O que têm a banca e Kim Dotcom em comum?

Uma tecnologia criada de forma obscura há quase dez anos está a ser cada vez mais usada. E começa a chegar ao sector bancário.

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Kim Dotcom quer regressar à ribalta com ajuda da blockchain Reuters/Nigel Marple

Esta semana, seis bancos de vários países decidiram juntar-se a um sistema concebido pelo suíço UBS para criar uma espécie de divisa digital que funcionará na mesma tecnologia em que assenta a bitcoin e várias outras destas chamadas criptodivisas. O objectivo é facilitar as transacções entre instituições bancárias, permitindo que estas sejam feitas sem a necessidade de intermediários.

A adopção da tecnologia não será um processo rápido. O projecto do UBS  – ao qual se juntaram agora os britânicos Barclays e HSBC, o Credit Suisse, o Canadian Imperial Bank of Commerce, o japonês Mitsubishi UFJ Financial Group, e o americano State Street – deverá estar a funcionar algures no final do próximo ano, e apenas de forma limitada. Ainda assim, é um sinal da atenção com que o sector bancário está a olhar para uma tecnologia criada há dez anos por alguém que é conhecido apenas por um pseudónimo, e que está associada a múltiplas actividades ilegais: desde o pagamento de resgates informáticos até à lavagem de dinheiro. Para além disso, um dos objectivos da bitcoin era ser uma alternativa aos sistemas financeiros tradicionais, incluindo os serviços prestados pelos bancos.

A tecnologia da bitcoin chama-se blockchain, um termo que este ano tem vindo a ser frequentemente referido na imprensa, mas que não entrou discurso corrente. Em suma, é uma base de dados distribuída: todos as partes ligadas à mesma rede têm a sua cópia da base de dados. As transacções (como os pagamentos e transferências feitos em bitcoins) são agregadas em blocos e, através de um processo matemático, os computadores ligados à rede validam essas transacções e acrescentam-na à base de dados.

No caso particular das bitcoins, o computador (ou grupo de computadores) que processar primeiro um bloco de transacções, contribuindo assim para o bom funcionamento do sistema, é recompensando com bitcoins. Trata-se de um complexo processo de descentralização: não só as transacções são guardadas de forma distribuída, sem que haja necessidade de depositar confiança numa entidade (como uma empresa de processamento de cartões bancários), como há uma moeda que é “emitida”, mas não por um banco central.

A banca parece não querer ter grande relação com as bitcoins em si, mas está interessada naquela tecnologia (ou, pelo menos, em parte dela). Não é a única. Empresas do sector farmacêutico e dos transportes têm-se mostrado abertas ao uso de blockchains. Recentemente, surgiu na Estónia a ideia de criação de uma destas criptodivisas a nível nacional, muito embora seja uma hipótese mais remota do que muitas notícias levaram a crer. O objectivo não é substituir o dinheiro convencional, mas antes criar uma espécie de fundo de investimento aberto aos cidadãos. E, também esta semana, o excêntrico empresário Kim Dotcom (que há anos luta na Nova Zelândia contra a extradição para os EUA), anunciou um serviço com base em sistemas de blockchain. A ideia é que as pessoas partilhem ficheiros recorrendo a esta tecnologia e possam cobrar pequenos montantes em bitcoins. 

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