Há um algoritmo a aprender no Twitter os truques do sarcasmo

Os investigadores treinaram o algoritmo através de emojis utilizados na rede social: o objectivo é ajudar a combater o racismo, abusos e discriminação.

Foto
Na escrita, os emojis substituem a entoação e movimentos corporais REUTERS/Jon Nazca

É fácil encontrar comentários sarcásticos nas redes sociais, e com cada vez mais agentes de inteligência artificial a serem criados para rever as publicações nestes sites (com a Wikipédia, o Google e o Facebook a utilizar este tipo de tecnologia para identificar e eliminar conteúdo impróprio), uma equipa de investigadores do MIT, nos Estados Unidos, decidiu criar um algoritmo que usa inteligência artificial para detectar frases sarcásticas no Twitter. Chama-se DeepMoji.

O investigador principal, Bjarke Felbo, explica que o truque foi utilizar emojis (os famosos bonecos amarelos) para o educar: “Queríamos estudar o racismo e os insultos nas redes sociais, mas percebemos que os métodos tradicionais não conseguiam detectar o calão moderno. Então, virámo-nos para os milhões de emojis utilizados nas redes sociais para ensinar o nosso modelo de inteligência artificial a perceber a gíria moderna”, disse Felbo ao PÚBLICO.

Para os investigadores, os bonecos amarelos são ideais, porque são frequentemente utilizados para substituir o papel da entoação ou dos movimentos corporais numa frase escrita. “Os emojis nem sempre usam uma forma directa e linear de ilustrar conteúdo emocional. Por exemplo, um emoji positivo pode servir para esclarecer uma frase ambígua”, escrevem.

Entre Janeiro e Junho de 2017, a equipa seleccionou uma porção de 1200 milhões de tweets em inglês que continham frases sarcásticas e uma combinação dos 64 emojis mais populares a partir de uma selecção inicial de 55 milhões de publicações (foi a parte mais morosa do processo). Foram usados para treinar o algoritmo a perceber que emojis é que representavam diferentes emoções nas mensagens – como tristeza, humor, felicidade, vergonha –, e a perceber, por exemplo, que podia haver sarcasmo em mensagens com palavras associadas a sentimentos de felicidade e que tinham também emojis zangados.

“Desta forma o nosso modelo não aprende apenas palavras, apende frases inteiras. Isto ajuda-o a perceber que, por exemplo, ‘Adoro limpar casas de banho!’ é uma frase irónica. Este tipo de compreensão do calão moderno é essencial para captar insultos nas redes sociais”, diz Felbo. "O nosso método pode ser utilizado para treinar um algoritmo a detectar sarcasmo em qualquer língua com publicações suficientes no Twitter. Por exemplo, o espanhol, português, indonésio e francês são todas línguas em que isto é fácil."

O algoritmo já é melhor que alguns humanos a detectar sarcasmo: em testes contra voluntários humanos recrutados online, o DeepMoji conseguiu acertar na identificação de publicações sarcásticas 82% das vezes, enquanto os voluntários apenas acertaram em 76% dos casos. Os investigadores criaram um site em que os utilizadores podem contribuir para a investigação ao anotar os seus próprios tweets com emoções (porém, o conteúdo inserido é todo revisto pelos investigadores para evitar que alguns utilizadores legendem mal os seus tweets para confundir o algoritmo). O site também mostra a capacidade que o DeepMoji tem em identificar as emoções, com o programa a legendar as frases dos utilizadores com emojis.

Os investigadores acreditam que o trabalho mostra como os programas informáticos estão a ficar gradualmente melhores a decifrar as emoções humanas. Além de ajudar a combater comentários ofensivos, detectar as emoções associadas a uma publicação nas redes sociais pode ser útil para perceber a reacção dos utilizadores a um determinado terma ou marca.

“Os emojis ajudam a inteligência artificial a perceber as nuances nas frases: por exemplo um emoji com óculos de sol serve para dizer que alguém se sente ‘cool’, enquanto o diabinho dá a ideia de que alguém está a ser engraçado”, diz Felbo.

Sugerir correcção
Comentar