard já pediu o registo de patente nos EUA e está “activamente” à procura de oportunidades para a comercializar.

Em Portugal Continental, o número de pessoas que sofreram enfartes agudos do miocárdio apresentou uma ligeira tendência de subida entre 2010 e 2014, segundo os dados do último relatório da Direcção-Geral de Saúde – de 12.460 para 12.960. Desses, morreram 1171 e 1070, respectivamente. Ainda assim, os acidentes vasculares cerebrais (AVC) continuam a ter mais peso do que o enfarte, tanto no número de casos como na mortalidade.

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