Tinta em spray transforma objectos em superfícies sensíveis ao toque

Uma camada de tinta condutora pode transformar mesas, guitarras e volantes em superfícies sensíveis ao toque. Os investigadores dizem que a tecnologia também pode funcionar na pele humana.

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O sistema está ainda longe de ser um produto acabado Electrick
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O volante com a tinta condutora aplicada Electrick

À falta de um rato, objectos como guitarras, portas, ou volantes do carro servem para navegar um computador. Afinal, basta uma lata de spray de tinta condutora (algo que custa cerca de 14 euros) para transformar qualquer objecto numa superfície sensível ao toque, passível de ser lida por um sistema informático. Uma equipa de cientistas da Universidade de Carnegie Mellon, nos Estados Unidos, apresentou a descoberta esta semana, durante uma conferência dedicada à exploração da interacção entre homem e máquina. 

 “Queríamos desenvolver uma técnica para incorporar sensores de toque nos objectos do quotidiano. Tinha de ser a baixo preço, para se poder utilizar em massa”, explica  ao PÚBLICO Yang Zhang, o investigador principal do projecto.

O ecrã de um smartphone funciona graças a uma pequena carga eléctrica que é interrompida cada vez que se toca naquela superfície. A interferência do utilizador na corrente eléctrica dita a forma como o telemóvel responde ao toque.

A equipa percebeu que podia recriar o processo ao adicionar um condutor eléctrico a outros objectos, através da simples aplicação de uma camada de tinta condutora. São colocados oito eléctrodos para delimitar a zona de toque. Depois, desenvolveram um sistema informático – chamado Electrick – para ler as mudanças de electricidade ao longo da nova superfície.

Os ecrãs sensíveis ao toque já estão em todo o lado: no smartphone que temos no bolso, nas caixas automáticas do supermercado, etc.. A novidade é que a descoberta pode tornar a sua produção em massa mais barata, e esta interacção deixa de estar maioritariamente associada a superfícies planas. O sistema desenvolvido por Zhang poderá significar um custo de um dólar por metro quadrado de superfície sensível ao toque.

Para já, o projecto ainda está na fase de investigação, mas Zhang espera que a apresentação na conferência desta semana desperte o interesse de empresas interessadas em integrar a técnica na produção de objectos em massa. A técnica também deve permitir testar mais facilmente protótipos com capacidades de interacção ao toque. 

“Ao introduzir a interacção via toque em novos tipos de objectos, o Electrick vai ajudar os utilizadores a terem um melhor acesso aos recursos informáticos”, diz Zhang. “O touchpad [a superfície incorporada em portáteis que serve de rato] criado com o Electrick não é diferente do de um portátil normal”.

Como os objectos a que a tinta é aplicada não incluem ecrãs, o movimento dos dedos tem de ser lido noutro dispositivo (por exemplo, um computador), ou o objecto tem de ser programado para realizar acções muito simples. Por exemplo, pode-se abrir a porta da garagem ao deslizar a mão pelo volante, ou ligar e desligar as luzes ao tocar na mesa. “Após a percepção de toque do objecto estar activa graças ao Electrick, um programador pode desenvolver aplicações", esclarece Zhang.  

O processo também se pode aplicar à pele humana: ou seja, um braço poderá ser programado como um comando de televisão. “Com camadas suficientes de tinta sobre a pele, é possível transformar uma porção da pele humana num área sensível ao toque”, confirma Zhang quando questionado. Acrescenta, porém, que é pouco práctico: “Tem que se ter uma camada isoladora entre a pele e a camada de tinta conectora. Vai-se acabar por ter uma camada de tinta muito grossa sobre a pele, o que pode ser intrusivo.”

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