Cinco sugestões de leitura: da opinionite ao funeral de Estaline

Cinco jornalistas do PÚBLICO deixam sugestões de trabalhos que vale a pena ler, ver ou ouvir na imprensa internacional.

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Jeff Roth, o guardião do arquivo morto do NY Times New York Times
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Imagens inéditas do funeral de Estaline Radio Free Europe

 

Jornalismo, passado, presente e futuro

NY Times/Prensa Libre/Washington Post

 

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Tiago Luz Pedro, director-adjunto

De uma penada, três boas razões que nos mostram como o jornalismo de hoje continua tão revelante como no passado sem perder de vista o futuro. A primeira é uma viagem ao arquivo morto do New York Times, descrito nesta notável peça de Stephen Hiltner como "a morgue" do histórico título norte-americano. São dezenas de milhões de recortes de imprensa e perto de cinco milhões de imagens que ainda não têm existência digital e que representam, só por si, um repositório único das múltiplas histórias que fazem a História da grande nação americana. O seu guardião é Jeff Roth. Vale a pena conhecê-lo.

Mais a Sul, um mergulho em 360 graus direito ao lado negro da Guatemala, neste caso a partir do trágico incêndio que a 8 de Março deste ano matou 41 raparigas que viviam num lar à guarda do Estado. O diário Prensa Libre esteve lá e o que nos traz é um relato ao mesmo tempo íntimo e avassalador das condições humilhantes em que ali se vivia e que prenunciavam a tragédia no Hogar Seguro Virgen de la Asunción. Tem áudio. Tem vídeo. E tem sobretudo muita, muita densidade.

E porque o jornalismo é cada vez menos relato e cada vez mais explicação (e contexto, e problematização), nada como espreitar esta análise em formato multimédia — cortesia do Washington Post — que desconstrói a política de imigração da nova Administração Trump à luz dos principais desafios migratórios que o país enfrenta actualmente. São as novas narrativas digitais que o Post da era Jeff Bezos quer liderar.

De uma penada, Jornalismo. Assim mesmo, com "J" grande. Passado, presente e futuro.

A que soa o vento?

Guardian

 

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Mário Lopes, jornalista de cultura

Há quem corra o mundo para percorrer velhas linhas ferroviárias e deliciar-se com a paisagem que a janela aberta para o mundo lhes oferece. Há quem procure infatigavelmente as águas mais cristalinas e mais recheadas de vida subaquática, do Pacífico ao Atlântico, dos atóis do Belize ao Grande Recife de Coral australiano, para nelas mergulhar demoradamente. Há quem procure vida selvagem, quem colecione as setes maravilhas do mundo antes de adicionar mais maravilhas e continuar a coleccioná-las. Há, em resumo, quem muito viaje para procurar quase tudo. E depois há Tim Dee.

Produtor de rádio durante quase três décadas, Tim Dee, como se imagina, sabe um par de coisas sobre som. E há um em particular que o intriga há muito. Tim Dee é fascinado pelo som do vento. Ornitólogo desde muito jovem, habituou-se a ficar parado, em silêncio, atento a tudo o que o rodeia, à espera que o pássaro desejado se revelasse. Habituou-se a ouvir. Ouvir a sério. Ouvir aquilo que a cidade, os aparelhos electrónicos e demais parafernália moderna não nos deixa ouvir.

Tim Dee habituou-se a ouvir o vento. Apaixonou-se pelo som do vento. Ou melhor, pela sinfonia que a terra cria quando o vento a atravessa. O vento, mais ou menos intenso, é sempre o mesmo, o que cria o som que ouvimos e que lhe associamos é o embate que sofre ao encontrar uma falésia rochosa, um prado verdejante, um pinheiro gordo de tanta caruma.

Depois de anos maravilhado com essa orquestra natural, Tim Dee fez a si mesmo uma pergunta: a que soa o vento quando é só vento e nada mais que vento? Depois, foi procurar a resposta. Ler

 

A opinionite, e a falta de vacina

The Conversation

 

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Paulo Pena, grande repórter de Política

Este texto já não vai para novo, mas a graça de só o ter lido agora devo-a às redes sociais. Explico a graça: o texto chama-se “Não, nem toda a gente tem direito à sua opinião”, e acabo de vê-lo no Facebook, o santuário da banalidade opinativa. Tem ainda outra graça: fala de vacinas. Diz o autor, o filósofo Patrick Stokes: “Ninguém pode impedir ninguém de dizer que as vacinas causam autismo, por muito que essa crença tenha sido desmentida.  Mas se por ‘ter direito a uma opinião’ entendemos ‘ter direito a ver as suas convicções tratadas como candidatas sérias a uma verdade’, então é bastante claro que se trata de uma falsidade.” O Senhor Palomar, de Italo Calvino, dizia ter um remédio para a opinionite. Mordia a língua três vezes e só soltava a opinião se, apesar da dor da trinca, aquela ainda estivesse ali, cheia de vontade de sair. Eu aconselho o livro de Calvino. Mas para já gostava muito que lessem este texto. Ler

Pensar sobre o que fazemos sem pensar

NPR

 

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Aline Flor, jornalista do P24

Como é que a "bolha" em que vivemos define a forma como vemos o mundo? Porque é que quando precisamos muito de alguma coisa acabamos por "fazer tudo ao contrário"? As pessoas são complexas e diversas, mas há inúmeros padrões que nos são comuns nesta grande experiência de se ser humano. No podcast Hidden Brain, todas as semanas aprendemos um pouco mais sobre como o nosso cérebro e as nossas vivências moldam aquilo a que cada um chama de “realidade”.

O apresentador Shankar Vedantam, jornalista de ciência da NPR, conduz as entrevistas a especialistas de áreas como a psicologia, a sociologia e a economia, que explicam diversos fenómenos do comportamento humano. E não faltam depoimentos de pessoas que passam por situações com as quais qualquer um consegue identificar-se.

Para ouvir, descobrir e pensar melhor sobre o que fazemos (quase) sem pensar. Ouvir

A União Soviética de Estaline ressuscitada

Radio Free Europe

 

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Manuel Louro, jornalista do online

O major Martin Manhoff viveu na antiga União Soviética durante dois anos, no início dos anos 50, enquanto desempenhava funções de adido militar na embaixada dos EUA em Moscovo. Durante esse período, até ser expulso do país devido a acusações de espionagem em 1954, criou um arquivo de fotografias, vídeos e registos escritos que captaram com uma profundidade e qualidade inigualável o quotidiano da União Soviética de Estaline. Durante todos estes anos os arquivos mantiveram-se desaparecidos até que foram descobertos por um historiador de Seattle. Agora, a Radio Free Europe teve acesso exclusivo a todos os registos e divide-os em quatro partes. A primeira, e talvez a mais interessante do ponto vista histórico, revela imagens inéditas do funeral de Josef Estaline em Moscovo. As restantes vão do desenvolvimento da capital russa à viagem ao coração do país através do transiberiano. No final, uma pergunta: Manhoff, espião ou artista? Ler

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