Partilha de dados é crucial para o desenvolvimento de cidades inteligentes

Responsável europeu estima que plataforma online possa alterar a paisagem tecnológica no espaço de uma década.

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"Tecnologia está na cabeça das pessoas", disse um membro do Governo Foto: Pierre-Philippe Marcou/AFP

O desafio foi lançado a empresas e municípios em Setembro de 2014 pela Comissão Europeia (CE). Para as start-up, o objectivo passava por utilizar os dados fornecidos pelos municípios para resolver problemas urbanos. Aos municípios pedia-se que conseguissem recolher e tornar disponíveis informações sobre problemas detectados pelos seus serviços para que fosse possível encontrar soluções. No fundo, trata-se de promover o desenvolvimento das cidades inteligentes com base na Firware, uma plataforma online promovida por Bruxelas. Passado pouco menos de ano e meio do lançamento da plataforma, o fi@Coimbra, que decorreu entre terça e quarta-feira em Coimbra, teve como finalidade reunir todos os elementos da linha de montagem das cidades inteligentes – start-up, municípios e fundos de investimento – para os colocar em contacto.

Como explicou aos jornalistas o coordenador executivo do Instituto Pedro Nunes (IPN), onde decorreu o encontro, Nuno Varandas, o objectivo passa por “disseminar a tecnologia de Fiware em Portugal”. Em Coimbra, o chefe da Unidade de Inovação da Direcção-Geral das Redes de Comunicação, Conteúdos e Tecnologia da CE, Jesus Villasante, considera mesmo que a Fiware “pode mudar a paisagem tecnológica em 5 ou 10 anos”. O responsável europeu justifica a previsão ao afirmar que “o computador do futuro é a internet”.

Na sessão onde estiveram presentes 54 start-up europeias (15 das quais portuguesas) que fazem o seu trabalho com recurso ao desenvolvimento desta tecnologia em rede, Villasante identificou quatro componentes que constroem o conceito de cidades inteligentes: a recolha de dados em tempo real, a abertura de dados e a disponibilização da chamada big data, conectividade de dados entre os serviços da cidade e um ecossistema que favoreça a inovação.

A CE já disponibilizou 80 milhões para investir nesta plataforma e, de acordo com o dirigente europeu, há mil start-ups a desenvolver aplicações que a estão a utilizar, sendo que 150 trabalham em aplicações para tornar as cidades mais inteligentes. Na competição entre regiões e cidades para atrair os mais qualificados, a Fiware pode fazer pender a balança para o lado do ”declínio” ou da “inovação”, assinalou o espanhol.

Como explica a organização, “é uma espécie de cloud onde estão disponíveis servições e aplicações no mesmo formato” que “permite a criação e distribuição de aplicações e serviços web em grande escala de forma fácil e a baixo custo”.

O IPN, incubadora de empresas de Coimbra, é responsável pelo Soul-Fi, uma das 16 aceleradoras europeias de desenvolvimento que tem por base essa plataforma tecnológica que, por sua vez, cria soluções informáticas que poderão ser utilizadas pelas empresas para criar produtos sem custos acrescidos.

Dos 80 milhões e euros financiados pela CE, coube ao Soul-fi distribuir 5 milhões, beneficiando 120 empresas. No que toca a Portugal, o Soul-fi financiou 23 empresas, num total que ultrapassou os 1,2 milhões de euros afirma Nuno Varandas, 600 mil dos quais foram aplicados na Região Centro. 

Das 54 empresas presentes no fi@Coimbra, várias já beneficiam deste apoio. A aplicação utilização prática das ferramentas criadas são várias e têm impacto directo em áreas como a qualidade de vida dos cidadãos. Por exemplo, uma das aplicações desenvolvidas permite emitir avisos em tempo real sobre a qualidade ambiental das cidades, permitindo alertar indivíduos com doenças respiratórias. O mesmo pode acontecer com o ambiente sonoro ou com outra aplicação que permite facilitar a gestão entre vários departamentos ou áreas dos municípios.

Do lado das start-ups, os principais entraves estão bem identificados. A escassez de informação disponibilizada pelos municípios faz com que estas pequenas entidades tinham dificuldades em encontrar soluções à medida dos concelhos.

Já do lado dos municípios, as promessas são de melhorar o acesso aos dados. Num painel em que estava previsto o contributo do município de Coimbra – que devido a alterações no programa por motivos não especificados pela organização acabou por não participar – os representantes de Lisboa, Porto, León e Valladolid reconheceram a utilidade em abrir parte dos dados em tempo real produzidos pelos seus serviços.

O vereador lisboeta com o pelouro dos sistemas integrados, Jorge Máximo, admite que o município não tem um site com dados aberto e fala na necessidade de o fazer. O vereador aponta ainda para o desenvolvimento de um Centro de Operações integrado, que reúna “os principais indicadores de gestão e monitorização em tempo real da cidade, que possa ser gerida numa sala pelos principais serviços da câmara”, indicando a sua conclusão para “antes do final do mandato”.

Já Paulo Calçada, responsável pela área da inovação da Câmara do Porto, deu o exemplo do concurso Desafios Porto, lançado pela autarquia para financiar até 50 mil euros empresas que solucionem problemas da cidade, como algum do trabalho desenvolvido nessa área.

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