Registo de compras offline leva Google a ser alvo de queixa nos EUA

Em alguns casos, o email do cliente é suficiente para as marcas associarem compras feitas em loja com a visualização de publicidade online, mas a falta de transparência do processo levantou preocupações de privacidade.

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O Google diz conseguir seguir até 70% de transacções feitas com cartões nos EUA Reuters/Francois Lenoir

A empresa Google é novamente acusada de violar a privacidade de milhares dos utilizadores do seu motor de busca. Desta vez, o problema é a nova ferramenta de publicidade que associa as compras feitas em lojas, com cartão, ao historial de Internet das pessoas. A denúncia foi feita pelo Electronic Privacy Information Centre, um centro de investigação que se debruça sobre questões de privacidade e conhecido pela sigla EPIC.

A ferramenta problemática, que está a funcionar nos Estados Unidos, em fase experimental, desde Maio, foi criada pela Google para ajudar os comerciantes a perceber a eficácia das suas campanhas de publicidade online, ao seguir a navegação de um utilizador (nos vários dispositivos e através de aplicações e plataformas de pesquisa, vídeo ou redes sociais). Para o serviço de medição de vendas funcionar basta que os comerciantes obtenham a informação de email dos clientes na altura das compra em cartão, por exemplo, através da subscrição de um programa de pontos ou de fidelização. A partir daí, a Google deve conseguir associar compras feitas em cartão, nos Estados Unidos, com a publicidade da marca que é vista na Internet.

Apesar de a Google dizer que o processo é anónimo e não afecta  privacidade dos clientes, não especifica como. A falta de transparência no processo levou aquele centro a pedir à autoridade da concorrência americana, a Federal Trade Comission, que investigue o serviço. “Os dados recolhidos podem revelar informação sensível sobre as compras, saúde e vida privadas dos utilizadores”, lê-se na queixa submetida nesta segunda-feira, que relembra como a Google admitiu, na apresentação do serviço, que consegue seguir cerca de 70% das transacções em cartões de crédito ou débito nos Estados Unidos através de parcerias com terceiros, incluindo bancos.

De acordo com a Google, o processo depende de fórmulas matemáticas que convertem os nomes das pessoas e outra informação sobre a compra (como o valor, a localização e a data) em números aleatórios e anónimos. Para o EPIC, porém, a privacidade dos consumidores não pode depender de um algoritmo secreto: “A Google diz que pode preservar a privacidade do consumidor ao correlacionar os anúncios vistos com compras em loja, mas recusa-se a revelar – ou autorizar testes independentes – da técnica que o torna possível.”

O centro de investigação pede ao regulador que investigue o algoritmo que a Google utiliza para determinar se este protege devidamente a privacidade de milhares de consumidores americanos, e obrigue a empresa do motor de busca a criar uma forma fácil de os utilizadores impedirem a sua navegação de ser seguida, caso queiram. Pretende também que a empresa revele a identidade dos parceiros que recolhem os dados sobre as transacções.

A Google não emitiu um comunicado sobre o assunto, mas em declarações à estação de radio norte-americana NPR diz que todos os utilizadores têm um “controlo robusto” dos dados, e podem impedir a Google de seguir a sua navegação através das definições da sua conta. E relembrou que o novo serviço de medição de vendas ainda está numa fase inicial e que, por enquanto, apenas funciona com alguns comerciantes com publicidade online nos Estados Unidos.

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