Nova tecnologia põe telefones do século XIX a tocar

Uma aplicação de realidade aumentada quer convencer as pessoas a sair de casa e ir ao Museu das Comunicações ver peças de arqueologia industrial a funcionar.

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A aplicação permite ao visitante apontar o dispositivo para peças e aceder a informação Miguel Manso
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Miguel Manso

O Herrmann – com um buraco no centro, e dois longos tubos a sair dos lados – é um dos objectos mais estranhos em exposição no Museu das Comunicações, em Lisboa.

Desde Maio, porém, basta apontar a câmara do smartphone a este objecto peculiar para resolver o mistério: imagens aparecem em frente ao Herrmann no pequeno ecrã e vê-se um homem a gritar para a caixa com os tubos nos ouvidos. Está e falar com alguém que está longe. Afinal, a caixa é um dos primeiros modelos de telefones fixos, inventado pelo português Maximiliano Herrmann em 1880.

A viagem no tempo através do telemóvel faz-se graças a uma nova aplicação de realidade aumentada, uma tecnologia em que imagens digitais se sobrepõem a imagens do mundo físico (e que tem sido usada em muitos museus). É a mais recente táctica do museu para “dar vida” ao passado: basta apontar o tablet ou smartphone a algumas peças para os visitantes desbloquearem informação extra.

“Queríamos passar do museu do 'ah' para o museu do 'ahhh'”, explica ao PÚBLICO Teresa Salema, membro do conselho executivo do museu, durante uma visita guiada, “Um museu tem de ser mais que um conjunto de objectos. Cada vez mais, tem de transformar-se num ambiente envolvente que permite ver como as coisas aconteciam antes.”

A experiência começou o mês passado com o lançamento de uma aplicação grátis para Android e iOS que permite aceder a 20 experiências de realidade aumentada ao longo da exposição permanente Vencer a Distância: Cinco séculos de comunicações em Portugal.

Uma das vantagens parece ser colocar “peças de arqueologia industrial” – como descreve Salema – a funcionar novamente. É o caso da primeira máquina de separação automática do correio em Portugal, que chegou do Japão em 1975. Há anos que o aparelho – com cerca de três metros de largura, muitas rodas e engrenagens – está imóvel, mas agora os visitantes podem vê-la a trabalhar, ainda que no ecrã telemóvel.

“Antes, era impossível. Esta máquina já não tem manutenção possível, mas o vídeo faz uma ponte com o passado” explica Salema. “É uma das únicas formas de chegar aos mais novos. Permite-nos trazer elementos de fora que não é possível mostrar no museu.” No futuro, o plano passa também por levar as experiências de realidade aumentada para fora, aos monumentos que fazem parte das visitas ao bairro organizadas pelo museu.

“A ideia é ter sempre novas novidades e tornar o museu vivo”, diz ao PÚBLICO Eduardo Vieitas, o director executivo da IT People, a empresa que desenvolveu a aplicação. “A realidade aumentada obriga-me a vir ao local e ter uma experiência lá. O objectivo é levar as pessoas a sair de casa. É uma das virtudes da realidade aumentada. O museu daqui a seis meses será diferente. Existirão experiências novas e conteúdos diferente, ou pelo menos apresentados de forma diferente.”

Para já, o conceito de realidade aumentada no museu assenta em vídeos. “Sim, há muitos,” admite Salema “Tem a ver com a riqueza de informação que tínhamos disponíveis e que podíamos facilmente utilizar. Isto só começou há algumas semanas. Temos sempre melhorias e estamos sempre a aprender com o que nos dizem.”

“Acima de tudo, é uma experiência individual que parte do ecrã de cada pessoa", conclui. "É uma história que não se impõe aos visitantes. Vêem-se os vídeos que se querem, ao ritmo de cada um”.

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