Facebook acusado de silenciar minoria étnica na Birmânia

Muitos rohingya vêem o Facebook como a única forma de denunciar as injustiças de que são alvo, mas a rede social está a apagar publicações e define um dos grupos como uma "organização perigosa".

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Milhares de rohingya são obrigados a fugir para Bangladesh devido à perseguição pelo Exército birmanês LUSA/STRINGER

Um grupo de activistas que documenta atrocidades contra os muçulmanos rohingya na Birmânia está a acusar o Facebook de apagar publicações sobre o tema na rede social, e suspender as contas de utilizadores da minoria étnica sem explicação. A comunidade dos rohingya é alvo de perseguição na Birmânia há anos devido às suas crenças (a maioria da população birmanesa é budista), e o governo do país não os reconhece como cidadãos oficiais.

Muitos rohingya vêem a Internet – especialmente, redes sociais como o Twitter e Facebook – como a única forma de denunciar as injustiças de que são alvo, e contactar com expatriados. Mas o site Rohingya Blogger – um dos principais polos de informação sobre a comunidade – acusa o Facebook de os tentar silenciar. A informação foi inicialmente avançada numa reportagem do site Daily Beast.

Um autor do site Rohingya Blogger a viver na Europa confirmou a informação ao PÚBLICO. “Muitas publicações no Facebook foram removidas. Oiço muitas histórias de muitos rohingya. E eu recebo ameaças diárias dos birmaneses”, disse Nay San Lwin, que também utiliza o Twitter para partilhar informação sobre a situação no país.

Desde 2012, que conflitos mortais entre a comunidade budista e muçulmana no estado do Arracão, Birmânia, (onde vive a maioria dos rohingya) têm obrigado os muçulmanos a fugir da região que consideram a sua nação. Recentemente, os confrontos entre um grupo de militantes da comunidade muçulmana e o Exército birmanês culminaram em centenas de muçulmanos rohingya mortos e desalojados. Mais de 410 mil membros da comunidade foram obrigados a fugir para a vizinha Bangladesh. Em Setembro deste ano, as Nações Unidas descreveram a perseguição à minoria rohingya como “um exemplo perfeito de limpeza étnica”.

“Milhares de utilizadores birmaneses do Facebook enviam queixas para encerrar a minha conta. Até fizeram um vídeo a explicar como é que se denuncia a minha conta”, acrescentou Nay San Lwin. Embora o Facebook não seja responsável pelas denúncias que recebe, o activista do Rohingya Blogger acredita que a rede social emprega pessoas que têm algum preconceito contra a comunidade.

O Facebook não respondeu aos pedidos de informação do PÚBLICO a tempo da publicação desta notícia, mas um porta-voz citado pelo Daily Beast diz que o Facebook está consciente do problema. “Queremos que o Facebook seja um sítio onde as pessoas podem partilhar informação de forma responsável, e esforçamo-nos muito por atingir o balanço correcto entre permitir uma experiência segura e respeitosa”, disse Ruchika Budhraja, no comentário enviado à publicação. “Em resposta à situação na Birmânia, estamos a rever atentamente os nossos padrões da comunidade.”

O Exército de Salvação de Arracão (ARSA) – um grupo formado recentemente que diz defender os direitos da minoria rohingya e a quem foram atribuídos ataques recentes a postos da polícia e da guarda fronteiriça birmanesa – está entre a lista de organizações que o Facebook considera "perigosas” depois do governo birmanês o caracterizar como um “grupo terrorista” a 27 de Agosto. A rede social, porém, diz que a decisão se baseou apenas nos ataques violentos associados ao grupo.

"O Facebook devia estudar melhor quem são os ARSA e se são mesmo um grupo terrorista. Na área internacional são referidos como um grupo militante ou freedom fighters. Estou desiludido porque acredito que o Facebook tomou a decisão errada", queixa-se Nay San Lwin. "Mas independentemente do estatuto da organização, ainda deviamos ter o direito de falar sobre os ARSA e sobre aquilo que dizem."

As regras actuais da rede social proíbem publicações sobre ou a favor de organizações que estão associadas a terrorismo, assassinatos em massa, ódio, violência e crime organizado. Em declarações ao Daily Beast, outros activistas que escrevem sobre os problemas na Birmânia também disseram que o Facebook elimina as suas publicações sobre a violência que acontece no estado do Arracão repetidamente.

Os activistas não pretendem abandonar a rede social. “Muitas pessoas dependem da informação da minha conta”, explicou ao PÚBLICO Nay San Lwin. As queixas, diz, querem apenas chamar atenção à eliminação de conteúdo da sua conta e da conta de Mohammad Anwar, outro activista.

O autor do Rohingya Blogger está confiante. “O outro dia recebi um pedido de desculpas da equipa do Facebook por ter acidentalmente apagado uma das minhas publicações”, diz Nay San Lwin. “E agora que a sede do Facebook foi informada da situação a partir do artigo lançado no Daily Beast, acredito que as coisas vão melhorar.”

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