Fazer design gráfico não é (só) fazer coisas bonitas!

O designer não inicia um projecto, espero eu, com ideias preconcebidas. As suas ideias são o resultado do pensamento subjetivo e objetivo, e a solução visual é um produto da ideia.

No passado dia 27 comemorou-se um pouco pelo mundo inteiro o World Graphics Day, ou seja, o Dia Mundial do Design Gráfico. E é nestes momentos que gosto sempre de reafirmar que o design gráfico não é uma coisa! Não é (só) fazer coisas bonitas.

A escala do que projectamos de facto mudou. Alterou-se. Cresceu. Transformou-se de produtos, para empresas, de empresas para sistemas económicos.

Já não projectamos para utilizadores solitários, mas sim para uma rede intimamente ligada de pessoas. No entanto cada vez mais se valoriza a noção de individuo. E o design gráfico (ainda) tem uma palavra a dizer.

Isto pode parecer arrogante, e eu sou suspeito pois grande parte da minha formação base foi em design gráfico, mas o design gráfico é a base de todo o design visual. Estes novos profissionais que ganharam o título de user interface designer ou user interaction designer têm que ser na sua génese... excelentes designers gráficos. Digamos que estes profissionais têm uma dimensão digital, tecnológica que o designer gráfico não tem. Melhor, estes profissionais são designers gráficos com dimensão tecnológica.

Posso até afirmar, mais uma vez de forma presunçosa que os processos de design, com mais ou menos tecnologia se mantêm.

O designer não inicia um projecto, espero eu, com ideias preconcebidas. As suas ideias são o resultado do pensamento subjetivo e objetivo, e a solução visual é um produto da ideia.

Para se conseguir uma solução séria e eficaz, necessariamente passa-se por algum tipo de processo mental... conscientemente ou não, analisa, interpreta, traduz, improvisa, inventa novas técnicas e combinações.

Para fazer coisas bonitas, mas úteis, o designer gráfico intensifica e reforça os seus símbolos com acessórios apropriados para obter clareza e interesse. Baseia-se no instinto e na intuição. Considera o espectador, os seus sentimentos, as suas preferências, os seus quereres e as suas crenças.

Segundo o designer Mark Boulton, “fazer design gráfico não é ter um devaneio criativo que se materializa num grafismo, num boneco giro!” O processo de criação de um novo sistema visual requer pesquisa, prototipagem, observação e storytelling. Só no último momento envolve o "gráfico" no design gráfico.

Mas é este “gráfico” que nos prende, que nos delicia, mas que tem que nos ajudar, senão o “gráfico” não cumpre o seu objectivo.

Com o advento tecnológico “prender” o leitor torna-se mais angustiante, mas rapidamente o designer e os seus “gráficos” chegam a mais gente, a mais público.

Segundo Mark Boulton, “tornar a internet bonita” pode ser um belíssimo objectivo para os designers gráficos. É um mundo novo e ousado de experimentação, enquanto se luta para enfrentar a “rede”. Nos anos 90 muitos designers muito rapidamente saltaram para o HTML, uns com sucesso outros acabaram por regressar às suas origens. A web era um lugar difícil naquela época. Nada funcionava como se esperava, e havia outras pessoas envolvidas - arquitetos de informação, produtores de conteúdo, pesquisadores. Se o design historicamente era uma actividade solitária, o design para a web acabou por tornar-se uma prática multidisciplinar.

Para além da variável tecnológica há uma outra que o mundo digital nos trouxe de modo mais agudizado: o tempo, a dimensão efémera da comunicação, dos “gráficos”. Mais e mais infirmação, mais e mais canais de distribuição, tudo num só local: na internet.

Podemos rematar em jeito de conclusão e afirmar que uma boa peça de design gráfico terá que obedecer a três premissas: durabilidade, utilidade e beleza.

A pergunta que faço é se o que andamos a fazer enquanto designers gráficos, com esta nova dimensão altamente tecnológica, respondem a estas três premissas: se são úteis, se vão conseguir perdurar no tempo e se intensificam a percepção de beleza!

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