Na Coreia do Sul "fazer nada" é um desporto

A ideia surgiu em 2014 e pretende alertar para a falta de tempo para relaxar e desligar completamente de tudo o que nos rodeia.

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Os batimentos cardíacos são medidos a cada 15 minutos e o concorrente mais relaxado vence a competição Jung Yeon-Je/AFP

Num mundo com horários cronometrados ao milionésimo de segundos, de selfies a registar cada momento, de actividades extracurriculares e de corridas matinais, a Coreia do Sul destaca-se ao promover um evento cujo objectivo é ficar parado. Parece o sonho de qualquer procrastinador e está a conquistar os sul-coreanos, mas o objectivo é criar uma discussão maior sobre a necessidade de relaxar.

A ideia da Space Out Competition surgiu pela primeira vez há dois anos e desde então evoluiu para um concurso que envolve um painel de jurados e sujeita os participantes a regras muito restritas.

Não é permitido falar, sorrir, utilizar qualquer tipo de tecnologia, comer, adormecer ou sequer consultar o relógio. Caso o façam os concorrentes são desqualificados. O objectivo é garantir que todos estão completamente relaxados durante os 90 minutos da competição.

De 15 em 15 minutos, o batimento cardíaco é registado e quem mantiver a valor mais estável é entendido como o concorrente mais relaxado e, por isso, o vencedor do concurso.

WoopsYang, a organizadora do primeiro evento citada na Vice, explica que a ideia surgiu do seu próprio estado de ansiedade. “Estava a sofrer síndrome de Burnout [um distúrbio precedido de um esgotamento nervoso] e ficava extremamente ansiosa se estivesse sentada sem fazer nada, sem ser produtiva de alguma forma”, conta. “Pensei para mim mesma que seria mais fácil não fazer nada se o fizéssemos em grupo”. E avançou com a ideia em 2014.

Mais do que um concurso, a competição pretende alargar a discussão e alertar para o excesso de trabalho. bem como para os benefícios de fazer uma pausa, quer seja para processar informação, quer para criar memórias.

O evento mais recente ocorreu numa tarde de domingo, em Maio deste ano, e reuniu 70 participantes, seleccionados de um grupo de dois mil inscritos, no parque Ichon Hangang, em Seul, capital da Coreia do Sul. A escolha do parque também não foi por acaso. WoopsYang explica que o escolheu para evidenciar o contraste entre o grupo de pessoas “a fazer nada” e o caos que as rodeia.

Além disso, a organizadora incentiva a que cada um vá vestido como se fosse para o trabalho, quer seja de fato e gravata, uma bata de laboratório ou uniforme, para mostrar como o excesso de stress afecta qualquer pessoa e que todos beneficiam de uma pausa.

Na Coreia do Sul, mais de 80% dos cidadãos têm smartphones e o vício do mundo digital é visto como um sério problema, escreve o jornal britânico The Guardian. Além disso, os números mostram ainda que os sul-coreanos são das populações com mais elevados níveis de stress.

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