O Facebook vai continuar a viver no tempo do cinema mudo – mas terá legendas

A rede social mantém-se na perseguição ao YouTube, o ubíquo serviço do Google que domina o sector nos vídeos e que está, por sua vez, a tentar conquistar espaço ao Netflix e ao Spotify.

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O consumo de vídeo na Internet continua a crescer – e, em 2017, deverá atingir os 69% do tráfego online gerado por utilizadores comuns, de acordo com as previsões da multinacional Cisco, especializada em produtos e serviços tecnológicos. O resto do ano dirá se o valor está correcto. Certa, para já, é a tendência de subida – que deve continuar até aos 80% em 2019.

Os últimos anos têm sido de concorrência apertada entre Silicon Valley, Seattle e Nova Iorque. Tanto que as propostas de cada gigante tecnológico são cada vez mais semelhantes. O Facebook tenta ganhar terreno ao YouTube e ao Snapchat; o YouTube vira-se para os vídeos por subscrição para desafiar a HBO e o Netflix, tal como a Amazon, que já estava a investir para conseguir uma fatia das receitas publicitárias que YouTube (sobretudo) e Facebook arrecadam com a imensidão de vídeos amadores que todos os dias são publicados nos seus sites. 

Talvez tenha reparado: em Dezembro, o Facebook lançou uma ferramenta que permite, à imagem do que acontece com o Snapchat, aplicar filtros, molduras ou ilustrações às fotografias partilhadas via Messenger. Agora, imita um pouco mais o YouTube: na quarta-feira ficámos a saber que a rede social vai passar a usar um software de reconhecimento de voz para sugerir legendas automáticas para os vídeos em inglês. A sugestão pode ser aceite ou editada.

O Facebook introduziu o autoplay em 2013 e – observa o Techcrunch – “fez o mundo regressar à época do cinema mudo”. Os vídeos são imediatamente reproduzidos assim que nos cruzamos com eles no feed. Sem som, sem intervenções, sem narração. Alguns meios – entre os quais a BBC – começaram por isso a legendá-los, para captar a atenção de quem os vê em locais ou situações em que só é conveniente continuar a fazê-lo em silêncio.

Captar a atenção é essencial. Há cerca de um ano, o Facebook tinha um registo de 100 milhões de horas de vídeo vistas por dia na sua rede social. As estimativas para o YouTube eram de 650 milhões – e nada menos do que uma taxa de crescimento anual de 60%. Em 2017, os números devem ser maiores, mas não sabemos como evoluiu o intervalo entre os dois concorrentes. Qualquer que ele seja, em Palo Alto sabe-se que não bastam os poucos segundos de autoplay que se amealham em cada vídeo para ombrear com os 40 minutos por sessão que cada utilizador gasta no YouTube.

As legendas servirão para gerar interesse e travar o scroll. O Facebook não quer utilizadores indiferentes ao vídeo. Outra prova disso mesmo são os vídeos em directo que é possível agora fazer na rede social e que a aproximam, em certos casos, das tradicionais emissões de televisão (por cá, a jovem Tomar TV começou até a fazer noticiários em directo no Facebook).

O YouTube, por seu lado, está a voltar-se para a nova televisão: se o Netflix já entrou no vocabulário corrente dos consumidores de séries e filmes, e se o Amazon Prime Video chegou em Portugal a Dezembro para alargar a oferta, 2017 será o ano em que – segundo o Telegraph – o mais recente investimento de monta do serviço de vídeo do Google, o YouTube Red, chegará à Europa. Com um plano de expansão que não inclui apenas a concorrência no sector do streaming pago de vídeo, mas também no da música. O Spotify que se cuide.

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